Costa propõe regenerar periferias da Europa para combater terrorismo
A 9 de Setembro, o primeiro-ministro português participa na primeira Cimeira de Países do Sul da União Europeia para preparar a Cimeira Europeia de Bratislava a 16. E leva uma proposta.
O convite chegou em pleno Agosto. Alex Tsipras, primeiro-ministro grego, queria reunir em Atenas os líderes dos países do Sul da Europa, para todos poderem conversar sobre os desafios com que o bloco comunitário se debate. Um a um, os governantes do Chipre, de Espanha, de Itália, de França e de Malta foram dizendo que sim ao repto de Tsipras, recusando a ideia de que a Grécia estava cada vez mais isolada na Europa. Do lado de Portugal, também António Costa marcou viagem para participar na reunião. E, como o próprio confirmou ao PÚBLICO, leva na bagagem uma proposta.
A ideia que o primeiro-ministro levará a este grupo dos sete resume-se numa frase: apoiar o “investimento na regeneração urbana contra o terrorismo”, ao nível de todos os países membros da União Europeia. António Costa considera que “há um enorme cansaço dos cidadãos da União Europeia em relação à capacidade de esta mudar”, ao mesmo tempo que “as pessoas estão preocupadas com o terrorismo, mas não vêem qualquer imagem de coordenação das instituições e dos governos europeus”, noemadamente em relação aos refugiados”.
A proposta do primeiro-ministro parte da necessidade de recentrar o eixo da discussão sobre a segurança na Europa face ao risco do terrorismo. “As pessoas olham para as fronteiras, mas os atentados são cometidos por pessoas que trabalham, estudam, residem, e até nascem nos países da União Europeia”, sublinha António Costa, que quer contribuir para a busca de soluções que esvaziem o perigo terrorista.
“Há uma tarefa fundamental para travar esta radicalização, que é haver políticas públicas para periferias urbanas e também políticas de integração”, defende o primeiro-ministro português que insiste na ideia de que “a população islâmica tem de ser bem integrada”. António Costa vai apresentar uma proposta sobre como essa integração deve ser feita: “Passa pela regeneração física dos bairros periféricos” em várias cidades europeias que alojam parte substancial das comunidades islâmicas, sendo que “muitos desses bairros terão de ser refeitos de raiz”, explica.
Além da componente urbana e arquitectónica da proposta do primeiro-ministro, há também uma componente de inserção social. “Os governos dos Estados-membros da União Europeia e as instituições europeias têm também, de acordo com a proposta defendida por António Costa, de ter em atenção “a componente social de integração”, que passa pela “criação de emprego, de combate à delinquência juvenil, de resposta às drogas, de formação cívica”.
A ideia do primeiro-ministro deverá ser formalmente posta a debate na Cimeira Europeia de Bratislava, na Eslováquia, a 16 de Setembro, na qual serão abordadas as consequências da vitória do "Brexit" no referendo no Reino Unido sobre a permanência na União Europeia, mas também as questões relacionadas com o novo patamar de atentados terroristas na Europa e a vagas de refugiados que têm chegado ao território europeu.
Apesar de o objectivo ser levar esta proposta à Eslováquia, ela será apresentada aos líderes dos Estados do Sul da União Europeia, que se realiza em Atenas por iniciativa do chefe do Governo grego.
O objectivo desta primeira Cimeira dos Países do Sul da União Europeia é a de tentar instituir uma lógica de funcionamento em bloco, à semelhança do que já existe noutras zonas da União Europeia que assim funcionam, como é o caso dos países bálticos e do eixo Haia-Berlim-Helsínquia.
A lógica por detrás desta cimeira de países do Sul prende-se com a defesa de interesses comuns, nomeadamente o facto de serem os cidadãos destes países do Sul da União Europeia quem mais tem sofrido com as crises das dívidas soberanas e com o derrapar do desenvolvimento económico e quem mais tem sido assolado por exigentes políticas impostas pela Comissão Europeia.
Agenda intensa
No dia 11, em Berlim, termina uma semana intensa de contactos internacionais levada a cabo pelo primeiro-ministro. Tudo começa em Milão (Itália), onde António Costa aterrará no sábado, dia 3, para visitar a maior feira de calçado do mundo. O ponto seguinte na agenda é São Paulo. Aí, Costa reúne-se na segunda-feira, dia 5, com o Governador do Estado e visita a Bienal de Arte da cidade. No dia seguinte, terça-feira, participa num almoço com empresários, recebe a comunidade portuguesa e janta com personalidades da área da cultura. Nos dias seguintes, antes de rumar a Atenas para se reunir com os outros líderes dos países do Sul, o que acontece a 9, Costa ainda passa pelo Rio de Janeiro, marcando presença na cerimónia de abertura dos Jogos Paralímpicos e recebendo os atletas. No dia 11, a convite de Angela Merkel, Costa participa num jantar que juntará chefes de Estado e do Governo de diversos países da UE, em Berlim.