Assad diz que queda de Alepo é "história a ser escrita"

Já foram retiradas cerca de 1000 civis do Leste de Alepo, sexta-feira continuará a evacuação, anuncia o Crescente Vermelho.

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Multidão encaminha-se para o local da evacuação Reuters/ABDALRHMAN ISMAIL
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O Presidente Bashar Al-Assad divulgou uma mensagem em vídeo em que felicita os sírios pela "libertação de Alepo", dizendo que se "escreveu história" ao obrigar à rendição da oposição armada que desde 2012 conseguia controlar a parte oriental da maior cidade do país, com uma campanha de cerco e bombardeamentos brutal, que não só destruiu o casco da cidade como deixou a população a morrer por falta de cuidados médicos, alimentos e todos os outros bens essenciais. 

"Com a libertação de Alepo, mudou a situação, não apenas para a Síria, nem apenas para a região, mas para todo o mundo", diz Assad, de sorriso nos lábios, num vídeo que parece ter sido filmado com um telemóvel e colocado na conta da presidência síria no Twitter. 

O primeiro comboio de evacuação de civis do Leste de Alepo já saiu da cidade, transportando, no total, 951 pessoas, entre as quais mulheres, crianças e feridos. Entre os que foram retirados estão 200 combatentes rebeldes e 26 feridos, vários deles crianaças, disse à Reuters Robert Mardini, director regional para o Médio Oriente do Comité Internacional da Cruz Vermelha International. 

"As autoridades fizeram uma selecção muito ligeira das pessoas retiradas de Alepo, sem fazerem verificação de identidades, nem registrarem os nomes", adiantou Mardini. "As pessoas estão exaustras, desiludidas, em muito mau estado, mas agradecidas por estarmos lá, embora não lhes tenhamos valido porque é tarde de mais."

Na sexta-feira, a Cruz Vermelha prevê evacuar pelo menos o mesmo número de pessoas. "Mas precisamos de tirar muito mais pessoas", disse Mardini.

Um oficial turco declarou à Reuters que nos próximos três dias é esperada a retirada de mais 50 mil pessoas.

O ministro da Defesa da Rússia confirmou, por seu lado, em declarações à agência de notícias russa TASS, que a operação envolve a retirada de cinco mil rebeldes e as respectivas famílias. Uma fonte oficial militar russa é também citada ao afirmar que a evacuação será feita através de um corredor humanitário com 21 quilómetros, para conduzir as pessoas para território controlado ainda pelos rebeldes, atravessando zonas na posse das tropas de Assad e também de grupos da oposição. 

Segundo o Ministério da Defesa russo, os autocarros estão a levar os civis, combatentes e feridos para a província de Idlib, que continua, em grande parte, sob controlo de uma aliança rebelde, que inclui o grupo jihadista Jabhat Fateh al-Sham, diz a BBC.

Jan Egeland, responsável pelos assuntos humanitários da ONU, explicou aos jornalistas como vai funcionar toda a operação: "É uma acção de três pontas: uma médica, de doentes e feridos, outra de civis vulneráveis e outra de combatentes". Além disso, o responsável das Nações Unidas esclarece que o acordo foi estabelecido directamente pelas duas partes envolvidas no conflito e que a organização apenas está a monitorizar as operações e que não mediou as negociações.

O início da operação começou cinco horas depois da hora combinada, de acordo com os termos de um novo acordo de cessar-fogo que foi alcançado depois de um outro, negociado entre a Rússia e a Turquia, ter sido quebrado nesta quarta-feira, iniciando um dia de intensas negociações diplomáticas e de combates na cidade. O novo acordo estabeleceu o início do cessar-fogo às 2h30 locais desta quinta-feira. Os civis e feridos de Alepo oriental deveriam começar a ser transferidos às 6h (4h em Lisboa).

Já esta quinta-feira, e citado pela Reuters, o ministro da Defesa russo informou que a Cruz Vermelha vai prestar apoio na retirada de rebeldes feridos da cidade, com 100 voluntários e dez ambulâncias, e que os soldados russos estão a postos para encaminhar os combatentes para fora de Alepo sob ordens do próprio Presidente Vladimir Putin.

A Reuters cita ainda Ahmed Sweid, o chefe do serviço de ambulâncias do enclave rebelde de Alepo, conhecidos como "capacetes brancos", para dar conta de que três pessoas ficaram feridas depois de a primeira coluna de evacuação ter sido atingida a tiro por forças pró-Assad quando saía da zona oriental da cidade. "A coluna foi baleada por forças do regime e temos três feridos, um deles um civil, que foram transportados de regresso para a área cercada", disse Ahmed Sweid. Outras testemunhas no local declararam à Reuters que ouviram uma série de tiros que durou vários minutos.

Para além de Alepo, e segundo outras fontes das forças de oposição, o acordo estabelece a retirada de feridos das vilas de Fua e Kefraya, na província de Idlib, cercadas pelos rebeldes. No entanto, esta informação foi desmentida por outro grupo rebelde.

Ao que tudo indica, e segundo os relatos que chegam de Alepo, não se ouvem bombas desde a meia-noite local.

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