Filipinas

O que pensam os filipinos sobre a guerra contra as drogas de Duterte

"Talvez haja outra solução em que as pessoas não precisem de morrer", disse Cristine Angelie Garcia, operadora de call center de 24 anos. "Estou do lado de Duterte. Talvez ele não esteja a ser compreendido porque cresceu nas ruas" Reuters/EZRA ACAYAN
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"Talvez haja outra solução em que as pessoas não precisem de morrer", disse Cristine Angelie Garcia, operadora de call center de 24 anos. "Estou do lado de Duterte. Talvez ele não esteja a ser compreendido porque cresceu nas ruas" Reuters/EZRA ACAYAN

O Presidente das Filipinas, Rodrigo Duterte, tomou posse há sete meses, e desde então já foram mortas mais de 6 mil pessoas no âmbito da sua prometida guerra para erradicar as drogas do país. Cerca de um terço das mortes - de toxicodependentes e alegados traficantes - resulta de operações policiais. Acredita-se que o restante aconteça às mãos de cidadãos organizados em grupos de vigilantes, que Duterte se recusa a condenar. “Se conhecerem alguns viciados, vão em frente e matem-nos vocês próprios, já que obrigar os pais a fazê-lo seria demasiado doloroso”, disse Duterte, um dia depois de tomar posse. Nas ruas de Manila e de outras cidades do país é frequente encontrar corpos de pessoas embrulhados em fita adesiva com cartazes em que se lê “Sou um traficante”.

Em Setembro, o líder filipino comparou a guerra contra as drogas nas Filipinas ao Holocausto, provocando choque e revolta entre comunidades judaicas de todo o mundo. “Hitler massacrou três milhões de judeus”, começou por dizer Duterte. “Existem três milhões de toxicodependentes [nas Filipinas]. Ficaria feliz em massacrá-los.” Este mês, o chefe de Estado admitiu ter matado pessoalmente suspeitos de tráfico de droga enquanto era presidente da câmara de Davao e defendeu a reintrodução da pena de morte nas Filipinas, para passar a executar “cinco ou seis” criminosos por dia. As propostas do Presidente filipino têm gerado revolta e indignação entre os responsáveis católicos e diversas organizações não-governamentais do país, incluindo as Nações Unidas, e mesmo junto de alguns países, como os Estados Unidos. Contudo, de acordo com o instituto de investigação filipino Social Weather Stations, Duterte tem níveis de popularidade "muito bons" na sociedade filipina. Ao percorrer as ruas de Manila, o fotojornalista da Reuters Ezra Acayan tentou perceber qual era a opinião dos filipinos sobre Duterte. São mais os que o apoiam do que os que o criticam. 

