Brincar com as cidades?

Quando na estação são instaladas, nas escadas, teclas de piano associadas ao seu respectivo som, rapidamente passam a funcionar como um incentivo para o uso das escadas. Talvez por isso se explore cada vez mais o conceito de "gamificação"

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Nabil Rama/Unsplash

Transformar cidades implica mudar comportamentos. Mas será que estamos disponíveis para isso?

Na verdade todos somos bastante resistentes à mudança, pois é tão mais fácil agir como de costume e manter os hábitos que fomos criando ao longo do tempo. Uma das chaves para a transformação comportamental pode estar nos incentivos e recompensas que nos possam fazer sentir mais úteis e aumentem a nossa auto-estima.

Pensar que o cidadão altera a sua postura face ao espaço urbano apenas por altruísmo é uma ideia romântica e atractiva, mas que pode não corresponder à realidade.

Talvez por isso sejam vários os actores que exploram o conceito muito em voga de "gamificação". Este “palavrão” um tanto ou quanto assustador (por vezes, com ar menos sério) deveria ser desdramatizado e o seu conceito integrado de forma simples e eficaz no dia-a-dia das nossas cidades. Na verdade, e sem pretender dar uma explicação científica sobre o assunto, trata-se de adoptar processos de estímulo e recompensa tradicionalmente aplicados aos jogos (do inglês "game"), que se espera levem a transformações comportamentais. Estes são mecanismos que nos fazem alterar hábitos de forma lúdica sem que, muitas vezes, tenhamos que entender a total dimensão da transformação que estamos a operar nas nossas vidas e na da cidade.

São inúmeros os projectos que podem ser mencionados, mas há alguns, que de forma muito simples, permitem um melhor entendimento desta abordagem. Quando na estação de metro de Odenplan em Estocolmo são instaladas, nas escadas, teclas de piano, associadas ao seu respectivo som, rapidamente passam a funcionar como um incentivo para o uso das escadas (aumentando em 66% a sua utilização), substituindo a forma mais sedentária como nos movemos através de escadas rolantes ou elevadores.

E se quando separássemos o lixo ganhássemos pontos que pudessem ser convertidos em serviços, prémios ou descontos? Ou se quando desenhamos apps para os turistas das nossas cidades associássemos a visita a um local mais recôndito com um desconto na pastelaria do lado que por sua vez teria criado um novo doce adequado ao tema? Então estaríamos a desenvolver a economia local, a promover o turismo criativo e ainda a transformar hábitos.

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