Coelho ficou a falar sozinho e às escuras na Assembleia da Madeira
Deputado do PTP voltou a usar megafone no plenário para falar de investigadora condenada por “delito de opinião”.
O deputado do PTP José Manuel Coelho voltou na manhã desta terça-feira a provocar a interrupção dos trabalhos na Assembleia Legislativa da Madeira (ALM), recorrendo-se de um megafone para continuar a falar depois de esgotado o tempo de intervenção.
Coelho, que tem protagonizado vários episódios semelhantes no parlamento madeirense, não acatou a ordem da mesa da assembleia para que terminasse de falar, e quando o som do microfone foi cortado, continuou a intervenção com um megafone.
O presidente da ALM, Tranquada Gomes, ordenou a evacuação da sala – jornalistas inclusive –, deu indicações para a iluminação ser desligada, mas o deputado permaneceu, sozinho, a falar (o vídeo acima é do Diário de Notícias da Madeira).
O parlamentar, e antigo candidato à Presidência da República, falava sobre o caso de Maria de Lurdes Lopes Rodrigues, uma investigadora que começou a cumprir pena no início deste mês por crimes de injúria e difamação a agentes judiciais.
“A nossa justiça continua a ter tiques salazaristas, que resultam em casos destes”, lamentou depois ao PÚBLICO o deputado, acusando os restantes partidos de “hipocrisia” por permanecerem em silêncio perante um atentado às liberdades individuais como é este caso.
Até o Bloco de Esquerda, continuou José Manuel Coelho, que tanto defendeu Luaty Beirão, abandonou a sala e prefere “fechar os olhos” a este caso. Coelho, por outro lado, garante que vai continuar a denunciar estes excessos da justiça portuguesa. “Vamos até lá [à Prisão de Tires] mostrar a nossa solidariedade com a investigadora, porque está em causa um delito de opinião”, prometeu o deputado, admitindo que intervenções como a desta manhã poderão ter reflexos negativos na sua reeleição. “As minhas intervenções políticas não são pensadas para ganhar votos. São sim ditadas pela minha consciência”, argumentou.
Primeiro como deputado do PND, e depois eleito pelo PTP, José Manuel Coelho, que em 2011 foi candidato à Presidência da República, tem sido o rosto de várias polémicas no parlamento madeirense. Já levou um relógio de cozinha pendurado ao pescoço, em protesto contra o reduzido tempo de intervenção atribuído à oposição pelo anterior regimento, vestiu um fato de presidiário, desfraldou uma bandeira nazi e, já este ano, com o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, a assistir, agitou uma bandeira do Daesh.
A interrupção desta terça-feira, que demorou cerca de 15 minutos, aconteceu quando o parlamento regional discutia as verbas atribuídas à Madeira na proposta de Orçamento de Estado 2017. PSD, CDS e PCP deixaram duras críticas pelo facto de, ao contrário do “prometido” por António Costa, o Orçamento não contemplar verbas para o arranque da construção do novo hospital madeirense.
O PS, através de Jaime Leandro, defendeu-se notando que o documento ainda vai ser discutido na Assembleia da República e haverá tempo para introduzir alterações. Argumento utilizado também pelo Bloco de Esquerda, que sublinhou que irá apresentar propostas nesse sentido.