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Agência Espacial Europeia confirma silêncio de módulo em Marte

Agência Espacial Europeia ainda está a analisar dados sobre a descida do seu módulo de aterragem no solo de Marte. Apesar de não haver qualquer sinal de vida do aparelho, os cientistas recusavam esta quinta-feira declarar-lhe a morte

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O módulo europeu de aterragem Schiaparelli
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Ilustração da aterragem em Marte do módulo Schiaparelli ESA/ATG medialabs
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Os responsáveis da Agência Espacial Europeia a fazer o ponto da situação sobre o módulo de aterragem Kai Pfaffenbach/Reuters

Tudo terá corrido bem até aos últimos 50 segundos da viagem. A partir daí, o módulo de aterragem Schiaparelli, que na tarde de quarta-feira desceu até ao solo de Marte, deixou de enviar qualquer sinal. A “reconstituição” da descida revela, para já, duas falhas: o Schiaparelli libertou-se demasiado cedo do pára-quedas e os foguetões desligaram-se antes do previsto. Estes eram dois mecanismos serviam para abrandar a velocidade do módulo de 577 quilos que entrou na atmosfera de Marte a 21 mil quilómetros por hora. Sem estes “travões”, a velocidade do embate no solo marciano pode ter sido fatal.

A Agência Espacial Europeia (ESA)  acredita que só dentro de alguns dias vai conseguir perceber claramente o que aconteceu ao módulo Schiaparelli na quarta-feira. Para já, o director-geral da ESA, Jan Woerner, prefere sublinhar o que correu bem naquele dia. “A sonda europeia Trace Gas Orbiter (TGO) está correctamente posicionada na órbita de Marte e pronta para a ciência”, disse Jan Woerner numa conferência de imprensa esta quinta-feira de manhã, garantindo que a segunda parte da missão ExoMars, que prevê levar um rover até Marte em 2020, não está comprometida.

“A primeira etapa da missão ExoMars tinha dois momentos. A sonda TGO está a funcionar e pronta para a próxima fase. Recebeu e transmitiu os dados da descida do módulo de aterragem. Pela segunda vez, passados 13 anos da Mars Express, a ESA conseguiu com sucesso colocar uma sonda na órbita de Marte. É um marco importante”, reforçou Andrea Accomazzo, director da Divisão de Missões Planetárias da ESA.

Sobre o Schiaparelli, Andrea Accomazzo confirmou que a ESA perdeu o sinal do módulo quando faltava menos de um minuto para aterrar no solo. Segundo adiantou, com os dados recebidos da sonda TGO, já foi possível concluir que o Schiaparelli “entrou na atmosfera e abriu o pára-quedas no momento certo e o escudo funcionou sem falhas”. Porém, “no ponto em que se libertou do pára-quedas, não se comportou como esperávamos”.

Os sinais recebidos indicam que o módulo poderá ter-se libertado do pára-quedas demasiado cedo e os pequenos foguetões que serviam para suavizar a aterragem ter-se-ão também desligado antes do momento certo, funcionando apenas durante três ou quatro segundos quando deviam ter disparado durante 30 segundos.

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O módulo espacial europeu nas últimas preparações antes da partida para o espaço a bordo de um foguetão russo ESA/ B. Bethge

Presume-se, assim, que o Schiaparelli tenha entrado numa queda livre a cerca de um ou dois quilómetros da superfície do planeta e chocado violentamente no solo. Porém, não há certezas. “Do ponto de vista da engenharia, é para isto que serve um teste e temos informações importantes para trabalhar. Vamos estudar em detalhe todas estas informações mas, neste momento, não podemos especular muito mais”, disse David Parker, director de voos espaciais e exploração robótica da ESA.

O prognóstico está longe de ser favorável mas, pelo menos para já, nenhum dos responsáveis da ESA quis declarar a (previsível) morte do Schiaparelli. Aliás, até há ainda quem acredite numa espécie de milagre. “Ele está seguramente na superfície de Marte mas perdemos o sinal”, referiu à agência de notícias AFP Frédéric Béziat, responsável pelo projecto da missão ExoMars no centro da Thales Alenia Space, em Cannes na França, acrescentando: “Ainda temos a esperança de que Schiaparelli esteja na superfície e vivo.”

Neste momento, os responsáveis da ESA preferem sublinhar que a parte da missão que envolvia a colocação da TGO em órbita de Marte foi um sucesso. E, sobretudo, quiseram deixar bem claro que acreditam que a missão ExoMars, que envolve um investimento de cerca de 1300 milhões de euros, está no rumo certo. O Schiaparelli faz parte da primeira etapa da missão ExoMars, um projecto entre a ESA e a Rússia, e terá custado 230 milhões de euros. Numa segunda etapa, a ESA quer pôr um rover em Marte daqui a quatro anos e, para isso, diz precisar de mais 300 milhões de euros.

O provável desastre do Schiaparelli pode servir de lição e acabar por ser útil para corrigir alguns problemas, mas não será um bom argumento para angariar mais fundos para a missão. Confrontado com esta dificuldade, o director-geral da ESA assegurou: “A ExoMars está em curso. Temos as bases para uma missão europeia de sucesso à procura de vida em Marte.”

Até agora, só a NASA conseguiu que as suas sondas e robôs chegassem inteiros ao solo marciano. O que significa que só sete aparelhos conseguiram essa proeza. Muitas outras missões de aterragem no planeta vermelho falharam, tanto dos Estados Unidos como da Rússia e uma da Europa (o Beagle 2, de uma universidade britânica). Vai ser preciso esperar ainda alguns dias para ter conclusões definitivas sobre o destino do Schiaparelli mas, para já, o silêncio de Marte parece um silêncio de morte.

 

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