Turquia pressiona NATO a recusar asilo a militares “golpistas”

Jens Stoltenberg diz que aproximação de Ancara à Rússia não contradiz a participação do país na Aliança.

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Jens Stoltenberg, o secretário-geral da NATO AFP

A Turquia está a embaraçar a NATO, com a caça às bruxas levada a cabo após a tentativa de golpe de Estado de 15 de Julho: 60% a 80% dos oficiais turcos destacados nas estruturas da Aliança Atlântica são suspeitos de serem seguidores do imã Fethullah Gülen, que o Governo diz ter organizado o golpe, e não escaparam à purga. Muitos pediram asilo nos países onde estavam colocados. Jens Stoltenberg, o secretário-geral da NATO, confirma os pedidos de asilo, mas escuda-se a comentar a actuação de um país-membro.

A Turquia tem feito pressão diplomática para que os seus parceiros na Aliança Atlântica não dêem resposta a esses pedidos de asilo, diz o jornal turco Hürriyet. Um dos pontos da revolta militar de 15 de Julho foi a base da NATO em Inçirlik, no Sul do país – as suspeitas sobre os militares relacionados com a Aliança Atlântica vêm desde os primeiros momentos.

“Na minha visita a Istambul [na semana de 22 de Novembro], o Governo turco garantiu-me várias vezes que será garantido o Estado de direito”, afirmou Stoltenberg. Os pedidos de asilo – que, segundos relatos publicados em vários media, se verificaram na Alemanha, nos Estados Unidos e na Bélgica, pelo menos – terão de ser decididos pelos países em causa. “Não cabe à NATO tomar esse tipo de decisões”, sublinhou em Bruxelas o secretário-geral, dias antes da cimeira da Aliança Atlântica, que decorre entre quinta-feira e sábado.

“A Turquia tem o direito a julgar os responsáveis pelo golpe, em que morreram centenas de pessoas, o Parlamento foi bombardeado”, disse o secretário-geral da NATO. “Mas o Conselho da Europa está a analisar se há violações dos direitos humanos, tem os mecanismos adequados para o fazer. Eu obtive garantias de que seria respeitado o Estado de direito, o que é muito importante para mim”, assegurou Stoltenberg.

Mas o caminho que a Turquia tem seguido, sobretudo desde o golpe falhado, tem sido o de enfrentar a União Europeia e os Estados Unidos, ao mesmo tempo que se torna um parceiro cada vez mais indispensável. Investiu na reaproximação à Rússia – depois do corte de relações em Novembro passado, quando abateu um caça russo que cruzou a fronteira entre a Síria e a Turquia sem autorização – e o Presidente turco, Recep Erdogan, fala agora em juntar-se à Organização de Cooperação de Xangai, liderada por Moscovo e pela China, após a relação com a UE se ter deteriorado.

Os Cinco de Xangai aproximariam a Turquia dos seus interesses na Ásia Central. Trata-se de uma organização política, económica e militar fundada em 1996, e da qual fazem parte a China, o Cazaquistão, o Quirguistão, a Rússia, o Tajiquistão, o Uzbequistão, a Índia e o Paquistão. A sua influência é, no entanto, reduzida – analistas políticos dizem que foi criada sobretudo com a intenção de contrabalançar o peso que os EUA e a NATO têm naquela região do globo.

“A Turquia é um aliado fundamental, por várias razões, e a sua localização não é a menos importante. Recebeu três milhões de refugiados, tem um papel determinante na resposta à Rússia e ao Estado Islâmico, na gestão da crise dos refugiados”, explicou Stoltenberg. “E a Turquia tem expressado repetidamente a vontade de continuar a ser um parceiro empenhado da NATO.”

Por isso, na sede de Bruxelas, mesmo as aproximações que a Turquia tem feito à Rússia são vistas com benevolência. “Não é contraditório com fazer parte da Aliança Atlântica, faz parte da mensagem da NATO”, afirmou Stoltenberg.

A jornalista viajou a convite da NATO

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