Monte dei Paschi faz última tentativa de obter financiamento no mercado

Banco italiano tenta atrair privados para emissão de acções e troca de dívida no valor de 5000 milhões de euros. Se falhar, Estado terá de intervir.

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O Monte dei Paschi está no centro da crise financeira italiana Reuters/Max Rossi / Reuters

O Monte dei Paschi di Siena anunciou esta quinta-feira que irá realizar até ao final do ano uma emissão de acções e uma oferta de troca de dívida por acções através das quais tenta obter o financiamento de 5000 milhões de euros de que precisa para evitar a necessidade de uma intervenção pública no banco.

Num comunicado publicado pela instituição financeira italiana, é explicado que a operação de capitalização irá ser feita por duas vias. Em primeiro lugar, através do alargamento da oferta de troca de obrigações por acções a uma nova série de títulos de dívida que antes não estava incluída e que está na posse de clientes do retalho. E em segundo lugar, através da emissão de novas acções colocadas junto de investidores privados.

Se o banco – o mais antigo do mundo e o terceiro maior em Itália – conseguir interessados em número suficiente para reforçar o seu capital em 5000 milhões de euros, ficam criadas as condições para realizar a operação seguinte, que é a venda em pacote de 28 mil milhões de euros de crédito malparado acumulados pelo Monte dei Paschi. Os 5000 milhões obtidos servem para o banco cobrir as perdas relacionadas com essa venda de crédito malparado.

Se, pelo contrário, o Monte dei Paschi não conseguir convencer os investidores a entrarem no seu capital, a solução deverá ter de passar por uma intervenção pública. As regras europeias obrigam a que, num cenário desse tipo, sejam impostas perdas aos accionistas e credores, mas tem sido noticiada a possibilidade de o Estado realizar uma capitalização de emergência que não eliminaria as perdas dos privados, mas que pelo menos as limitaria.

A operação anunciada esta quinta-feira é assim uma última tentativa do banco e das autoridades italianas para evitar a necessidade de uma injecção de capitais públicos e um cenário de perdas avultadas para os credores do Monte dei Paschi (a maior parte dos quais são pequenos investidores).

Entre os analistas da banca italiana, a confiança neste momento é reduzida em relação à capacidade da operação para atrair investidores privados. As perdas que têm vindo a ser acumuladas pelo banco em bolsa (82% desde o início do ano), a fragilidade de um balanço carregado de crédito malparado e, mais recentemente, a incerteza política a que se assiste em Itália são factores que têm vindo a afastar muitos investidores. “É uma tentativa ambiciosa, com um elevado risco de execução”, afirmou à Bloomberg um analista de uma firma de investimentos italiana, assinalando que o sucesso da operação está dependente da capacidade das autoridades encontrarem um grande investidor com vontade de assumir uma grande parte do risco.

Nas últimas semanas, foram noticiadas negociações intensas com o fundo soberano do Qatar que, no entanto, ainda não produziram resultados. “Duvido que consigam encontrar um grande investidor agora, depois de terem estado meses a tentar obter sem sucesso compromissos um pouco por todo o mundo”, disse o mesmo analista.

Em princípio, uma solução para este problema tem de ser encontrada até ao final do ano, o prazo dado pelo BCE para o Monte dei Paschi recolocar os seus rácios financeiros dentro dos níveis exigidos pelo regulador.

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