"A quantidade de casos para arquivar no escritório diminuiu. Estou agora mais focado em educar as pessoas e na prevenção", disse Ronaldo David, polícia de 49 anos
"A quantidade de casos para arquivar no escritório diminuiu. Estou agora mais focado em educar as pessoas e na prevenção", disse Ronaldo David, polícia de 49 anos Reuters/EZRA ACAYAN
"No início gostávamos de Duterte, mas com o passar do tempo comecei a questionar o que ele estava a fazer. Todas as pessoas dispostas a mudar são mortas, nem sequer têm hipótese de se justificarem às autoridades" disse Rosalina Perez, 41 anos, cujo irmão foi morto durante uma investigação policial
"No início gostávamos de Duterte, mas com o passar do tempo comecei a questionar o que ele estava a fazer. Todas as pessoas dispostas a mudar são mortas, nem sequer têm hipótese de se justificarem às autoridades" disse Rosalina Perez, 41 anos, cujo irmão foi morto durante uma investigação policial Reuters/EZRA ACAYAN
"Gosto que ele seja muito rígido. Não há crianças a vaguear por aí e também evitam-se maus hábitos", disse Weng Ruda, 36 anos, mãe de três crianças
"Gosto que ele seja muito rígido. Não há crianças a vaguear por aí e também evitam-se maus hábitos", disse Weng Ruda, 36 anos, mãe de três crianças Reuters/EZRA ACAYAN
"As crianças estão mais seguras agora. Os pais costumavam acompanhar os filhos à escola mas, depois de Duterte, deixam-nos ir sozinhos", disse Zainab Omar, professora de 41 anos
"As crianças estão mais seguras agora. Os pais costumavam acompanhar os filhos à escola mas, depois de Duterte, deixam-nos ir sozinhos", disse Zainab Omar, professora de 41 anos Reuters/Ezra Acayan
"O que ele está a fazer é bom, deu emprego a muitas pessoas e elas estão felizes. Só não sei sobre as famílias [dos mortos]. Se isso é bom para elas...", disse o arrumador de carros Graciano De Leon, 19 anos
"O que ele está a fazer é bom, deu emprego a muitas pessoas e elas estão felizes. Só não sei sobre as famílias [dos mortos]. Se isso é bom para elas...", disse o arrumador de carros Graciano De Leon, 19 anos Reuters/Ezra Acayan
"Tenho pena das famílias dos que foram mortos, especialmente aqueles que realmente não estavam envolvidos em crimes. Foram mortas muitas pessoas inocentes, quando deviam apenas ter sido presas", disse Marianito Navarra, de 54 anos, vigilante de aldeia
"Tenho pena das famílias dos que foram mortos, especialmente aqueles que realmente não estavam envolvidos em crimes. Foram mortas muitas pessoas inocentes, quando deviam apenas ter sido presas", disse Marianito Navarra, de 54 anos, vigilante de aldeia Reuters/EZRA ACAYAN
"Essas pessoas [toxicodependentes] estão a lutar pelas suas vidas. Precisam da nossa ajuda e nós devemos ajudá-las", disse Bobby Dela Cruz, sacerdote católico e ex-toxicodependente
"Essas pessoas [toxicodependentes] estão a lutar pelas suas vidas. Precisam da nossa ajuda e nós devemos ajudá-las", disse Bobby Dela Cruz, sacerdote católico e ex-toxicodependente Reuters/EZRA ACAYAN
"Apoio totalmente Duterte. Ele é o único presidente que está a lutar contra os traficantes de droga e outros sindicatos no nosso país", disse José Cecilia, 51 anos, dono de uma empresa de camionagem
"Apoio totalmente Duterte. Ele é o único presidente que está a lutar contra os traficantes de droga e outros sindicatos no nosso país", disse José Cecilia, 51 anos, dono de uma empresa de camionagem Reuters/EZRA ACAYAN
"Se ele está a ser muito rígido, acho que está certo. Ele é o nosso líder e só está a fazer isso para o nosso bem", Kimee Enciso, estudante de 21 anos
"Se ele está a ser muito rígido, acho que está certo. Ele é o nosso líder e só está a fazer isso para o nosso bem", Kimee Enciso, estudante de 21 anos Reuters/EZRA ACAYAN
"Antes recolhíamos um corpo por dia, agora são cerca de dois ou três", disse Orly Fernandez, gerente de uma agência funerária
"Antes recolhíamos um corpo por dia, agora são cerca de dois ou três", disse Orly Fernandez, gerente de uma agência funerária Reuters/EZRA ACAYAN
"Muitas das pessoas baleada foram enterradas aqui. Recentemente foram mais de 40 corpos. Não digo que Duterte deve continuar a matar pessoas, mas nós iremos continuar a trabalhar enquanto houver trabalho", disse o coveiro Sandro Gabriel
"Muitas das pessoas baleada foram enterradas aqui. Recentemente foram mais de 40 corpos. Não digo que Duterte deve continuar a matar pessoas, mas nós iremos continuar a trabalhar enquanto houver trabalho", disse o coveiro Sandro Gabriel Reuters/EZRA ACAYAN
"O nosso negócio foi afectado, as pessoas têm medo de sair de casa. Mas, pelo menos, há menos traficantes e viciados em drogas", disse Felicidad Magdayao, de 59 anos, dona de um restaurante
"O nosso negócio foi afectado, as pessoas têm medo de sair de casa. Mas, pelo menos, há menos traficantes e viciados em drogas", disse Felicidad Magdayao, de 59 anos, dona de um restaurante Reuters/EZRA ACAYAN