Rankings, mais do mesmo?
Ainda assim, os dados dos rankings e outros não podem ser ignorados e podem ser um pequeno contributo para a reflexão interna das escolas.
Para que têm servido os rankings?
Em primeiro lugar têm servido a comunicação social, que durante dois ou três dias tem garantida a notícia de abertura, o aumento da tiragem ou dos shares, a mobilização de um número infindável de comentadores, uma corrida às melhores ou às piores escolas para um direto que vende e formata a opinião pública baseando a informação num emaranhado de dados estatísticos que exigem trabalho para uma análise rigorosa mas que se limitam, muitas vezes, a apresentar resultados “brutos”, isto é, carentes de análises sapientes e sensatas.
Em segundo lugar têm servido as escolas privadas, que numa publicidade gratuita, legitimada pela política vigente, conduz os pais a uma corrida desenfreada avaliando a melhor forma, ou a forma possível de inscrever os filhos nos colégios com mais “cotação”.
Em terceiro lugar têm servido mecanismos competitivos de escolas mais preocupadas com a sua exposição pública do que com a diversificação e a qualidade das experiências de aprendizagem que proporcionam aos seus alunos. Averiguam-se as notas das melhores a quem saiu a “lotaria” este ano, verificam-se as notas das piores; comparam-se as notas com as escolas vizinhas, ensaiam-se respostas de desculpabilização de resultados e clamam-se vitórias pelos sucessos alcançados.
É por isso que os rankings podem não servir a educação, mas podem servir a glória da informação e da globalização.
O que fica depois dos rankings?
Os alunos passam nove meses por ano na escola. Não é justo discutir o mérito por um “simples” parâmetro. A escola é muito mais do que um lugar numa lista que surge num qualquer dia de dezembro – é um mundo com vidas à espera de se completarem, de se preencherem, com motivações para aferir, com emoções para partilhar, com projetos de vida para construir.
O parâmetro utilizado nos rankings representa a visão mais tradicional dos modelos curriculares – o modelo centralista onde o currículo aparece como um produto, ao professor cabe a missão de aplicar unicamente o currículo prescrito, o professor e o aluno desempenham papéis passivos – o primeiro transmite utilizando um padrão centralizado e o segundo recebe e reproduz.
Ainda assim, os dados dos rankings e outros, também divulgados pelo Ministério de Educação, articulados com a realidade concreta de cada escola, não podem ser ignorados e podem ser um pequeno contributo para a reflexão interna das escolas. Os resultados podem ser indicadores para verificar as diferenças entre a avaliação na escola e a nacional ou entre a avaliação interna e a externa das disciplinas sujeitas a exame nacional. Podem servir para atualizar critérios de avaliação, traçar planos de melhoria, planos de ação estratégica ou até rever as metas do projeto educativo. No entanto não podemos esquecer que quando pensamos em avaliação interna e externa pensamos em realidades diferentes – uma realidade temporal de duas ou três horas em que o aluno que é avaliado por uma prova estandardizada comparada com nove meses de vivências, de conhecimento do aluno, acompanhamento do seu processo de trabalho, de raciocínio, de esforço, de responsabilidade, de criatividade, de dinamismo, de fragilidade ou força, de encaminhamento e orientação, de validação das sua expetativas futuras, de criação de um espírito de grupo, de relação dentro e fora da sala de aula.
Os rankings não têm servido a educação, os dados divulgados podem dar um pequeno contributo para a reflexão sobre a educação.
Uma escola de pessoas
Em todas as escolas os professores ficam, tantas vezes, surpreendidos com a quantidade de “obrigados” e com histórias, contadas na primeira pessoa, de professores que fazem a “diferença” para os estudantes. O clima que se vive em cada escola é um fator de mudança na vida das pessoas que aí trabalham e aprendem. Sendo Portugal dos países da Europa com mais abandono, com mais retenções, com mais insucesso, esta deve ser a primeira preocupação – garantir um clima propício à aprendizagem, garantir uma escolaridade obrigatória e com qualidade para todos os alunos; uma escola humanista, centrada no aluno, que responda às suas necessidades e interesses.
Este é um desafio não só da escola mas da sociedade. São as comunidades e não as “listas” quem melhor avalia a escolas. Há pais que se preocupam com as notas, mas há pais que querem que os filhos sejam, acima de tudo, felizes (também em função de um determinado percurso escolar) e possam vir a tornar-se não só pessoas de sucesso mas cidadãos críticos, responsáveis e interventores na sociedade.
Uma escola criativa e criadora, uma escola inclusiva, aberta à comunidade e que revela uma verdadeira preocupação com os alunos é a escola que defendemos.
Os rankings servem para muito mas não servem a educação!