Pilar del Río sobre Dario Fo: “Ciao, Bello

A jornalista e escritora Pilar del Río, presidente da Fundação José Saramago e viúva do Nobel português, recorda Dario Fo num depoimento para o PÚBLICO.

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AFP/NICHOLAS KAMM

Um dos momentos mais belos que guardo na memória, belo e emocionante, é o enterro de Franca Rame [mulher de Dario Fo], procissão laica de milhares de pessoas com cachecóis ou lenços vermelhos pelas ruas de Milão, de teatro em teatro, até à porta do Picolo Teatro. À cabeça do cortejo, uma orquestra de mulheres interpretava Bella Ciao. E Bella Ciao foi o último grito de Fo à sua companheira de toda uma vida. Hoje apetece unirmo-nos a todos os partisans do mundo dizendo a Dario Fo: “Ciao, Bello”. Porque o foi por dentro e por fora, com essa beleza que só possuem as pessoas generosas e valentes, os indómitos do mundo, os criadores. Dario Fo e José Saramago partilharam espaço. Recordo a sua entrada teatral no Picolo Teatro de Milão enquanto Umberto Eco apresentava Ensaio sobre a Lucidez. Foi uma entrada própria de mestre de cena, como em público e em privado lhe disse Eco: “Esperaste que estivéssemos a falar para nos confundires a todos com a tua aparição e o teu cachecol branco?” Que mundo de grandes, Eco, Fo, Saramago… Que vamos fazer agora? Por favor, que os jovens cresçam, é insuportável esta orfandade de génios, agora que tanta falta nos fazem a todos.

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