Lisboa taciturna e um pequeno clarão de luz
Só não o conhecemos — os seus humores e as suas sombras, as suas paixões, as suas luzes e a sua Lisboa — se não quisermos. "Eu sou o que está ali", reconhece Rui Rodrigues, com um dia-a-dia que se confunde com a fotografia. "Hoje em dia sim, é indissociável. É o meu dia-a-dia, o meu olhar sem subterfúgios, mesmo que tenha por vezes alguns filtros." @ruicartaxorod é um daqueles utilizadores do Instagram que sai à rua e fica hipnotizado. Vê, respira, fotografa e revela. "A fotografia é uma relação de amor-amor, isto é, sempre positiva. Ela dá-me muito a ganhar e nada a perder. É uma parte fundamental da minha vida, um complemento vitamínico sem prescrição médica que me deixa mais feliz." Rui, 39 anos, trabalha como designer na editora Quetzal e começou a fotografar há cerca de dez anos "de forma esporádica". Uns tempos mais tarde roubaram-lhe a máquina e deixou a fotografia em "standby" até à chegada dos "smarphones" e do Instagram. "E tudo recomeçou." Viveu em Torres Vedras muitos anos e hoje vive "a cidade com a luz mais bonita do mundo" na companhia do filho, que há dois anos ilumina uma galeria de fotos taciturnas e muitas vezes severas — "velhotes, pessoas cabisbaixas, nevoeiro, o Tejo oriental dos barcos e dos batelões". "É mais que um raio de luz. É um clarão de luz na minha vida. Ele veio dar luz à minha vida e cor ao meu Instagram. Ele veio recentrar-me no mundo. É a minha prioridade, a minha bússola, o meu fotómetro que me diz que velocidade devo seguir ou que abertura devo ter com o mundo. Num registo de grande sensibilidade." O pequeno e loiro Luís ocupa grande parte do tempo do pai, que agora sai de casa com as duas mãos ocupadas. "Ele serve de contraponto à negritude das minhas fotos".Cartier-Bresson disse que "a fotografia é colocar na mesma linha de visão a cabeça, o olhar e o coração". A fotografa de Rui entende esse equilíbrio.