Rui Moreira pode chegar a 2017 sem adversário de peso

Na Câmara do Porto reconhece-se que falta combate, mas fala-se de uma “oposição subterrânea e sem rosto que vem de um sector do PS que pode comprometer o acordo” com os socialistas.

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O autarca do Porto quase não tem oposição na câmara Martin Henrik

Rui Moreira termina o seu terceiro ano à frente da Câmara do Porto praticamente em estado de graça e sem oposição política consolidada. O independente, que foi a surpresa da noite eleitoral em 2013, vai recandidatar-se e o PSD, principal partido da oposição, anda às voltas para encontrar um candidato à segunda autarquia do país.

Ao longo destes três anos, o autarca tem conseguido captar simpatias e, ao mesmo tempo, capitalizar a visibilidade que foi granjeando ao longo dos anos como comentador nos media, mas também como presidente da Associação Comercial do Porto. Em 2013, Rui Moreira contou com um apoio nunca verbalizado de Rui Rio (o candidato do PSD era Luís Filipe Menezes) de quem se distanciou após a eleição.

E como conseguiu Rui Moreira neutralizar a oposição? Fez um acordo pós-eleitoral com o PS para viabilizar a governação na Câmara do Porto e, com isso, tirou os socialistas do caminho da oposição. Manuel Pizarro, primeiro vereador do PS e líder da federação distrital, está incondicionalmente ao lado do presidente. Para além disso, também a concelhia apoia incondicionalmente a sua recandidatura do autarca em 2017.

Mas esta união Moreira-Pizarro não tirou a voz à vereadora socialista, Carla Miranda, que tem feito alguma contestação às políticas do autarca, como aconteceu recentemente com a questão do estacionamento na cidade. E a relação com o vereador Manuel Correia Fernandes, eleito como independente na lista do PS, nem sempre tem corrido bem com Moreira. Porém esta oposição acaba por não ter grande relevância - apenas cria ruído interno, uma vez que não tem a cobertura política do partido.

Fonte próxima do presidente fala de uma “oposição subterrânea e sem rosto” que, afirma, “vem de um PS próximo de António Costa, que defende uma candidatura alternativa à de Rui Moreira" e que está ligado a um “conjunto de factos públicos, como o concurso para a reabilitação do Pavilhão Rosa Mota e o caso Selminho  [a imobiliária do presidente e dos seus familiares, com a qual a câmara fez um acordo extrajudicial já com Moreira à frente da presidência, num processo que tem sido alvo de várias críticas]”. A mesma fonte dá conta da insatisfação do presidente perante esta situação, e adianta que esta “oposição pode por em causa o acordo com o PS” para 2017.

Quando estas divergências ainda não permitiam compreender o caminho que o PS viria a fazer, o presidente da câmara fez uma aproximação ao PSD. Numa altura em que Manuel Sampaio Pimentel - do CDS, o único partido que apoiou a candudatura de Moreira em 2013 - suspende o mandato por 120 dias, Rui Moreira foi à bancada da oposição repescar o vereador Ricardo Valente, eleito nas listas do PSD como independente, para assumir pelouros (Desenvolvimento Económico e Social). Desta forma, o PSD vê fugir-lhe um dos vereadores sociais-democratas, ainda escolhidos por Luís Filipe Menezes, e os sinais de ruptura na bancada social social-democrata entre Amorim Pereira - a quem a concelhia, conotada com Rui Rio, retirou a confiança política, por aquele não ter permitido ao PSD que o substituísse numa reunião do executivo em que não podia estar presente - e Ricardo Almeida agudizam-se. Os dois eleitos do PSD não só se envolvem em querelas como votam de forma diferente, dando sinais de desintegração.

Ao PÚBLICO, Ricardo Almeida reconhece que o PSD já foi mais incisivo na oposição a Rui Moreira, mas alega que esta questão é difícil de contornar: “Há vários PSD. Há o PSD da nacional, há o da distrital, o da concelhia e isso tem consequência na eficácia da oposição”. “Tenho sido o único a apresentar propostas de recomendações concretas sobre questões directas da cidade”, aponta.

Fonte social-democrata garantiu ao PÚBLICO que, a certa altura, “houve indicações do partido para que fosse suavizada a oposição na Câmara do Porto, porque havia uma clara intenção de aproximar o partido de Rui Moreira e chegou a haver reuniões entre o presidente e as estruturas do partido”. Mas, aparentemente, o PSD terá deixado cair essa ideia e está agora apostado em ter um candidato próprio.

Luís Artur, que lidera a bancada do PSD na Assembleia Municipal do Porto, discorda que haja falta de oposição e diz que Rui Moreira transferiu muito do debate político para a assembleia municipal, embora admita que, em termos de câmara, o PSD está “muito debilitado”. “Amorim Pereira tem feito mais intervenções a favor de Rui Moreira, votando favoravelmente os orçamentos”, observa.

“Na assembleia, onde se faz oposição a sério, só há duas forças políticas: o PSD e o PCP”, declara, sublinhando que “em todas as sessões o partido apresenta propostas”. Quanto ao combate autárquico do próximo ano, diz que o partido está a prepará-lo, porque - acredita - a “vitória de Rui Moreira não é uma inevitabilidade. Em democracia não há vencedores antecipados”.

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