Após a catástrofe eleitoral, Sánchez lança uma “guerra aberta” no PSOE

A “hecatombe” dos socialistas na Galiza e no País Basco agudizou a tensão dentro do partido. O secretário-geral tenta colocar em xeque os seus críticos com eleições primárias e um congresso

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Secretário-geral Pedro Sánchez quer que os socialistas debatam e votem para o PSOE falar a uma única voz REUTERS/Andrea Comas

Depois de pesadas derrotas nas eleições autonómicas galegas e bascas, Pedro Sánchez, secretário-geral do PSOE, lançou ontem o partido numa “guerra aberta” contra os principais “barões” regionais, que lhe exigem uma “mudança de rumo”. Propôs eleições primárias para liderança no dia 23 de Outubro e a reunião do congresso federal do partido a 2,3 e 4 de Dezembro.

Esta proposta, sancionada provisoriamente pela comissão permanente, articula-se mal com o calendário eleitoral espanhol. Falta pouco mais de um mês para o fim do prazo constitucional que obrigará o rei Felipe VI a convocar “terceiras eleições” que, nesse caso, deveriam realizar-se a 18 de Dezembro.

As primárias e o congresso, que a direcção tinha adiado para “depois de haver Governo”, terão de ser aprovados pelo Comité Federal que se reunirá no sábado. Sánchez justificou assim as suas propostas: “É evidente que há dirigentes que não pensam o mesmo que eu, que crêem que nos devemos abster [na investidura de Mariano Rajoy] e que nem sequer devemos encarar a opção de governar com 85 deputados. (...) Precisamos de debater e votar para que o PSOE tenha uma única voz.” Garante, por outro lado, que não abrirá negociações para formar um Governo alternativo antes de a sua liderança ser “revalidada”.

Os críticos

O dirigente Antonio Pradas, próximo de Susana Díaz, presidente anduluza e rival de Sánchez, declarou ao El País que a convocação do congresso é uma “cortina de fumo para esconder os resultados” das eleições galegas e bascas. Será uma “guerra aberta” entre o secretário-geral e os “barões”, cujas forças estarão hoje “equilibradas”. Sánchez aposta em que uma maioria de militantes sancionará o seu “não é não” a um governo PP. Os críticos repetem que nenhum dirigente pediu a demissão do líder. Os adversários de Sánchez não parecem ter de momento uma alternativa e, sobretudo, este será o pior momento para afastar o secretário-geral. Mas agora as pontes parecem rompidas. Ironiza o PP sobre Sánchez: “Ele quer morrer matando.”

Outros dizem ao El Mundo que a eleição de um secretário-geral a 23 de Outubro e um congresso no princípio de Dezembro tornam quase impossível a apresentação de um candidato alternativo. Qualificam a iniciativa de Sánchez como uma “fuga para a frente”, depois de obter os piores “resultados históricos” do partido. Lançam a suspeita de ele os poder “criminalizar” pela derrota, atribuindo-a às divisões do partido. A responsabilidade de Sánchez na “hecatombe” — acusam os críticos — é política e pessoal: esteve presente nas campanhas e contribuiu (com o PP) para impor uma “leitura nacional” das eleições regionais. Mas quem ganhou com isto foi Rajoy.

Fraqueza da esquerda

Os líderes territoriais e quatro antigos secretários gerais — Felipe González, Joaquín Almunia, Rodriguez Zapatero e Perez Rubalcaba — “observam horrorizados como Sánchez está a ponto de jogar no casino de Montecarlo o papel chave do PSOE no actual parlamento, onde poderia liderar o mais férreo controlo sobre um Governo minoritário da direita”, escreve La Vanguardia. Mas isso implicaria abster-se no voto de investidura, apostando em novas eleições a médio prazo. Todos reduzem a motivação da estratégia de Sánchez a um factor: “conservar o posto”.

Os planos de Sánchez para construir uma alternativa ao PP, com o Podemos, o Cidadãos e, talvez, com partidos catalães, parecem cada vez mais longínquos. O Cidadãos não tem interesse em eleições mas voltou a afirmar que não participará numa mesa negocial com o partido de Pablo Iglesias. Por sua vez, Iglesias reivindica uma alternativa de Governo e no domingo voltou a desafiar os socialistas a “fazer frente à UE”, às políticas da troika e reconhecerem a “purinacionalidade” de Espanha. Mas a sua principal preocupação parece ser a de acentuar as clivagens dentro do PSOE (ver caixa).

Nem tudo são rosas para o PP, que terá em Outubro um mês “delicado”, com julgamentos que trarão de novo à actualidade o tema da corrupção. Mas, entretanto, confirmou na Galiza a solidez da sua base eleitoral. Será, afinal de contas, o partido que menos tem a temer com “terceiras eleições”. A esquerda, dizem analistas, está patentemente a perder o ímpeto. De resto, também a imagem do Podemos não está a beneficiar com o espectáculo de luta pelo poder, entre o modelo esquerdista clássico de Iglesias e o populismo sorridente de Iñigo Errejón.

Qual o impacto das eleições galegas e bascas no tabuleiro político nacional? Pelo que se vê, e salvo surpresa, terão reforçado a probabilidade de “terceiras eleições” em Dezembro.

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