O que pode explicar este acidente de comboio?
Avaria na agulha será a causa mais provável do acidente de comboio desta sexta-feira na Galiza.
Entre as múltiplas causas que podem explicar um acidente ferroviário, há, no caso do descarrilamento desta manhã na Galiza, duas mais prováveis. A de maior probabilidade prende-se com uma eventual avaria na agulha que terá feito descarrilar o comboio. Uma “agulha”, designada tecnicamente por AMV (aparelho de mudança de via), permite fazer o caminho para a linha na qual o comboio deverá seguir. Esta poderia estar avariada ou ter sido sabotada, fazendo com que o comboio descarrilasse à sua passagem.
Outra possibilidade é a agulha estar feita de forma a conduzir o comboio para uma linha desviada (eventualmente, a fim de cruzar com outra composição) e o maquinista ter nela entrado com excesso de velocidade. Embora não sendo de excluir esta hipótese, esta é menos provável porque o comboio que descarrilou na manhã desta sexta-feira está dotado do sistema ASFA (Anuncio de Señales y Frenado Automático) que avisa o maquinista se este não respeitar a velocidade.
A investigação dirá se o ASFA estava a funcionar correctamente e se a agulha estava em boas condições.
Esta vai ser conduzida pelo CIAF, mas terá certamente a colaboração, no lado português, do GISAF, uma vez que se tratava de um comboio internacional luso-espanhol e porque o maquinista era português. A composição, embora espanhola, estava alugada à CP.
Renfe diz que comboio é português
Citada pela Radio Galicia, a operadora ferroviária espanhola Renfe diz que o comboio pertence à CP, o que não corresponde à verdade porque a composição é propriedade daquela empresa, estando alugada à sua homóloga portuguesa. Mais: a própria manutenção destas unidades é feita, ao abrigo do contrato de aluguer, nas oficinas espanholas da Renfe.
As automotoras 592 foram construídas em Espanha nos anos 1980 pela Ateinsa e Macosa (empresa que mais tarde foi comprada pela Alstom) e já estavam fora do serviço comercial naquele país quando, a partir de 2010, começaram a ser alugadas à CP para as linhas de Douro e Minho. Para voltarem ao serviço foram alvo de uma revisão integral nas oficinas da Integria (uma empresa do grupo Renfe destinada à manutenção e reparação de material circulante).
Apesar destes alugueres, a CP debate-se com falta de material Diesel, o que lhe tem provocado graves constrangimentos, sobretudo no Douro. O facto de perder agora uma automotora neste acidente, vai complicar-lhe ainda mais a gestão do material circulante.