Atacar o sucesso ou combater o insucesso?
Como já o disseram muitos ministros da Educação: não me interessa a clivagem público/privado, o que importa são as boas e as más escolas.
Este ano os rankings surgem num ambiente de bastante informação sobre o desempenho dos alunos portugueses. É, por isso, um ano especialmente rico para pensarmos sobre educação e política educativa.
Comecemos pelos resultados dos alunos portugueses em provas internacionais. Nas últimas três semanas conhecemos os resultados do TIMSS 2015 (alunos do 4.º ano, matemática e ciências), do TIMSS Advanced 2015 (alunos do 12.º ano a matemática avançada e física) e do PISA 2015 (alunos com 15 anos, ciências, leitura, matemática).
O dado mais importante de todos estes estudos é que, nos últimos 15 anos, os alunos portugueses melhoraram os seus resultados, afastando-se da metade inferior da tabela e aproximando-se da metade superior. Não só nos colocámos no grupo dos melhores como diminuímos a distância para os melhores dos melhores.
Saber isto é muito importante! O TIMSS e o PISA não são um objectivo em si mesmos; o objectivo da escola portuguesa não é que os nossos alunos tenham melhor desempenho que os alunos da Finlândia ou de Singapura. Mas, sem a aquisição de conhecimento e o desenvolvimento de competências, não há educação. E, finalmente, percebemos que além de ter ganho a batalha de ter todos na escola, começamos a ganhar a batalha de conseguir que todos aprendam. Podemos fazer mais e melhor? Claro que podemos. Mas estes resultados vêm demonstrar que temos estado – e que estamos – no bom caminho.
Vejamos agora os resultados internos; os resultados dos alunos do 9.º ano e do ensino secundário nos exames nacionais. Mais uma vez verificamos a tendência para os alunos do ensino privado terem resultados melhores que os alunos do ensino estatal. E mais uma vez muitos vão debater à exaustão, com os mesmos argumentos repetidos há mais de uma década, que isso é porque os alunos do privado são ricos – logo têm bons resultados – e os alunos do estatal são pobres – logo têm maus resultados.
E com esta simplicidade se defende e aceita a fatalidade social da educação. Mesmo quando, graças às provas internacionais e aos exames nacionais há hoje evidência de que há escolas em que os alunos pobres conseguem aprender! E hoje esta evidência entra-nos pelos olhos dentro: melhorámos no PISA apesar de haver mais alunos de vias vocacionais na amostra portuguesa (13%) e há colégios com contrato de associação que servem pobres mas estão no pelotão da frente dos exames nacionais.
Para alguns sectores da sociedade portuguesa, equidade significa atacar o sucesso. Para outro, quero crer que maioritário ainda que tradicionalmente silencioso, equidade significa combater o insucesso.
Como já o disseram muitos ministros da Educação: não me interessa a clivagem público/privado, o que importa são as boas e as más escolas.