O Moreirense podia ser mais um Serzedelo
Manuel Machado, técnico que há 15 anos guindou o clube à Liga – e ainda detém a melhor classificação entre os “grandes” – vibrou com conquista da “Champions” dos "cónegos" e aplaude visão de Augusto Inácio.
Na primeira passagem pelo Moreirense, em 2013, Augusto Inácio falhou por muito pouco a missão de salvar o clube de uma “morte” anunciada, ao perder o último jogo da época no Estádio da Luz (depois de ter ido em vantagem para o intervalo). Só assim se percebe que nesta segunda tentativa de resgate dos “cónegos”, quando todos rejubilavam, pensando apenas em celebrar a conquista do troféu mais importante da história do clube, o treinador tivesse travado a euforia com uma ordem anticlímax, mandando os “heróis” para banhos e massagens.
Manuel Machado – o treinador e o sócio – aplaude a decisão e pega nesta imagem para explicar a razão do sucesso do clube que ajudou a colocar no mapa do futebol profissional com duas subidas de divisão e dois títulos de campeão (II Liga e II Divisão) consecutivos no início do século XXI, e que atribui à visão e gestão do actual presidente.
“Quando cheguei a Moreira de Cónegos, o clube vivia um momento menos bom. Tinha sido despromovido à II Divisão e impunha-se uma reformulação. A direcção precisava de repensar a estratégia e adoptou a via da retracção financeira. Ainda assim, construímos um plantel que teve sucesso. Em dois anos estávamos pela primeira vez na I Divisão, com dois títulos nacionais”, recorda, em declarações ao P2, o técnico que ainda hoje detém o recorde de pontos na I Liga e a melhor classificação de sempre do clube no escalão máximo: um nono lugar com 46 pontos, a dois da zona europeia.
“Depois de um primeiro ano muito difícil, com o investimento direccionado para as infra-estruturas – o estádio tinha uma bancada e o campo de treino era um pelado –, em que lutámos pela permanência até à última jornada, conseguimos o ponto de equilíbrio. Com mais meios, construímos uma equipa mais forte. Tanto que ficámos a dois pontos do sexto lugar, que garantiria a Europa”, enfatiza, explicando o que faltou. “Só não o conseguimos porque não tínhamos feito a pré-inscrição [nas provas da UEFA] e optámos por dar a oportunidade a alguns jovens na última jornada, em Aveiro. Ainda estivemos a vencer por dois golos, mas empatámos”, nota Manuel Machado, que no final assumiria, juntamente com Vítor Magalhães, novo projecto no V. Guimarães, deixando em aberto a questão sobre o que seria o Moreirense se presidente e técnico tivessem permanecido.
Para essa pergunta, o treinador de 61 anos não tem resposta, mas há uma garantia que deixa: “O Moreirense só é o que é por causa desta lógica de gestão implementada pelo presidente. Desde então, desportivamente o clube desceu e subiu. Hoje está entre os grandes, mas o estádio, a iluminação, os sintéticos e toda a obra feita permanece. Sem essa política o Moreirense seria, provavelmente, mais um Serzedelo”, sublinha, orgulhoso por ter vivido quatro anos de grande crescimento.
Quando olha para a conquista da Taça CTT, Manuel Machado assume a alegria pela obtenção de um “marco fantástico”. “Para o Moreirense foi realmente a Champions, como disse o Augusto Inácio… e não vejo que esteja mal escolhida a imagem. Bem como a sobriedade na hora de quebrar um momento de euforia para trazer a equipa de volta à realidade, acabando com a festa para recuperar os jogadores. A Taça da Liga é fantástica, mas é momento. A permanência é o mais importante para o futuro do clube”.