Há perguntas para responder na Caixa
Em três meses António Domingues terá feito passar os resultados da CGD de um prejuízo de apenas 189,3 milhões de euros nos primeiros nove meses do ano para 3000 milhões de euros no conjunto do ano.
A Caixa Geral de Depósitos (CGD) deverá apresentar prejuízos de quase 3000 milhões de euros em 2016, segundo o plano estratégico do banco a que o Expresso teve acesso e divulgou no passado sábado.
O dito plano é da responsabilidade do ainda presidente da CGD, António Domingues, o líder mais rápido da Caixa de que há memória: entrou a 31 de Agosto e já tem data de saída, 31 de Dezembro.
Em três meses terá feito passar os resultados da CGD de um prejuízo de apenas 189,3 milhões de euros nos primeiros nove meses do ano para 3000 milhões de euros no conjunto do ano.
Estes são os factos conhecidos. São números impressionantes. São números demasiado impressionantes para que ninguém os explique.
São números que resultam de uma nova política que em três meses virou de pernas para o ar tudo o que era a prática no banco público: onde antes se tentava negociar a recuperar crédito, mantendo vivos os devedores, a palavra de ordem é agora registar esse crédito como perdido e constituir as respectivas imparidades.
O objectivo é simples e segue a teoria do Governo de que limpando os balanços dos bancos estes poderão voltar a dar crédito às empresas, estas voltam a investir e a economia avança. O problema é que os inquéritos ao investimento do Instituto Nacional de Estatística que o PS tantas vezes citava na oposição, continuam a dar os mesmos resultados: os maiores obstáculos ao investimento não resultam da dificuldade de acesso ao crédito, mas da falta de procura.
Para a Caixa o resultado imediato é simples: tudo o que de mau acontece fica registado em 2016 e nos anos seguintes há caminho livre para voltar aos lucros.
Mas para que tal aconteça terá de entrar dinheiro na Caixa. Muito dinheiro. Dinheiro dos contribuintes. E também por isso deveria haver mais explicações.
Porque é que o anterior Governo nunca quis resolver o problema de capital que já se sabia que existia na Caixa?
A Caixa precisava mesmo de fazer este aumento brutal de imparidades?
Foi esta a forma que o Governo encontrou para criar um ‘banco mau’ só para a Caixa?
O auditor da Caixa, a Deloitte, aceitou a política de imparidades que estava a ser seguida e agora aceita a nova política?
Que efeito vão ter estes resultados na imagem externa e interna da Caixa, alguém se preocupou com isso, especialmente tendo em conta que não será António Domingues a dar a cara pelos resultados?
As imparidades que se estão a constituir resultam de créditos não pagos, mas com garantias reais? Se sim, como vão ser vendidas essas garantias?
O que andou a fazer o Banco de Portugal para permitir que estas imparidades, se são necessárias, não tivessem sido feitas antes? O Banco de Portugal concorda com esta política?
Que efeitos terá esta política de imparidades sobre os restantes bancos?
Ficam duas sugestões.
Uma ao primeiro-ministro: que aproveite o debate parlamentar quinzenal de quarta-feira para apresentar o que o seu Governo negociou com Bruxelas e o que vai acontecer à Caixa.
A outra aos deputados: amanhã a comissão parlamentar de inquérito à CGD retoma os trabalhos. Agora, mais do que nunca, esta comissão deveria abranger a actual recapitalização da Caixa.