Um Nobel para garantir que a paz é mesmo o prémio que a Colômbia recebe

Depois da derrota do acordo de paz com as FARC em referendo, o Presidente colombiano tem de encontrar um novo documento unificador.

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Durante uma conferência de imprensa no Palácio de Narino, Bogotá, depois de o resultado do referendo do último domingo ter sido conhecido (vitória do "não" ao acordo com as FARC) Cesar CARRION/Presidência da Colômbia/AFP
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Uma flor na bandeira em apoio ao processo de paz, durante uma marcha em Março de 2016, em Cali LUIS ROBAYO/AFP
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No primeiro dia da campanha "Pedagogia para a paz", que antecedeu o referendo LUIS ROBAYO/AFP
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Com uma cópia do acordo de paz com as FARC, com quase 300 páginas, em Bogotá IVAN VALENCIA/AFP
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Com a família depois de ter votado no referendo do último domingo GUILLERMO LEGARIA/AFP
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Com apoiantes no Palácio de Narino, depois de conhecido o resultado do referendo JUAN PABLO BELLO/Presidência da Colômbia/AFP
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No dia em que assinou o acordo de paz com o líder das FARC, Timoleon "Timochenko" Jimenez Cesar CARRION/Presidência da Colômbia/AFP
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As assinaturas e caneta com que foram rubricadas no documento que sela a paz Efrain Herrera/Presidência da Colômbia/AFP
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Desilusão de uma apoiante dos acordos de paz, depois do referendo do último domingo John Vizcaino/Reuters
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Marcha pela paz em Bogotá, depois de conhecido o resultado do referendo GUILLERMO LEGARIA/AFP
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Um dia antes do referendo LUIS ROBAYO/AFP
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O presidente cubano, Raul Castro, ao centro, apadrinhou o acordo de paz entre as partes Alexandre Meneghini/AFP
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No dia do referendo, com uma cruz no "sim" ao prosseguimento do processo de paz LUIS ROBAYO/AFP
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Com o seu antecessor, Alvaro Uribe, um opositor do processo de paz, depois do referendo do último domingo. Santos recebeu todos os partidos para decidir o que fazer a seguir ao "não" Cesar CARRION/Presidência da Colômbia/AFP

Assim que foram conhecidos os resultados do referendo do último domingo, o Presidente colombiano, Juan Manuel Santos, e os líderes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) tinham deixado a promessa de não desistir do caminho da paz. Com o Prémio Nobel atribuído esta sexta-feira, o mundo veio garantir que se vai assegurar que essa promessa é cumprida.

As últimas semanas têm levado os colombianos a viajar numa montanha-russa colectiva. No final de Setembro, Juan Manuel Santos e o líder das FARC, Rodrigo Londoño, conhecido como Timochenko, selaram com um abraço perante o mundo um acordo de paz para pôr fim a um conflito armado que durava há mais de meio século. No último domingo, os termos do acordo foram chumbados pelos colombianos em referendo. Esta sexta-feira, foi anunciada a atribuição do Prémio Nobel da Paz a Santos.

Foi o filho Martín quem acordou Santos para lhe dar a notícia, revelou o Presidente, citado pelo jornal El Tiempo. Poucos minutos depois, recebia a tradicional chamada telefónica da presidente do Comité Nobel, Kaci Kullman Five, quando o sol ainda não tinha nascido no país. “Obrigado, desde o fundo do meu coração, e em nome de todos os colombianos, especialmente das vítimas”, disse o líder colombiano. Timochenko – que acabou por não partilhar o Nobel com Santos, ao contrário do que alguns antecipavam – também não esperou pelo raiar do sol para saudar a decisão. “O único prémio que desejamos é a paz com justiça social para a Colômbia sem paramilitarismo, sem retaliações ou mentiras”, escreveu o comandante das FARC no Twitter.

A atribuição do Nobel a Santos tem duas intenções: premiar o longo processo de paz e tudo aquilo que já foi alcançado, ao mesmo tempo que serve de encorajamento para que os esforços para o concluir não esmoreçam. “Há um perigo real de que o processo de paz se interrompa e a guerra civil regresse”, notou Kaci Kullman Five. “Esperamos que [o Nobel] encoraje todas as boas iniciativas e todos os actores que podem ter um papel decisivo no processo de paz e alcançar enfim a paz na Colômbia depois de décadas de guerra”, acrescentou ainda a presidente do comité.

Este perigo real é uma referência muito concreta ao resultado do referendo do último domingo, marcado pela elevada abstenção, em que uma ligeira maioria dos colombianos (50,2%) se opôs aos termos do processo de paz entre o Governo e as FARC. O desfecho da consulta atirou as negociações para um terreno incerto, aumentando os receios de que as armas voltassem a assumir protagonismo.

O resultado foi recebido como um choque pela comunidade internacional, que já olhava para o fim do conflito que matou mais de 220 mil pessoas em meio século como a história positiva de 2016. Porém, o referendo trouxe ao de cima as divisões da sociedade colombiana em relação ao acordo negociado ao longo de quatro anos em Havana. Os opositores ao documento, liderados pelo ex-Presidente Álvaro Uribe, criticam as concessões feitas por Santos às FARC – entre elas a ausência de penas de prisão para os guerrilheiros que confessarem os seus crimes e a garantia de representação parlamentar do partido que irá suceder à guerrilha.

Uribe – que, apesar de, ainda como Presidente, ter iniciado de forma secreta as primeiras aproximações às FARC, se tornou o maior crítico do actual acordo – saudou a atribuição do Nobel, mas não deixou de reforçar a sua própria agenda. “Felicito o Presidente Santos, desejo que [o prémio o] leve a mudar os acordos daninhos para a democracia”, disse, através do Twitter.

A missão de Santos após o referendo é fazer a quadratura do círculo. Tem de negociar com Uribe os termos de um novo acordo de paz que satisfaça os opositores ao acordo anterior, mas que não traia o espírito inicial de reconciliação que levou os guerrilheiros das FARC a depor as armas. Esta semana, Santos e Uribe reuniram-se pela primeira vez nos últimos seis anos, mas o encontro não pareceu trazer progressos significativos, de acordo com o El País. Numa nota conjunta publicada esta sexta-feira, as FARC e o Governo mostram abertura para rever os termos do acordo e comprometem-se a auscultar "diferentes sectores da sociedade". As duas partes garantem ainda o respeito pelo cessar-fogo em vigor.

A derrota do processo de paz nas urnas parece, no entanto, ter retirado os colombianos da apatia que deixou mais de 60% do eleitorado em casa no dia do referendo. Na quarta-feira, mais de cem mil pessoas encheram as ruas de Bogotá e houve manifestações em 14 outras cidades para pressionar Governo e oposição a não saírem da via da negociação. O Nobel vem dar-lhes ainda mais força para continuarem mobilizados.

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