PCP e BE confrontam Costa com salários "inaceitáveis" da CGD
Catarina Martins considera “simplesmente inaceitável” os salários “milionários” dos gestores da CGD.
A coordenadora do BE, Catarina Martins, reiterou que é “simplesmente inaceitável” os salários “milionários” dos gestores da CGD, mas disse que não discute “como a direita” se o presidente do banco público deve ganhar “quatro ou cinco” vezes mais do que o primeiro-ministro.
A declaração inflamada surgiu durante o debate com o primeiro-ministro sobre a preparação do Conselho Europeu. Catarina Martins sugeriu que a bancada irá voltar a trazer o tema à Assembleia da República porque “o assunto não está encerrado”. É que o BE tem um projecto de lei sobre a limitação dos salários dos gestores públicos. A questão virá mesmo ao Parlamento pela mão do PSD.
Perante os apartes que se tinham ouvido da bancada do PSD, Jerónimo de Sousa veio em socorro das propostas do seu partido e atacou a bancada em frente. "Foi hoje discutida na Comissão de Orçamento e Finanças uma proposta do PCP visando limitar os salários dos gestores públicos ao do primeiro-ministro. Resultado? PSD e PS votaram contra, permitindo assim o farto aumento de salários e privilégios", acusou o líder comunista. E pediu: "No mínimo tenham cuidado, vejam o que se passou na comissão antes de mandarem esses apartes."
O social-democrata Duarte Pacheco considera “inaceitável” as remunerações da CGD quando o banco precisa dos “impostos dos portugueses”, referindo-se ao processo de recapitalização. “É uma vergonha”, afirmou, aos jornalistas, no Parlamento. O deputado disse recusar entrar numa “demagogia fácil”, mas adiantou que a bancada vai propor uma alteração ao Estatuto do Gestor Público. O PSD votou, esta manhã em comissão, contra uma proposta do PCP que limitava os salários dos gestores públicos – com tecto máximo a 90% do vencimento do Presidente da República – e essa posição mereceu uma crítica por parte do CDS-PP.
Os centristas acusam os partidos da esquerda e também o PSD de nada fazerem, para deixar tudo na mesma. “Seja o PCP e o BE a arranjarem desculpas para fazerem o favor do PS, seja o PSD a votar contra [a proposta comunista], todos permitiram que os gestores da Caixa continuem sem limites ao salário e sem regras”, afirmou a vice-presidente do CDS, Cecília Meireles. A deputada lembrou que “se a apreciação parlamentar do PSD e CDS [à excepção dos administradores da CGD ao estatuto dos gestores públicos] tivesse sido aprovada pela esquerda o problema já estava resolvido”.
PS critica PSD que votou ao seu lado
Com uma difícil tarefa de tentar criticar o PSD por votar ao lado do PS para reprovar a proposta do PCP, o deputado socialista João Paulo Correia apontou o “desnorte, a incoerência e a demagogia” dos sociais-democratas nesta discussão sobre os salários dos gestores públicos. Se na terça-feira criticaram o facto de o ordenado do novo presidente da CGD ser praticamente o dobro do salário do anterior gestor máximo do banco público, esta quarta-feira votaram ao lado do PS para chumbarem a limitação dos salários dos gestores proposta pelo PCP, argumentou o deputado.
“O PSD votou contra, como o PS, perdendo a oportunidade de seguir o que dissera ontem, de que era desfavorável ao modelo de vencimentos dos administradores da CGD decidido pelo actual Governo”, apontou o deputado socialista, que acusou os sociais-democratas de “comportamento bipolar” e de fazerem um “ataque à estrutura da CGD e ao sucesso da negociação do plano de reestruturação e recapitalização”.
João Paulo Correia defendeu o novo modelo de vencimentos que faz com que o presidente da Caixa tenha agora um salário que é a média dos ordenados dos presidentes do Novo Banco, BPI e BCP. Com o Governo PSD-CDS a regra para a definição dos ordenados dos administradores da Caixa era a média do salário dos últimos três anos das suas profissões antes de entrarem no banco público.
O deputado argumentou que o modelo de vencimentos da Caixa definido pelo Governo de António Costa “é bem mais em conta para o Estado e para os contribuintes”. Disse que essas contas estão feitas, mas, tal como o ministro das Finanças não as revelou, também não será o PS a fazê-lo. Mas depois deixou no ar a ideia de que mesmo que esta equipa de gestão venha a ficar mais cara, isso será dissipado pelo facto de ir conseguir trazer o banco público de volta aos lucros – algo que, fez questão de vincar, a anterior administração não conseguiu durante vários anos.