Famosa por ser famosa: morreu Zsa Zsa Gabor
Actriz nascida na Hungria e residente nos Estados Unidos tinha 99 anos.
Tecnicamente, Zsa Zsa Gabor era actriz. Até filmou nos anos 1950 (mesmo que em papéis secundários ou menores) com nomes de peso do cinema clássico americano: John Huston (Moulin Rouge), Charles Walters (Lili), Orson Welles (A Sede do Mal). Mas não é por ter sido actriz que a recordamos, antes por ter sido uma das primeiras famosas que andaram nas bocas do mundo apenas pela sua fama. Morreu neste domingo, aos 99 anos, em casa, em Los Angeles.
Casada legalmente por oito vezes (com um nono matrimónio anulado ao fim de 24 horas), ligada a uma miríade de amantes, houve quem lhe chamasse “a maior cortesã do século XX” - o que lhe poderia estar no sangue, visto que a sua mãe, Jolie, fora ela própria uma socialite do império Austro-Húngaro, e as suas duas irmãs, Magda (mais velha) e Eva (mais nova), a seu modo, foram também elas famosas no seu tempo.
A última das Gábors ainda viva (Eva morreu em 1995, a mãe Jolie em 1997, aos cem anos de idade, e Magda um mês depois da mãe), Zsa Zsa foi também a mais famosa (e infame) delas todas. O seu talento para a auto-promoção surgiu no exacto momento do pós-II Guerra Mundial em que a imprensa cor-de-rosa e a televisão explodiam a nível global, e Zsa Zsa, sempre nas bocas do mundo, com o seu inglês macarrónico, as suas formas atractivas e as suas declarações bombásticas (disse uma vez que era a dona de casa perfeita porque ficava sempre com as casas depois dos divórcios) era a candidata ideal para desbravar esse território da celebridade auto-suficiente – uma espécie de Paris Hilton avant la lettre, sempre nas primeiras páginas apenas por aparecer. Nem por acaso, Zsa Zsa é distantemente aparentada à herdeira Hilton, pois foi casada com o seu bisavô, Conrad Hilton, fundador da cadeia de hotéis que tem o seu nome.
Hilton foi o segundo marido de Zsa Zsa, entre 1942 e 1947. Antes, houvera o diplomata turco Berhan Belge (1937-1941); depois, o actor George Sanders (1949-1954), o executivo Herbert Hutner (1962-1966), o herdeiro Joshua Cosden (1966-1967), o inventor Jack Ryan (1975-1976), o advogado Michael O’Hara (1976-1983) e, desde 1986, o alemão Frederic Prinz von Anhalt, herdeiro adoptivo de uma das princesas da Casa de Anhalt. O nono marido foi o actor e advogado Felipe de Alba, com quem esteve casada 24 horas em 1983 antes da ligação ser anulada por o seu divórcio de O’Hara não estar ainda legal.
Pelo meio, houve um sem-número de pretendentes, dos quais o mais público terá sido o célebre playboy Porfirio Rubirosa (Zsa Zsa ter-se-ia recusado a divorciar-se de George Sanders para casar com ele), uma filha (Constance, nascida do casamento com Conrad Hilton, que Zsa Zsa poria em tribunal acusando de fraude e abuso de idosos) e uma longa lista de amantes pontuais que incluiria, nas palavras da própria Sean Connery, Richard Burton ou Frank Sinatra.
Tudo isto não deve ser levado à letra: como uma conhecida da família, a jornalista Cindy Adams, disse à revista Vanity Fair há alguns anos, “[as Gabor] sempre viveram fora da realidade. Elas nunca disseram a verdade sobre nada.” Certo é que Zsa Zsa era a “irmã do meio” e nasceu Sári em Budapeste. Quando? Diz-se que em 1917 (o que lhe daria 93 anos de idade). Mas, como tudo o resto, não existem certezas – afinal, foi desclassificada de Miss Hungria em 1936 por ter mentido na idade. Certeza só uma: Zsa Zsa Gabor foi famosa apenas por ser famosa.