Sai "gente exausta e em mau estado" de Alepo - Assad diz que se "fez história"
“Não vemos futuro para o Presidente Assad na Síria”, declarou o ministro britânico da Defesa, enquanto a evacuação da cidade começa, com demasiado lentidão para as necessidades.
O Presidente sírio, Bashar al-Assad, diz que se “fez história” com a “libertação de Alepo”. É essa a avaliação que faz da violenta campanha de bombardeamentos e do cerco - sempre apoiado pela Rússia - que obrigou a oposição armada a ceder a posição que ocupava desde 2012 no Leste da maior cidade síria.
"Com a libertação de Alepo, mudou a situação, não apenas para a Síria, não apenas para a região, mas para todo o mundo", diz Assad, de sorriso nos lábios, num vídeo colocado na conta da presidência síria no Twitter.
A guerra começou porque o regime reprimiu, com uma enorme violência, protestos de jovens em 2011 – que se transformaram num conflito alargado, que mais tarde foi tomado de assalto por grupos jihadistas e pelos diversos interesses regionais do Médio Oriente.
Aquilo a que Assad chama de libertação não só destruiu o casco da cidade, incluindo áreas classificadas como património da humanidade, como deixou a população a morrer por falta de cuidados médicos, alimentos e todos os outros bens essenciais. E fez desaparecer centenas de homens quando as forças do lado de Damasco entraram na cidade, abatendo a tiro até mulheres e crianças.
“Não vemos futuro para o Presidente Assad na Síria”, declarou o ministro britânico da Defesa, Michael Fallon, ao sair de uma reunião da coligação internacional contra o Daesh. “Mesmo que triunfe sobre a oposição em Alepo, não há vitória em bombardear hospitais ou impedir a ajuda humanitária”, sublinhou.
Agora que a oposição foi obrigada a ceder, o primeiro comboio de evacuação de civis do Leste de Alepo saiu da cidade, transportando, no total, 951 pessoas, entre as quais mulheres, crianças e feridos. Entre os que foram retirados estão 200 combatentes rebeldes e pelo menos 26 crianças, disse à Reuters Robert Mardini, director regional para o Médio Oriente do Comité Internacional da Cruz Vermelha.
"As pessoas estão exaustas, desiludidas, em muito mau estado, mas agradecidas por estarmos lá, embora não lhes tenhamos valido porque é tarde de mais", adiantou Mardini.
Na sexta-feira, a Cruz Vermelha prevê retirar da cidade o mesmo número de pessoas. "Mas precisamos de tirar de lá muito mais", disse Mardini. Um militar turco declarou à Reuters que nos próximos três dias é esperada a retirada de mais 50 mil habitantes. Já o ministro da Defesa da Rússia adiantou à agência russa Tass que devem ser retirados cinco mil rebeldes e as respectivas famílias.
A retirada será feita através de um corredor humanitário de 21 quilómetros, que levará as pessoas para território controlado pelos rebeldes. Segundo o Ministério da Defesa russo, os autocarros estão a levar os civis, combatentes e feridos para a província de Idlib, que continua, em grande parte, sob controlo de uma aliança rebelde que inclui o grupo jihadista Frente Fatah al-Sham, diz a BBC.
Mas se não houver um cessar-fogo, "Idlib transformar-se-á noutra Alepo", avisou o enviado especial para a Síria da ONU, Staffan de Mistura.
As Nações Unidas dizem que é mais que tempo de cessar as hostilidades na Síria, permitir o acesso da ajuda humanitária e chegar a uma solução política para o conflito. A Síria e os seus aliados Rússia e Irão devem regressar às negociações políticas para “acabaram com o enorme sofrimento e a desestabilização da região”, afirmou o vice-secretário-geral da ONU, Jan Eliasson.
"Mas é pouco provável que isso aconteça. Para Assad, este foi sempre foi um combate de vida ou morte. Nunca considerou sequer parar a guerra. Para ele, é vitória ou derrota”, disse à AFP o ex-diplomata holandês Nikolaos van Dam, autor do livro A luta pelo poder na Síria. “O regime tem meio século de experiência em manter-se no poder. Assad tem o apoio do exército e dos serviços de segurança.”
Enquanto Paris pediu uma nova reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU em Nova Iorque, em Londres o ministro dos Negócios Estrangeiros, Boris Johnson, convocou os embaixadores da Rússia e do Irão “para exprimir a sua profunda inquietude” quanto à situação em Alepo.
Fillon negociaria com criminosos de guerra
François Fillon, o candidato da direita francesa às presidenciais, e que pode bem ser o próximo Presidente, defendeu que os líderes da União Europeia devem estar “dispostos a negociar todos os que puderem parar o conflito na Síria, incluindo os que cometeram crimes de guerra”.
Estas declarações contradizem a política seguida pelo Presidente François Hollande, que quer levar a responder na justiça os responsáveis por crimes de guerra. Hollande acusou a Rússia, que apoia o regime de Assad, de ter agravado o conflito que já vai quase em seis anos.
A UE mostrou bastante “indignação”, nos seus esforços para parar o conflito sírio, mas isso não salvou vida nenhuma, disse Fillon, que foi ao Conselho Europeu, reunido em Bruxelas. “O que temos de reconhecer hoje é que a diplomacia europeia falhou”, declarou.<_o3a_p>