A Europa precisa de quem saiba construir pontes
Na cimeira de Bratislava, os líderes europeus vão tentar encontrar pontos de diálogo no meio das divisões que se têm agudizado. Portugal tenta uma nova postura diplomática.
As expectativas para a cimeira europeia de Bratislava são muito baixas. É um encontro informal dos líderes dos 27 líderes dos países que permanecerão na União Europeia, quando o Reino Unido se decidir a formalizar o pedido de saída, em que o objectivo é tentar construir pontes entre o estilhaço de interesses regionais em que se transformou a UE, após anos de uma sucessão de crises mal resolvidas.
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As expectativas para a cimeira europeia de Bratislava são muito baixas. É um encontro informal dos líderes dos 27 líderes dos países que permanecerão na União Europeia, quando o Reino Unido se decidir a formalizar o pedido de saída, em que o objectivo é tentar construir pontes entre o estilhaço de interesses regionais em que se transformou a UE, após anos de uma sucessão de crises mal resolvidas.
“Na Europa há duas grandes clivagens”, comenta a eurodeputada socialista Maria João Rodrigues em declarações ao PÚBLICO. “Os que acham que a UE não funciona e querem regressar à defesa dos interesses nacionais, e outros que, embora continuem a achar que a escala europeia é a correcta, se subdividem em dois outros grupos: os que consideram a segurança como a prioridade absoluta, e os que consideram que não se pode reduzir a construção europeia à segurança”.
François Hollande e Angela Merkel querem começar a desenhar no castelo de Bratislava onde os líderes dos 27 se vão reunir durante o dia – sem a britânica Theresa May – “uma nova agenda, um novo calendário de trabalho para a União Europeia”. Ao seu lado, em Paris, Merkel afirmou ser “crucial mostrarmo-nos determinados em reagir unidos contra as fraquezas, as dificuldades”.
No entanto, há novos protagonistas nesta cimeira informal - não terá uma resoução final, apenas um comunicado. Têm-se multiplicado minicimeiras regionais – o grupo de Visegrado, formado pela República Checa, Hungria, Polónia e Eslováquia, tem sido muito activo, na defesa do encerramento de portas aos refugiados. A escolha feita pelos eleitores britânicos de saída da UE reforçou as posições dos líderes populistas e anti-imigração.
“Há uma nova identidade europeia a emergir. Os britânicos disseram ‘não’, agora a Europa tem de enfrentar os seus próprios erros… e nós, na Europa Central, podemos lançar essa transformação”, afirmou o primeiro-ministro húngaro Viktor Orbán, num encontro na semana passada com Jaroslaw Kaczynski, líder do conservador Partido Lei e Justiça, que conquistou a presidência e o Governo polaco e é neste momento o seu maior aliado na UE.
A 2 de Outubro, a Hungria promove um referendo sobre o malogrado plano de quotas para redistribuir refugiados pelos vários países da UE. Aliás, a Hungria, e a Eslováquia, país anfitrião da cimeira de Bratislava, estão já a processar a União Europeia para não terem de aceitar este plano. O Luxemburgo chegou a propor expulsar a Hungria da UE.
Mas a prioridade de Berlim é a gestão da crise dos refugiados do Médio Oriente, que se tornou o assunto mais quente da política alemã, a um ano das próximas legislativas. Angela Merkel tem pago bem caro em popularidade a frase “vamos conseguir” com que abriu as portas aos refugiados no ano passado. A extrema-direita está a subir – neste momento, o partido Alternativa para a Alemanha está presente em nove dos 16 parlamentos regionais.
A sociedade alemã vive uma crise existencial por causa da integração desta nova vaga migratória – e Merkel não está disposta a desistir de pedir ajuda ao resto da Europa para enfrentar este desafio.
Apesar da tentativa de mostrar uma frente unida, a aliança franco-alemã tem divisões. Paris, atormentada pelos atentados terroristas, aposta tudo por tudo na segurança – a ideia avançada esta semana pelo presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, no discurso do estado da União, de uma força de defesa comum, e de reforço do controlo das fronteiras, responde aos seus anseios.
França vive num clima de alta ansiedade de pré-eleições presidenciais na Primavera de 2017, que serão seguidas de legislativas. O único cenário que parece garantido é o de um bom resultado da líder da extrema-direita eurocéptica, Marine Le Pen, que as sondagens dizem que deverá passar à segunda volta contra um rival ainda incerto.
O terceiro vértice do triângulo de força que Hollande e Merkel têm tentado criar é o primeiro-ministro italiano, Matteo Renzi. Este preocupa-se muito com a crise dos refugiados – porque é às costas do seu país, tal como às gregas, que continuam a chegar embarcações a abarrotar de gente em busca de uma vida melhor. Mas para ele a crise financeira, os ecos da crise do euro, ainda não terminaram – o sistema bancário italiano está ainda em perigo.
Portugal não deve ser actor menor
A maior iniciativa no plano económico é o alargamento do Fundo Europeu para Investimentos Estratégicos (conhecido como o Plano Juncker), duplicando a sua duração, até 2020, e aumentando a sua capacidade financeira para pelo menos 500 mil milhões de euros. Destina-se a captar investimentos em infra-estruturas e inovação mas, apesar de ser celebrado como um sucesso, tem beneficiado sobretudo países mais ricos ou com mais infra-estruturas.
“Este plano tem beneficiado os países mais competitivos”, comenta Maria João Rodrigues. Na verdade, o Reino Unido era o maior beneficiário, na última actualização dos dados, feita em Julho. Portugal tinha apenas dois projectos, que se esperava que desencadeassem 619 milhões de investimentos e criassem mais de 700 empregos. Isto em mais de 115 mil milhões de euros movimentados.
Portugal, que participou na minicimeira dos países do Sul, em Atenas, à qual se juntou França, faz bem em estar a assumir uma posição diplomática activa, considera a eurodeputada socialista. “Portugal faz bem em estar activo. Não deve menorizar-se, limitar-se a discutir sanções como um actor menor”, afirmou. “Em resposta a uma crise prolongada, tem havido falta de investimento, mas do ponto de vista alemão a crise está sob controlo”.
Este tema não terá tempo de discussão em Bratislava. Mas Jean-Claude Juncker não lhe será insensível, e a intenção que anunciou de elaborar um Livro Branco da Política Económica e Monetária, a apresentar entre Abril e Maio, pode ser positiva para Lisboa. “A herança que temos a esperar de Juncker é que complete a união monetária, que tem de ter como apoio a convergência económica e social”, afirmou Maria João Rodrigues.
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