O mundo em que o fascismo triunfou

Com a Amazon Prime disponível, os portugueses já podem ver a primeira temporada de O Homem do Castelo Alto, um exercício de história alternativa em que o Japão e a Alemanha ganharam a II Guerra Mundial.

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A história alternativa é um exercício popular na ficção. Pode ser sobre um mundo em que Abraham Lincoln era caçador de vampiros, uma América em que Watergate nunca existiu e onde Richard Nixon é um Presidente perpétuo (Watchmen), ou uma Hill Valley decadente em que Biff Tannen ganhou milhões em apostas (Regresso ao Futuro II). Mas nenhum cenário alternativo é tão explorado como aquele em que as potências do Eixo ganharam a II Guerra Mundial. Em O Homem do Castelo Alto, os Aliados perderam a guerra e os EUA foram partidos ao meio, uma metade dominada pelo Japão imperial, a outra pela Alemanha nazi. É um mundo novo, um mundo em que o fascismo triunfou.

Com o serviço Amazon Prime Vídeo disponível em Portugal desde meio do mês, já é possível ver a primeira de duas temporadas da adaptação televisiva desta distopia imaginada por Philip K. Dick, que também criou o universo que daria origem a Blade Runner. Como a Amazon entrou também no negócio do streaming para fazer concorrência à Netflix, também se meteu pelos conteúdos originais, produzindo uma série de episódios-piloto e colocando-os à votação dos utilizadores do site. Os mais votados avançam para temporadas completas. Este O Homem do Castelo Alto, que tem o dedo de Ridley Scott (que realizou Blade Runner) foi o episódio-piloto mais visto da história da Amazon.

O ponto de viragem deste universo alternativo é a morte de Franklin Delano Roosevelt antes de acontecer a II Guerra Mundial. Em consequência, os EUA isolam-se do mundo, entram demasiado tarde na guerra e acaba por não haver ninguém que trave o avanço das potências do Eixo. O Japão avança pela Ásia, os nazis dominam a União Soviética e provocam a capitulação norte-americana (e dos Aliados) ao lançarem uma bomba atómica sobre Washington. O mundo fica dividido pelas duas superpotências, mas os dois aliados não se dão propriamente bem e a luta pela sucessão a Adolf Hitler como chanceler do Reich pode conduzir o mundo de novo para a guerra.

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O Homem do Castelo Alto segue a premissa de Philip K. Dick, mas o romance (que é relativamente curto e não teve sequelas) não é seguido de forma canónica e há detalhes relevantes que quem leu o livro vai perceber que são diferentes na série (tem a ver com o tal homem que vive no castelo e com um misterioso filme clandestino que mostra uma história alternativa a esta história alternativa). A série aproveita bem o conceito de história alternativa para nos dar mais detalhes plausíveis de como o mundo poderia ter sido e, neste sentido, a apresentação visual deste universo é um enorme triunfo. Vemos e reconhecemos a América de Leste a Oeste e, no entanto, vemos o sol nascente e a suástica por todo o lado, das bandeiras alternativas às garrafas de cerveja e laranjada – estes símbolos alternativos foram, aliás, foco de grande polémica, utilizados na promoção da série a cobrir os assentos de um comboio inteiro do metro de Nova Iorque.

Este é mundo em que os soldados abatem pessoas na rua, em que os campos de extermínio são uma realidade comum e em que as pessoas se cumprimentam com um sieg heil, em que a tecnologia está de tal forma avançada que já se fala de missões a Marte (a acção passa-se nos anos 1960). Há uma resistência à ditadura, há intriga política, espionagem, misticismo oriental, drama familiar e uma história de amor. Não sendo uma produção recheada de “estrelas” de primeira grandeza (o britânico Rufus Sewell e o japonês Cary-Hiroyuki Tagawa serão os nomes mais familiares), O Homem do Castelo Alto é uma admirável construção de um mundo que nada tem de admirável.

Notícia corrigida às 15h50: em Portugal só está disponível a primeira temporada de O Homem do Castelo Alto

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