O regresso à normalidade
Este primeiro ano de governação do PS, com apoio parlamentar dos partidos à sua esquerda, correspondeu a um verdadeiro regresso à normalidade na vida dos portugueses.
Há exactamente um ano, os portugueses exprimiram-se nas urnas e uma grande maioria dos eleitores “chumbou” inelutavelmente a política seguida pelo governo da direita na legislatura anterior, traduzida orgulhosamente na máxima “ir além da troika”. É verdade que poucos terão acreditado – há mesmo quem, ainda hoje, ainda não acredite… - que essa clara maioria de rejeição se pudesse transformar numa maioria de governação, no respeito escrupuloso das regras constitucionais e democráticas, traduzindo dessa forma a mensagem que os portugueses quiseram expressar nesse 4 de Outubro de 2015.
Esse é um primeiro mérito – que merece, de verdade, o epíteto de “histórico” – a tributar a António Costa, ao Partido Socialista, ao Bloco de Esquerda, ao Partido Comunista Português e ao Partido Ecologista “Os Verdes”, que souberam ultrapassar as suas inegáveis diferenças programáticas, históricas e práticas, em nome do interesse maior de Portugal e dos portugueses, em nome de uma política alternativa à que a direita seguiu.
Um ano depois, a primeira conclusão que se pode já tirar é que valeu a pena. Este primeiro ano de governação do PS, com apoio parlamentar dos partidos à sua esquerda, correspondeu a um verdadeiro regresso à normalidade na vida dos portugueses.
Convém recordar, até porque alguns pretendem apagar do seu curriculum e da nossa memória, que o Portugal 2011- 2015 era um país sobressaltado (o que por vezes se confundia mesmo com um país sobre assaltado…), em que as famílias portuguesas nunca sabiam com o que contar no mês seguinte, porque havia sempre um corte escondido à nossa espera. Um país crispado, em que o Governo da direita procurava dividir em vez de unir, cultivando o ressentimento entre jovens e idosos, entre trabalhadores no ativo e reformados, entre trabalhadores do setor privado e funcionários públicos. Um país submisso e sem voz própria na Europa, incapaz de levantar a voz para defender os seus interesses, com um Governo incapaz de perceber que a autoestima de um povo deve ser cultivada como um valor em si próprio.
Um ano depois – apesar do XXI Governo Constitucional só ter tomado posse no dia 26 de Novembro de 2015 - , e apesar de todos os condicionalismos que a situação financeira do país e o cumprimento dos nossos compromissos internacionais (desde sempre um ponto de honra para o PS) implicam, pode dizer-se que está feita a demonstração que, ao contrário do que alguns fizeram questão de dizer, há um outro caminho para Portugal, um caminho onde o rigor e o bom senso se aliam à sensibilidade social. Foi possível iniciar um trajeto de recuperação dos rendimentos das famílias portuguesas, foi possível eliminar muitas das injustiças e dos fatores de agravamento das desigualdades fomentados pelo Governo da direita e que deixaram um terrível rasto na sociedade portuguesa, traduzido nos brutais números de aumento da pobreza registados nesse período.
É verdade que este é um percurso que está longe de ser fácil, que exige uma atenção e um esforço permanente de entendimento e concertação, não apenas entre partidos, mas também entre os mais diversos setores da sociedade portuguesa. A prática quotidiana da política como “a arte do possível”, de que nos falava Pavese. Um esforço em que não se pode deixar de lamentar a (auto)exclusão de alguns, provavelmente ainda sob o efeito do ressentimento e toldados pelo seu radicalismo ideológico.
Há ainda muito caminho pela frente, muito mesmo, mas hoje Portugal é um país diferente e, apesar de tudo, um país mais justo do que era há um ano. Com o desemprego a diminuir, com reposição de rendimentos das famílias e, imagine-se (!), a cumprir os seus compromissos internacionais e a preparar-se para chegar ao fim do ano com o défice mais baixo da década.
Mas, obviamente, que não podemos estar satisfeitos e há que prosseguir um caminho que é reconhecidamente difícil e que permita continuar a trajetória descendente do desemprego, a criação de riqueza e o crescimento económico, onde continuamos aquém do desejável, numa conjuntura internacional dominada pela incerteza e por fatores de perturbação. Um caminho que passa pela aposta na qualificação dos portugueses, na Educação, na Ciência e na Cultura. Este é, pois, o caminho.
É esse o caminho do Governo onde o PS se revê, um PS que se orgulha da sua História e do seu património político, indissociavelmente associado à defesa dos valores da Liberdade e da Democracia e aos grandes avanços civilizacionais registados na sociedade portuguesa nas últimas quatro décadas.
Ana Catarina Mendes, secretária-geral adjunta do PS