Vamos malhar na Maria José?

Infelizmente, a Maria José não tem a mínima ideia do significado de se ter um filho homossexual, toxicodependente ou as duas coisas ao mesmo tempo, confundindo comportamentos aditivos com orientação sexual

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Joana Bougard/ Arquivo

Lembram-se daquelas revistas das Edições Paulistas espalhadas ao acaso nas salas de espera de consultórios e repartições de todo o país, aquelas mesmas revistas nas quais ninguém pegava ou lia, seja por puro desinteresse ou porque o aborrecimento se tornaria por demais intolerável quando a espera já vai longa? Pois bem, parece que Maria José Vilaça, a responsável da Associação de Psicólogos Católicos (alguém sabia da existência de uma associação de Psicólogos Católicos?), face à pergunta “Como acolher os homossexuais?" veio dizer para uma dessas revistas a seguinte barbaridade: ”Eu aceito o meu filho, amo-o se calhar até mais, porque sei que ele vive de uma forma que eu sei que não é natural e que o faz sofrer. É como ter um filho toxicodependente, não vou dizer que é bom.“

Infelizmente, apesar da formação superior, e logo em Psicologia, a Maria José desconhece que no dia 17 de Maio de 1990 a Organização Mundial de Saúde retirou a homossexualidade da lista internacional de doenças. Sim, Maria José, levou tempo, mas entretanto já passaram 26 anos, sendo a actualização de conhecimentos em contexto de trabalho uma premissa fundamental para a boa prática no dia a dia. Infelizmente, a Maria José não tem a mínima ideia do significado de se ter um filho homossexual, toxicodependente ou as duas coisas ao mesmo tempo, confundindo comportamentos aditivos com orientação sexual. E se a Maria José é, de facto, católica, deveria saber que para Deus somos todos iguais, todos Seus filhos, nem melhores, nem piores, diversos, sim, mas igualmente merecedores do Seu amor. Agora, pergunto eu, o que fará a Maria José diante de um paciente homossexual com tendências suicidas? Temo saber a resposta, Maria, e por isso compreendo os comentários de quem classifica o seu comportamento de criminoso.

Mais, a Maria José procura através desta entrevista impingir crenças e preconceitos através do seu título académico. Ora, isto é de tal modo eticamente reprovável que levou a Ordem dos Psicólogos a abrir um inquérito à dita psicóloga. E ainda bem. E por isso nem tudo são más notícias: as reacções nas redes sociais não se fizeram esperar e são boas, na esmagadora maioria repudiando o preconceito e a homofobia, sinal que estamos mesmo a andar para frente. Isso ou, tendo em conta o número de insultos dirigidos à Maria José, o que a gente gosta mesmo é de malhar.

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