Cidades inteligentes: feitas por pessoas, para pessoas

Se, por um lado, conseguimos uma maior eficiência na gestão de processos, há, por outro lado, uma necessidade crescente de envolvimento das comunidades e de preocupação com o impacto social do uso da tecnologia

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Tim Gown/Unsplash

Somos constantemente confrontados com dados referentes ao aumento da população nos aglomerados urbanos, apontando para um claro risco de sustentabilidade dos mesmos. Num mundo no qual mais de metade da população vive em zonas urbanizadas, governos e cidades parecem preocupar-se, cada vez mais, em definir novos caminhos para fazer face às transformações e desafios que enfrentam diariamente. As cidades querem tornar-se Inteligentes!

Com a evolução das tecnologias de informação e comunicação (TIC), são colocadas à nossa disposição novas ferramentas de monitorização de múltiplos parâmetros e de gestão de processos complexos. Em simultâneo assistimos à perda de alguns laços tradicionalmente essenciais para a coesão e o bem-estar sociais dentro das cidades, uma alteração que não implica o êxito na criação de novos modelos de relação.

Se, por um lado, conseguimos uma maior eficiência na gestão de processos, há, por outro lado, uma necessidade crescente de envolvimento das comunidades e de preocupação com o impacto social do uso da tecnologia. Por isso, vai já longe o tempo em que falávamos de Cidades Inteligentes imaginando um cenário fantástico repleto de drones e ciborgues à semelhança de um qualquer filme futurista dos anos 90.

Mas como são então trabalhadas estas novas soluções “Inteligentes”? E qual o tipo de “Inteligência” desenvolvido? Sempre que ouvimos falar de “smart cities”, em conferências, feiras e através de soluções ditas inovadoras, são maioritariamente equipas com uma forte componente tecnológica que se pronunciam e apresentam produtos. Não há, nesta minha afirmação qualquer crítica à tecnologia que considero incontornável na vida quotidiana de uma grande parte da humanidade: veja-se o caso da utilização de telemóveis nas nossas relações pessoais e profissionais ou a rápida adoção de sensores no ambiente que nos rodeia, estimada atingir números na ordem dos 25 mil milhões, em 2020. O que é relevante neste caso é que, numa era em que falamos diariamente de multidisciplinaridade, ela parece não abranger tantas disciplinas quantas as necessárias para a construção sólida da cidade do futuro.

Continuamos a associar “Inteligência” à inteligência computacional fornecida pelas máquinas e esquecemo-nos claramente da Inteligência colectiva, da emocional e de outros tipos de inteligência que são essenciais para um funcionamento equilibrado da sociedade. É essencial entender que a inovação acontece na fronteira entre as várias disciplinas científicas, sociais, artísticas e tecnológicas, requerendo um envolvimento activo de todas. Há um caminho claro a percorrer na criação de uma consciência de responsabilidade colectiva, que implica uma maior actividade, comunicação e integração de conceitos de áreas como a Engenharia, a Arquitectura, o Urbanismo, as Ciências Sociais e as áreas criativas em geral, para que desempenham um papel primordial no desenho dos espaços urbanos.

Os cidadãos são já, muitas vezes, uma peça relevante no desenho das cidades estando envolvidos em processos participativos diversos (por exemplo através dos conceitos de Living Labs), mas há que reforçar o papel dos actores políticos na promoção de um ambiente transformador da cidade pela inovação.

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