Empreendedorismo: o capital e as tribos

Portugal percorre uma viagem que nos levará a bom porto. Os ecossistemas de inovação do país iniciaram uma trajetória que se espera venha a ter um impacto decisivo no reforço da competitividade da economia portuguesa, assente na valorização do conhecimento.

Portugal está a afirmar-se como um país de inovação e empreendedorismo. A recente edição do Web Summit foi uma grande iniciativa que terá, não só um efeito multiplicador junto de muitos potenciais empreendedores, como também um forte impacto na nossa imagem externa.

Não existindo ainda em número suficiente, a verdade é que há, no nosso país, ecossistemas de inovação particularmente dinâmicos. É nesse contexto que têm vindo a surgir inúmeras start-ups que, valorizando o conhecimento através de produtos e serviços diferenciados, possuem um nível de competitividade que é global, sustentável e gerador de emprego altamente qualificado. Para além do que se está a criar em torno da capital, merecem destaque os ecossistemas que se estão a desenvolver no âmbito do meio científico e tecnológico como o das Universidades do Porto, do Minho e de Aveiro.

O Porto possui um potencial de investigação e inovação só comparável a territórios com uma dimensão muito maior. Para isso, tem contribuído o trabalho realizado por aqueles que fazem parte de estruturas criadoras de conhecimento, pensamento crítico e inovação. São elas a Universidade do Porto (assim como os seus diversos institutos de interface e, muito em especial, o UPTEC, o parque de ciência e tecnologia), o Instituto Politécnico do Porto, empresas e associações empresariais como a ANJE, para além da própria autarquia com iniciativas como a InvestPorto e o ScaleUp Porto.

Será suficiente possuir estruturas e programas, seja no domínio da investigação seja da incubação de start-ups? Basta ter recursos e competências nas áreas tecnológica e de gestão? A resposta é simples: não. É necessária uma massa crítica, com capacidade de iniciativa, criatividade, resiliência e, principalmente, que encare o insucesso como um passo muitas vezes necessário para se alcançarem êxitos maiores no futuro. É imperativa uma atitude empreendedora!

Mas isso não chega. É fundamental haver emoção e paixão na atitude de quem empreende e é capaz de criar new ventures. E este grupo de pessoas não deve ser conhecido por classe empresarial, pois é muito mais do que isso – é a tribo dos empreendedores.

Temos, por isso mesmo, um enorme desafio pela frente. Quer queiramos quer não, a verdade é que Portugal não tem, há séculos, uma cultura empreendedora – já a teve, e nessa altura fomos grandes! Isto reflete-se, curiosamente, em coisas tão simples como o próprio vocabulário. Apenas um exemplo: àquilo que designamos de capital de risco, os anglo-saxónicos chamam venture capital – o “capital da aventura” numa tradução liberal.

Neste contexto, as universidades assumem um papel central no desenvolvimento de competências e transformação de mentalidades. Falamos, por isso, de uma formação de cidadãos com espírito e essência empreendedora, capaz de levar Portugal a “novos descobrimentos”.

Portugal percorre uma viagem que nos levará a bom porto. Os ecossistemas de inovação do país iniciaram uma trajetória que se espera venha a ter um impacto decisivo no reforço da competitividade da economia portuguesa, assente na valorização do conhecimento. Estruturas e competências existem, falta-nos agora superar o desafio da atitude e da paixão.

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