Governo não autoriza CP a alugar mais comboios a Espanha

Empresa queria alugar comboios de longo curso à Renfe para responder à procura, que aumentou mais de 17,2% entre 2012 e 2015.

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CP tem frota de dez comboios pendulares e uma composição está em revisão Paulo Ricca

A intenção da CP em colmatar a escassez de pendulares para as viagens de longo curso através do aluguer de comboios S-120 à sua congénere Renfe, foi travada pelo Governo, que prefere que a empresa encontre uma solução interna para reforçar a sua oferta.

“O Governo optou por não dar andamento à intenção do anterior executivo de privilegiar e perpetuar a solução de aluguer de material circulante, estando a ser desenvolvidas análises complementares para o eventual reforço de oferta”. Esta é a resposta do gabinete do ministro do Planeamento e das Infraestruturas, Pedro Marques, a uma pergunta dos deputados do PCP sobre se “vai o Governo permitir que a CP continue com esta prática errada de aluguer de material ao estrangeiro”.

No requerimento apresentado ao Governo na Assembleia da República, os comunistas davam conta da intenção da CP em recorrer a material espanhol para responder ao aumento da procura do serviço de longo curso e recordavam que a empresa tinha começado por alugar à Renfe automotoras para serviço regional a título provisório, mas que essa solução se estaria a perpetuar.

A CP fundamentava a sua intenção com o aumento da procura do longo curso de 17,2% entre 2012 e 2015, a par de uma maior dificuldade em responder com a frota de dez comboios pendulares numa altura em que uma composição tem de estar em oficina para proceder à revisão de meia vida.

A solução passaria por recorrer a quatro ou cinco comboios S-120 espanhóis, capazes de circular a 250 Km/hora e dotados de bi-tensão, o que lhes permitiria circular na rede electrificada portuguesa.

A resposta do Governo foi negativa. E questionado pelo PÚBLICO sobre a quem compete este tipo de gestão, o gabinete de Pedro Marques diz que “as opções relativas ao material circulante são da competência do Conselho de Administração da CP, ainda que as que assumam natureza estratégica e estruturante, como é o caso da perpetuação do aluguer, mereçam naturalmente validação do Estado/accionista”.

Para a CP, a solução para ultrapassar este constrangimento passa por recuperar carruagens que estão retiradas do serviço comercial – e que ainda não foram vendidas para sucata – e renová-las, dotando-as de maior conforto, a fim de serem atreladas a comboios Intercidades. Estes, porém, não são tão cómodos nem tão rápidos como o Alfa Pendular ou como os S-120 que a CP queria ir buscar a Espanha.

O aluguer de material espanhol data de 2010, ainda sob o Governo de Sócrates, e começou com 17 automotoras a diesel para serviço regional, pelos quais a CP pagava cerca de cinco milhões de euros por ano. Quatro anos depois aquilo que era para ser uma situação provisória enquanto a Refer não prosseguia com o plano de electrificação de linhas, acabou por se perpetuar com a extensão do contrato de aluguer acrescido de mais cinco automotoras.

Nas respostas que dá ao PCP, o Governo confirma que o aluguer de material diesel à Renfe “constitui uma solução provisória e visa suprir apenas necessidades temporárias” até às electrificações das linhas do Douro, Minho, Oeste e Algarve.

Quando tal acontecer, diz o gabinete do ministro, “a CP poderá rentabilizar o parque de material eléctrico sem recorrer à compra de novo material, estruturando o seu serviço através da extensão da Rede Intercidades a Lagos, Vila Real de Santo António, Marco de Canavezes e Régua, Viana do Castelo e Valença e estender a rede urbana de Lisboa até Torres Vedras”.

Em Fevereiro, o Governo apresentou um plano de investimentos que prevê electrificar as linhas em falta na rede ferroviária portuguesa. O PÚBLICO apurou, contudo, que, na sequência da fusão da Refer com a Estradas de Portugal, subsistem na agora Infraestruturas de Portugal dúvidas sobre a viabilidade desses investimentos. 

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