As aventuras de Batida em Nova Iorque
A incursão americana de Batida, alter-ego musical do luso-angolano Pedro Coquenão, começou no Verão e ganha agora expressão em mais três datas, a começar hoje no Lincoln Center — e fazendo uma escala em Washington. Em 2017 haverá novo disco.
O ano de 2016 vai acabar em grande para Batida, ideia desenvolvida pelo luso-angolano Pedro Coquenão, com um espectáculo no Lincoln Center de Nova Iorque a acontecer esta quinta-feira. E o início de 2017 será igualmente significativo com mais duas actuações nos Estados Unidos: a 6 de Janeiro no Kennedy Center de Washington, e dois dias depois no encerramento do GlobalFest, outra vez em Nova Iorque.
O ensaio com público da passada sexta-feira no Village Underground, em Lisboa, permitiu antever o que serão os concertos americanos de Batida, com quatro agentes em palco (bateria, maquinaria, dikanza, vozes e dança) a proporem uma mistura de coreografias e projecções-vídeo que ajudam a representar cada tema, com alusões políticas e uma sonoridade fulgurante, sincretismo de influências globalizadas, sejam elas africanizadas ou ocidentalizadas.
Ao longo dos últimos anos Batida tem vindo a afirmar-se internacionalmente (Glastonbury, Roskilde, Transmusicales, Pitch, Lowlands, Eurockéennes, Womad ou Nuits Sonores foram alguns dos festivais por onde passou o projecto) e a incursão americana dá expressão a essa crescente visibilidade. A presente minidigressão acaba por ser também consequência da actuação, em Agosto, no Central Park, num palco organizado pela Arts Foundation e com curadoria da publicação Okayafrica.
“Actuámos num dia em que o conceito aglutinador era aquilo que eles chamam de afro-punk ou afro-futurismo, e depois do espectáculo tinha a programadora do Lincoln Center a dizer que gostava de nos ter lá e que havia comprado o disco da Soundway há uns anos e o adorava”, explica-nos Pedro Coquenão. No seguimento desse convite, surgiu o interesse do Kennedy Center e do GlobalFest. “A programadora do GlobalFest, um festival de inscrições como existe na Europa o Eurosonic ou o Womex, já tinha visto um concerto há dois anos e convidou-nos directamente para encerrarmos o evento.”
No Lincoln Center, Pedro projecta que haverá “um público transgeracional, com nova-iorquinos que gostam de acompanhar coisas diferentes, e gente da indústria ou frequentadores habituais do centro”. Já o GlobalFest é um festival por onde passam mais de 500 profissionais, entre programadores, agentes e imprensa, e para o qual são escolhidos apenas 12 artistas dos muitos que se candidatam. No caso de Batida foi um convite directo. “É onde toda a gente vai, imprensa e artistas, por isso é provável que algum tipo de consequência possa sair dali”, idealiza.
Já a seguir: Holanda
Em cima da mesa está ainda a hipótese de mais datas americanas para os próximos tempos, mas Pedro quer dar um passo de cada vez. “Há pessoas que nos querem agenciar mas nestas coisas é melhor ir com calma. Para já vamos apresentar-nos lá e depois se verá.” O ano de 2016 foi marcante pela passagem no Central Park, mas também pelos muitos concertos pelo mundo e pelo lançamento do álbum Konono Nº1 Meets Batida, resultado da colaboração com o grupo do Congo, que originaria vários espectáculos. “A tradução para o palco do que havíamos feito em disco e foi estimulante, com a introdução de elementos novos”, recorda, “e depois fazer espectáculos com eles, como a ida ao [Festival] Músicas do Mundo de Sines, foi especial, porque são sempre surpreendentes”.
Para 2017 estão previstos mais espectáculos com os Konono nº1 – “até porque vai haver no início do ano um novo single e vídeo”, diz – e também mais saídas internacionais de Batida, como a ida a 11 de Janeiro ao festival Eurosonic, que acontece em Gronigen, na Holanda, e que este ano terá Portugal como país em destaque. Os próximos meses deverão também ser dedicados à gestação de um novo disco de Batida. “O plano é fechar-me num espaço em Lisboa e trabalhar ideias que tenho, algumas já passadas para som, outras apenas escritas”, antecipa Pedro Coquenão, adiantando que o seu regresso a Luanda em 2016, uma viagem a Manchester – “uma cidade marcante em termos musicais” – e as ligações com a diversidade lisboeta acabarão, provavelmente, por ter tradução nesse disco, mistura de sonoridades e paisagens urbanas.
Mas para já há Nova Iorque, onde irá apresentar temas dos álbuns com a formação indispensável para um espectáculo consistente. “Por mim traria mais pessoas para palco, mas nem sempre é possível. Teremos dança, movimento, imagens, histórias, melodias e música, projectando a ideia de encontro.” E por falar em encontro, entre o público do ensaio na última sexta-feira estava um cúmplice e amigo de longa data, o activista e rapper luso-angolano Luaty Beirão, recentemente libertado. “É a melhor coisa tê-lo por cá nesta altura”, exclama Pedro, adiantando que “vai haver novidades em relação a coisas em que ele vai estar envolvido": "É fantástico vê-lo a exercer nesta fase o seu lado artístico.”