Portugal também vai ao planeta vermelho

O módulo Schiaparelli foi vestido com um “fato à medida” feito em Portugal. Esta quarta-feira, a tecnologia nacional vai chegar longe. E todos vão acompanhar e celebrar os “sete minutos de terror”.

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ESA/ATG Medialabs

Construir o que quer que seja para levar até Marte não é tarefa que alguém faça num dia. É preciso muito tempo e muitas pessoas a trabalhar. Portugal não ficou fora desta aventura da Agência Espacial Europeia e da Rússia e também participou na missão ExoMars. Desde o revestimento do módulo Schiaparelli até a simulações que levaram a um novo plano da missão, passando pelo desenvolvimento de software e pela elaboração de mapas térmicos, Portugal foi a bordo desta viagem.

O módulo Schiaparelli leva até Marte um “fato à medida” feito em Portugal. Celeste Pereira, directora operacional da empresa luso-alemã HPS, prefere chamar-lhe um “isolamento térmico multicamadas denominado MLI”. Na verdade, trata-se de um material de revestimento resistente a temperaturas que podem ir dos 150 graus Celsius negativos a um limite máximo de 400 graus positivos.

O material concebido pela HPS foi adaptado para esta missão e produzido em salas esterilizadas para evitar qualquer contaminação biológica da Terra em Marte. O revestimento metalizado, conta Celeste Pereira, cobre o corpo negro do equipamento e instrumentos que estão no interior da cápsula Schiaparelli. Num contrato que ascende a um milhão de euros, a HPS teve oito pessoas a trabalhar a tempo inteiro na missão durante três anos. Produziram 15 quilos de “fato” ou MLI que protegem o Schiaparelli.

De certa forma, Mário Lino, do Instituto de Plasmas e Fusão Nuclear (do Instituto Superior Técnico), em Lisboa, também ajudou a proteger o módulo. A participação do instituto foi numa fase de pré-projecto, mas terá sido decisiva. As simulações detectaram possíveis problemas com a elevada radiação emitida pelo dióxido de carbono na atmosfera de Marte e terão sido fundamentais para a decisão de partir a missão ExoMars em duas etapas: uma para levar a sonda Trace Gas Orbiter (TGO) e o módulo de aterragem Schiaparelli e a segunda que levará o rover em 2020. “Estou mais ou menos confiante”, diz Mário Lino ao PÚBLICO, mencionando a possibilidade de o Schiaparelli aterrar em Marte durante uma tempestade de areia.

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Equipa da Critical Software com a sonda TGO na sala limpa da Thales Alenia Space, em Cannes, França Critical Software

“Uma tempestade de areia não seria mau. Existe a esperança de que haja poeira a ser levantada para que se possam tirar dados. O Schiaparelli pode medir isso”, defende, por seu lado, Bruno Carvalho, responsável pela área de espaço da empresa Critical Software. Tal como o nome indica, esta empresa foi responsável por software desenvolvido especificamente para a ExoMars. A participação foi mais dirigida para a TGO mas, ainda assim, é o software ali instalado que vai permitir receber os dados enviados pelo módulo e que depois serão transmitidos para a Terra. “O nosso software nunca chegou tão longe”, constata Bruno Carvalho, que diz estar preparado para assistir hoje “sete minutos de terror”, o tempo que o Schiaparelli demora desde a entrada na atmosfera rarefeita de Marte até pousar no solo.

Ricardo Patrício, da empresa portuguesa Active Space Technologies, corrige: “Depois desses sete minutos ainda vamos ter de esperar uma meia hora para receber os dados e saber se está tudo a funcionar.” Neste caso, os cientistas fizeram simulações em computador para elaborar mapas térmicos que ajudaram a decidir o local de aterragem. Mas, segundo Ricardo Patrício, a participação da empresa está sobretudo centrada na segunda etapa da missão, com a chegada do rover em 2020.

Esta quarta-feira, todos investigadores das empresas portuguesas envolvidas na aventura da missão ExoMars, que deverá custar no total mais de 1500 milhões de euros, vão acompanhar a transmissão em directo da aterragem do Schiaparelli em Marte e celebrar o momento especial. Ou espacial, se preferirem.

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