“Contraí uma responsabilidade para com os eleitores e não fujo”
O presidente do PSD, Pedro Passos Coelho, garante não só que cumprirá o mandato como líder do partido, mas também deixa claro que é candidato a primeiro-ministro em próximas eleições legislativas.
Disse há pouco tempo que saía da liderança do PSD pelo seu próprio pé, quando o PSD quisesse. O facto de admitir esta possibilidade não é uma forma de reconhecimento da fragilidade da sua liderança?
Deixe-me dizer desta maneira. Eu tenho um mandato no PSD. Esse mandato é claro. E não pode, do ponto de vista eleitoral, ter uma expressão que me deixe mais confortado. Não tive oposição nessa eleição. A participação dos militantes foi significativa. E eu fui eleito para um mandato de dois anos. Não me sinto nada fragilizado, antes pelo contrário. Tenho esse mandato para cumprir. Vou cumpri-lo.
Mas reconhecer esta possibilidade…
Não se trata de mais do que a humildade de quem está para servir e não para se servir. Agora, eu não fujo aos meus combates nem às minhas responsabilidades. E eu tenho um mandato à frente do PSD e tenciono respeitá-lo. Mais do que isso: eu quando me recandidatei a um novo mandato à frente do Governo contraí uma responsabilidade para com os eleitores e não fujo a essa responsabilidade nesta legislatura.
Portanto, não põe a hipótese de abandonar a liderança do PSD antes das autárquicas?
Nunca abandonei combate nenhum.
Se percebi bem a sua resposta não está pensar sair antes das autárquicas nem até às legislativas, é isso.
O que estou a dizer é que cumprirei o meu mandato seguramente.
Mas falou em responsabilidade eleitoral também.
Eu tenho uma responsabilidade eleitoral também relativamente aos portugueses. Agora já não estou a falar da responsabilidade eleitoral em relação aos militantes do PSD, estou a falar, atenção, aos eleitores. Não imponho, evidentemente, a minha liderança dentro do PSD. Preciso do apoio prévio do PSD para puder representar devidamente esses eleitores.
A sua intenção é recandidatar-se a umas próximas eleições?
Essa é sempre a predisposição de quem foi eleito e de quem está a sério nas coisas. Não estou aqui a fazer cálculos mentais para saber qual é a altura ideal para sair. Não, não. Eu tenho um mandato muito claro a que não renuncio e tenho uma responsabilidade de que darei conta ao partido e aos portugueses.
Olhando para o PSD hoje em dia, a ideia que dá é de que não alternativas à sua liderança. Não acha que secou um pouco o PSD?
Parece-me haver uma certa contradição na pergunta que me está a fazer e na que fez há pouco, porque há pouco estava a dizer que eu estava fragilizado dentro do PSD.
Não ter uma oposição interna também o fragiliza, é uma forma de o fragilizar. É o outro lado da mesma questão.
Isso implica de alguma maneira um cenário de disputa pela liderança que enfraquecesse a minha liderança. Mas isso de facto não acontece. Não vou fazer endoscopias partidárias para saber quem é que poderá estar no futuro mais bem colocado para ser presidente do PSD ou não.
Mas a inexistência de oposição interna não o fragiliza?
Repare que dentro do PSD há uma tradição que tem sido sempre respeitada de ter um espaço de tolerância muito grande para a diferença de opiniões e ela existe. Eu quero dizer que mesmo durante todo o tempo que estive no Governo não tive um processo de bajulação dentro do PSD. Eu ouvi muitas críticas dentro do meu partido. Mas não confundo as críticas que ouço e as vozes discordantes dentro e fora do PSD que apareceram associadas a figuras conhecidas no PSD, nunca associei isso a nenhum processo de desestabilização interna ou de disputa interna de liderança. Isso não significa que não haja pessoas que pensem de outa maneira e que discordem e que pronunciei essas discordâncias. E eu sempre incentivei isso, nunca tive nem medo da crítica, nem nunca procurei, por exemplo, evitar os órgãos para não ouvir críticas que podiam ser inconvenientes. Nunca. Ouvi sempre toda a gente e coloquei sempre toda a gente à-vontade para dizer sempre aquilo que pensa.
Há quem diga que está a preparar Maria Luís Albuquerque para lhe suceder. Gostava de a ver na liderança do PSD?
Acha que eu vou fazer considerações sobre a minha sucessão?
Um dia, mais tarde.
De maneira nenhuma. Nem agora, nem mais tarde. Nem o PSD é uma monarquia. Não é. Portanto, nunca serei eu a indicar o meu sucessor.
Diz isso, mesmo assim claramente que nunca apoiará um sucessor? Nunca apoiará um candidato?
Isso é diferente. Agora, isto não é uma questão dinástica. Não os líderes que indicam os seus sucessores. Isso não existe. Portanto, nunca farei isso e não vou fazer intervenção nenhuma a fazer considerações, sendo líder do PSD sobre a futura liderança do PSD, qualquer que ela seja.
Considera que o PSD poderá voltar ao poder sozinho, ser Governo com maioria absoluta?
Não posso invalidar, no plano teórico, esse tipo de resultados. O que posso dizer é que são resultados muito pouco frequentes. Mesmo os que aconteceram não são a circunstância normal. Mas não vou fazer especulações sobre coisas que não estão sequer no nosso horizonte. Não me parece que o horizonte mais imediato em Portugal seja de eleições legislativas, o que temos é um cenário de eleições autárquicas em 2017.
david.dinis@publico.pt