Merkel endurece aviso a Londres perante perspectiva de "hard Brexit"
Um dia depois de um discurso muito duro de Theresa May sobre imigração, chanceler alemã avisa que só tem acesso ao mercado único quem "aceita completamente" liberdade de circulação.
A chanceler alemã voltou nesta quinta-feira a avisar o Reino Unido de que só aceitando a liberdade de circulação de pessoas poderá ter acesso ao mercado único quando formalizar a sua saída da União Europeia.
A posição de Merkel não é nova – é, aliás, a posição oficial das instituições dos restantes Estados-membros –, mas ganha maior relevância por ter sido reafirmada um dia depois de a primeira-ministra britânica, Theresa May, ter encerrado a convenção do Partido Conservador com um discurso muito duro sobre imigração. “Eu sei que muita gente não gostará de ouvir isto, mas para quem está desempregado ou recebe um salário baixo por causa da imigração não qualificada, a vida não parece justa”, afirmou a líder conservadora, fazendo tábua rasa dos estudos económicos de que a imigração tem, no mínimo, efeitos nulos sobre o desemprego ou os salários.
“Não vamos deixar a UE para desistir novamente de controlar a imigração”, acrescentou, dando a entender que, quando em Março invocar o artigo 50 do Tratado de Lisboa, dando início às negociações com a UE, optará por aquilo que é já designado como “hard Brexit” – deixando a União sem um acordo que lhe garanta o acesso livre ou preferencial ao mercado único europeu.
“As negociações não serão fáceis”, admitiu nesta quinta-feira Merkel, num discurso perante a confederação da indústria alemã em que pediu o apoio dos empresários a uma defesa intransigente das regras europeias. “Se não dissermos que o acesso ao mercado único está ligado à aceitação completa da liberdade de movimento [de pessoas], então toda a gente na Europa vai começar a fazer aquilo que quer”, disse a chanceler, num tom menos conciliador do que o adoptou após o referendo britânico de 23 de Junho.
“O total acesso ao mercado único só pode acontecer mediante o reconhecimento das quatro liberdades” [pessoas, mercadorias, serviços e capital], insistiu, perante o aplauso dos industriais presentes – uma reacção, escreve o jornal britânico Guardian, “levanta uma nova interrogação no argumento dos políticos pró-Brexit britânicos de que os empresários alemães vão pressionar inevitavelmente o seu Governo para preservar as suas relações comerciais com o Reino Unido e resistir à imposição de tarifas”.