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Com o Trump é só conversa? Várias mulheres acusam-no de abuso sexual

Depois do escândalo da gravação de 2005 que mostra Trump a descrever os seus avanços sexuais sobre mulheres, o republicano defendeu-se a dizer que não passava de conversa de balneário e que nunca tinha abusado ninguém. Várias mulheres desmentem-no e há novos vídeos.

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Mulheres, adolescentes e até uma criança de 10 anos. Denúncias contra Trump continuam a aparecer JOE RAEDLE/AFP

Jessica Leeds quis “esmurrar o ecrã” quando ouviu Donald Trump reagir ao escândalo causado pela publicação de um vídeo de 2005 onde tece comentários sexistas e abusadores sobre mulheres, argumentando que não passavam de palavras e que nunca se concretizaram em acções. Jessica Leeds acusa agora o candidato republicano de estar a mentir – e não é a única.

Entre as denúncias que esta quinta-feira vão enchendo os jornais internacionais, há a publicação de um vídeo de Trump a fazer comentários sobre uma menina de dez anos. "Daqui a dez anos vou namorar com ela, acreditam?", comenta Trump quando se cruza com a criança numa escada rolante, em 1992, numa das Torres Trump. Então, o candidato republicano tinha 46 anos.

Numa entrevista ao New York Times, Jessica Leeds, agora com 74 anos, recua cerca de três décadas para recordar uma viagem de avião onde Trump terá abusado sexualmente dela.

O episódio ocorreu num voo para Nova Iorque que colocou lado a lado Jessica Leeds e Donald Trump, desconhecidos até à data. Na altura, com 38 anos, Jessica viajava em classe económica quando foi convidada por uma assistente de bordo a ocupar um lugar na primeira classe. Era ao lado de Trump. Cerca de 45 minutos depois de o avião descolar, Trump levantou o apoio de braço que separava os dois assentos e começou a tocar Jessica, conta.  

“Parecia um polvo. Tinha as mãos em todo o lado”, lembra a, à data, empresária na área do papel. De acordo com Jessica Leeds, o candidato à Casa Branca apalpou-lhe as mamas e tentou colocar a mão debaixo da sua saia.

Esta história não é a única. Em 2005, no mesmo ano do vídeo partilhado na sexta-feira passada pelo Washington Post, Rachel Crooks tinha 22 anos e trabalhava como recepcionista no grupo Bayrock quando se cruzou com Donald Trump num elevador. Sabendo que a sua empresa tinha negócios com Trump, Rachel apresentou-se e cumprimentou-o com um aperto de mão. Trump não a largou, diz. Começou por beijá-la na cara e depois directamente na boca, conta, confirmando o que o próprio Trump diz na gravação, onde se gabar de que começa “simplesmente a beijá-las". "É como um íman. Nem espero”, afirmava. Rachel é categórica: “Não foi um acidente. Foi uma violação.”

“Foi tão inapropriado. Fiquei furiosa por ele pensar que eu era tão insignificante que ele tinha o direito de fazer-me uma coisa daquelas”, comenta. Depois do incidente, Rachel Crooks regressou ao seu posto de trabalho e ligou imediatamente à irmã a relatar o episódio, recorda.

Trump desmente NYT e revista People

Depois de ouvir as duas mulheres, o jornal norte-americano ligou ao candidato republicano que, entre gritos, negou as acusações. “És um ser humano nojento”, respondeu Trump, quando o jornalista o questionou.

Nenhuma das mulheres apresentou uma queixa às autoridades. Na década de 1970 e 0980, contextualiza Jessica Leeds, as mulheres aceitavam este tipo de avanços de homens porque foram ensinadas “de que a culpa era das mulheres”. Apagou o episódio – até Trump anunciar a sua candidatura.

Rachel Crooks, que trabalhava indirectamente para Trump, contou ao namorado. Ambos discutiram o que fazer. “Mais do que ficar chateada por causa do beijo, penso que foi o facto de ela sentir que não conseguia fazer nada por causa da posição dele”, conta Clint Hackenburg, o namorado à data. “Ela tinha 22 anos. Era secretária. Era o seu primeiro trabalho depois da universidade. Lembro-me de na altura ela ter dito ‘não posso fazer nada porque ele é o Donald Trump’”, conta Hackenburg.

A Jessica e Rachel somam-se as histórias de Natasha, Mindy, e mais duas mulheres que não quiseram ser identificadas. Os casos continuam a surgir. A reacção demorou mais do que o habitual, mas acabou por acontecer por volta das 10h de Washington DC (cerca das 15h em Lisboa). Trump reagiu no Twitter – como é seu costume - dizendo que as acusações das duas mulheres citadas no The New York Times são fruto de "uma fabricação total" e nega que o episódio descrito pela jornalista da revista People tenha acontecido, questionando os 12 anos que demorou até vir a público. Às 11h na capital norte-americana Trump não tinha ainda comentado as notícias partilhadas pelo The Guardian.

Horas antes, o seu advogado Marc Kasowitz já tinha desmentido as denúncias citadas pelo New York Times e escrito um e-mail ao jornal norte-americano acusando-o de estar a fazer uma contra campanha ao candidato republicano. 

O advogado exige ao jornal que apague o artigo, escreva um desmentido e um pedido de desculpas. Kasowitz diz que o texto é “imprudente, difamatório e constitui calúnia”.

O advogado desmente também a história de Natasha, uma jornalista da revista People, que escreve um artigo baseado na sua própria experiência com um candidato, depois de Trump afirmar no domingo que não beijava mulheres sem o seu consentimento.

O jornal britânico The Guardian partilha ainda a história de duas concorrentes do Miss USA 2001. Ao jornal, as duas mulheres contam queTrump – que na altura era dono do concurso de beleza – entrava nos balneários e ficava simplesmente a observá-las "porque podia".

Ainda assim, e apesar de o eleitorado feminino ser o que menos apoia Trump, existem mulheres a defender os comentários do candidato. “É apenas um homem a ser homem, num mundo de homens e a falar para homens”, comentam dez mulheres num vídeo. O mesmo grupo acredita que, uma vez que já passou mais de uma década, a importância dos comentários “prescreveu”. 

“Sinto-me automaticamente atraído pela beleza. Começo logo a beijá-las, é como um íman. Dou-lhes logo um beijo, nem espero. Quando se é uma estrela, elas deixam-te fazer isso. Podes fazer tudo. Agarrá-las pela rata. Podes fazer tudo”, dizia Trump. “Já ouvi coisas piores”, considera uma das mulheres do vídeo partilhado pelo jornalista da CNN que moderou o último debate, Anderson Cooper.

 

 

 

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