Elon Musk e os seus planos para uma colónia humana em Marte

Bilhetes de viagem deverão custar menos de 200 mil euros. “Está pronto para morrer?”, pergunta o fundador da empresa SpaceX.

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Elon Musk a apresentar os planos para viajar até Marte Reuters/Stringer

A empresa SpaceX está a desenvolver um gigantesco foguetão e uma cápsula para transportar um número grande de pessoas e carga até Marte, com o objectivo último de colonizar o planeta – anunciou o responsável da empresa, Elon Musk.

O multimilionário apresentou esta terça-feira o seu plano para esse foguetão a Marte, capaz de transportar por viagem cem passageiros, além de carga, mesmo que a SpaceX ainda esteja a investigar por que razão um foguetão diferente, com um satélite de Israel a bordo de 200 milhões de dólares (178 milhões de euros), explodiu na rampa de lançamento no início deste mês.

A SpaceX pretende viajar para Marte a cada 26 meses, sempre que este planeta e a Terra estiverem alinhados de forma favorável às viagens. Elon Musk disse que gostaria de lançar a primeira tripulação em 2024, um prazo que considera optimista. E acrescentou que não há garantias de sobrevivência para quem se candidatar para esta “incrível aventura” a Marte. “Penso que as primeiras viagens a Marte serão muito, muito perigosas. O risco de morrer será elevado. Não há outra opção. Fundamentalmente, trata-se de dizer: ‘Está pronto para morrer?’ Se estiver, então é um candidato para ir”, disse Elon Musk numa apresentação no Congresso Internacional de Astronáutica, em Guadalajara, no México.

Embora Elon Musk imagine humanos a viver numa grande colónia em Marte e até a terraformação do planeta, considera que o aspecto principal será baixar suficientemente os custos para atrair clientes: “Não se consegue criar uma comunidade sustentável se o preço por bilhete for de milhares de milhões de dólares por pessoa. O nosso objectivo é que o custo seja aproximadamente o de uma casa média nos Estados Unidos – cerca de 200.000 dólares [178.000 euros].”

Os colonos de Marte não estarão a candidatar-se a uma viagem só de ida, uma vez que a reutilização das naves baixará os custos do transporte, disse o fundador da SpaceX, de 45 anos e origem sul-africana, que fez fortuna com a Internet. “O número de pessoas dispostas a mudar-se para Marte será muito maior se tiverem a opção de voltar, mesmo que nunca o façam.”

Considera que será um desafio financiar o esforço de ir a Marte, cujos custos de desenvolvimento estão estimados em 10.000 milhões de dólares (9000 milhões de euros). “Pessoalmente, acumulei recursos para financiar isto”, disse Elon Musk, acrescentando que “em última análise será uma grande parceria público-privada”.

A SpaceX, que Elon Musk fundou com o objectivo específico de colonizar Marte, é uma das várias iniciativas privadas e públicas em competição para colocar pessoas e carga no planeta vermelho e noutros destinos para lá da órbita da Terra. Tipicamente, Marte encontra-se a 225 milhões de quilómetros da Terra e a chegada lá dos primeiros humanos – depois de uma viagem de seis a nove meses – é um objectivo extremamente ambicioso. Uma proeza técnica que exige um enorme orçamento.

Elon Musk espera que o seu foguetão encurte o tempo de viagem para apenas três meses e divulgou um vídeo futurista de quatro minutos a mostrar a nave: um transporte interplanetário através de foguetões reutilizáveis, uma fábrica de combustível em Marte e mil naves em órbita, cada uma a transportar cem pessoas. Cada nave espacial estará equipada com um restaurante, cabines, jogos adaptados à ausência de gravidade e filmes. “Tem de ser divertido e entusiasmante. Não tem de ser desconfortável e aborrecido.”

A Blue Origin, criada pelo fundador da Amazon, Jeff Bezos, também está a conceber um veículo pesado e uma cápsula destinada a fazer transportes para Marte, disse o presidente daquela empresa, Rob Meyerson.

Tanto a SpaceX como a Blue Origin estão a desenvolver foguetões que aterram verticalmente, o que permite reduzir os custos das viagens espaciais.

À espera de mais falhanços

Também o governo dos Estados Unidos está a intensificar os seus esforços num projecto para lá da Lua. A NASA já anunciou que tem planos para enviar humanos a Marte na década de 2030. Além disso, a NASA está a apoiar a primeira missão da SpaceX a Marte, que tem lançamento programado para 2018. A SpaceX quer enviar uma cápsula não tripulada – chamada Red Dragon – para a superfície marciana para testar a descida, a entrada na atmosfera e os sistemas de aterragem. Em troca de dados do voo, a NASA irá disponibilizar à SpaceX a retransmissão das comunicações e consultoria. A agência espacial norte-americana quer ter capacidade para fazer aterrar em Marte cargas até 30 toneladas. Até agora, o veículo mais pesado que chegou à superfície marciana (em Agosto de 2012) foi o robô Curiosity, de uma tonelada.

“É improvável que [Musk] seja capaz de pôr humanos em Marte em 2025”, considera, porém, John Logsdon, antigo director do Instituto de Política Espacial da Universidade George Washington, lembrando que o multimilionário já pecou por excesso de optimismo no passado em relação aos seus foguetões. “Antes de mais, há um problema de custos. Falamos de dezenas de milhares de milhões de dólares e a SpaceX não tem dinheiro”, segundo este especialista, citado pela AFP.

De opinião contrária, o astronauta na reforma Leroy Chiao nota que Musk “se fixa em objectivos agressivos e, mesmo que não seja capaz de os alcançar, normalmente é capaz de fazer”. Resumindo: “Diria que é possível”, afirmou à AFP Leroy Chiao.

Por agora, Elon Musk diz que a prioridade principal da SpaceX é chegar à causa da explosão do seu foguetão Falcon 9 a 1 de Setembro. “É embaraçoso e difícil. Estamos a eliminar todas as hipóteses óbvias.” Este acidente, o segundo da SpaceX em 14 meses, “é uma coisa pequena num longo caminho” e a empresa, acrescentou, não perdeu um único cliente. A SpaceX tem uma carteira de encomendas de mais de 70 missões para clientes privados e governamentais, no valor de mais de 10.000 milhões de dólares (9000 milhões de euros). “Provavelmente, haverá mais falhanços no futuro.”