Quase como se fosse um filme de griffe

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Os filmes de Larry Clark, independentemene do tema (a vida adolescente) costumam saber definir e agarrar um conjunto de regras preciso (a colagem ao “film noir” em Ken Park, a geografia em Wassup Rockers), suficiente para os manter num rumo obstinado, trazer-lhes estrutura e coesão. Sentimos neste O Cheiro de Nós uma certa ausência disso, como se fosse um filme mais solto, mais em deriva, mais a trabalhar em rimas e repetições que por alguma razão não atingem a força que as rimas e repetições normalmente atingem. Clark troca o rigor estrutural por uma dimensão “poética” mais superficial, quase “onírica” (os efeitos fotográficos, os “flashes” do décor parisiense, o jogo com o “glamour”), que não é desagradável mas a que falta uma espécie de golpe decisivo, que não é trazido nem pelos aspectos mais sórdidos da história (as cenas de prostituição, os corpos, quase “obscenos”, dos mais velhos). É reconhecidamente Larry Clark, quase como se fosse um filme de griffe, o que é em simultâneo virtude e defeito. Mas está-se longe do melhor e mais perturbante cinema do autor.

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