“Número de equipas que fazem apoio domiciliário é muito reduzido”
Coordenadora da Comissão Nacional de Cuidados Paliativos diz que muitos dos doentes chegam às unidades já no fim de vida.
O plano fala em aumento de camas e de equipas comunitárias mas também destaca a aposta na formação. Dois anos chegam para concretizar tudo isto?
Dois anos é pouco para tanta mudança. Mas, mais do que criar camas, importa levar as equipas de cuidados paliativos às camas onde os doentes estão. Os dados [registados] indicam que 77% dos doentes morrem nas unidades e que menos de 5% têm alta para casa. Muitos chegam [às unidades] já no fim de vida, quando os cuidados paliativos não se destinam apenas a pessoas que estão a morrer. Há doentes com expectativa de viver anos. Das 75 mil pessoas que se estima terem necessidades paliativas [em cada ano], só cerca de um terço necessita de equipas especializadas e muitos não só doentes oncológicos. São pessoas com insuficiências cardíacas e respiratórias, doentes renais crónicos, entre outros. Há vários níveis de cuidados paliativos, desde o básico ao mais complexo.
A principal aposta nos próximos dois anos vai ser feita no apoio domiciliário aos doentes e familiares?
O número de equipas que fazem apoio domiciliário actualmente é muito reduzido. Também se pretende que as equipas comunitárias dêem apoio aos doentes que estão na Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados. É necessário agilizar os processos,os recursos têm que ser aproveitados de outra maneira. Em Portugal, por enquanto queremos chegar às pessoas com doença incurável, avançada e progressiva, mas não apenas numa fase terminal. Noutros países já se disponibilizam este tipo de cuidados a doentes com potencial de cura.
Outro objectivo é o de generalizar a formação em cuidados paliativos.
O ideal é que até 2018 todas as faculdades de medicina passem a ter a disciplina, em termos teóricos e práticos, de cuidados paliativos. É conseguir que os futuros médicos, da mesma forma que passam por enfermarias de cardiologia, de medicina interna, passem por unidades de cuidados paliativos. Mas também é necessário alargar a formação aos cursos de enfermagem e, eventualmente, de psicologia.