Trump vai ao México reunir-se com Peña Nieto e depois fala sobre deportações
Candidato do Partido Republicano faz esta quarta-feira um muito aguardado discurso no Arizona. Espera-se que explique se vai ou não deportar imigrantes em situação ilegal mas sem registo criminal.
Donald Trump vai encontrar-se esta quarta-feira com o Presidente do México, Enrique Peña Nieto, horas antes de proferir um discurso no estado norte-americano do Arizona onde se espera que avance alguns pormenores concretos sobre a sua política de imigração.
A reunião vai realizar-se no palácio presidencial do México, na capital do país, e foi pedida pelo Presidente mexicano, como Donald Trump fez questão de salientar na sua conta no Twitter: "Aceitei o convite do Presidente Enrique Pena Nieto, do México, e tenho muitas expectativas para a reunião de amanhã", anunciou na noite de terça-feira.
Uma hora depois, também no Twitter, o Presidente do México salientou que o convite foi feito "aos candidatos à presidência dos Estados Unidos", sem especificar quais – em princípio serão os dois principais, Donald Trump, do Partido Republicano, mas também Hillary Clinton, do Partido Democrata. Entre os muitos candidatos à Casa Branca, há apenas mais dois que merecem alguma atenção das empresas de sondagens: Gary Johnson, pelo Partido Libertário, e Jill Stein, dos Verdes.
Mas o jornal Washington Post avança que o convite foi feito apenas a Donald Trump e a Hillary Clinton. A candidata do Partido Democrata ainda não comentou o convite – nem se o aceitou, nem sequer se o recebeu.
O encontro desta quarta-feira tem particular importância porque surge no mesmo dia em que Donald Trump vai avançar pormenores sobre a sua política de imigração. Depois de um ano a prometer aos seus apoiantes que iria deportar todos os 11 milhões de imigrantes que estão nos Estados Unidos sem documentos, Trump tentou nas últimas duas semanas aligeirar esse discurso, o que causou confusão e provou críticas entre alguns dos seus mais notórios apoiantes, como a escritora e colunista ultraconservadora Ann Coulter e a ex-candidata a vice-presidente, Sarah Palin – pelo que se percebe, a nova política de Donald Trump é agora muito semelhante às propostas dos seus adversários nas primárias do Partido Republicano, como Jeb Bush, Ted Cruz ou Marco Rubio.
A principal diferença é que Donald Trump mantém que vai construir um muro na fronteira com o México e que vai obrigar esse país a pagar a construção. Não através de um cheque, mas através do aumento de taxas sobre o envio de dinheiro de trabalhadores mexicanos para o seu país, por exemplo – uma medida que muitos especialistas consideram ser inconstitucional.
Desde que anunciou a sua candidatura, no Verão do ano passado, Donald Trump classificou muitos imigrantes mexicanos sem documentos como violadores e assassinos, e disse que o Governo mexicano estava a enviar os seus cidadãos mais violentos de propósito para os Estados Unidos. Este tipo de discurso – para além da construção do muro e das dúvidas sobre a política de deportação – vai naturalmente fazer parte da reunião desta quarta-feira.
No mesmo dia, depois da reunião com Peña Nieto, Trump regressa aos Estados Unidos, à cidade de Phoenix, no Arizona, para proferir um importante discurso – que acontecerá já perto da meia-noite em Portugal. O que se espera é que o candidato explique finalmente qual é a sua proposta para lidar com a imigração sem documentos – a principal questão é o que fazer aos cidadãos estrangeiros que entraram no país ilegalmente mas que nunca cometeram nenhum crime e têm as suas vidas perfeitamente organizadas.
O número de imigrantes sem documentos nos Estados Unidos é apenas uma estimativa – o instituto Pew Research Center fala em pouco mais de 11 milhões, mas outros estudos, citados por grupos da direita ultraconservadora, falam em cerca de 30 milhões.
Para além da construção do muro, Trump promete deportar imediatamente todos os imigrantes sem documentos que tenham ficha criminal e expulsar também imediatamente os estrangeiros que deixem expirar a data do visto – ainda não explicou como vai fazer uma e outra coisa, mas espera-se que avance alguns pormenores esta quarta-feira, em Phoenix.
Muitos dos adversários que Donald Trump derrotou nas eleições primárias tinham o mesmo tipo de proposta – deportar os criminosos e resolver a situação dos que trabalham e que nunca cometeram crimes, geralmente mediante um processo que não passa pela atribuição de cidadania formal. Durante as primárias, Trump acusou esses candidatos de defenderem uma amnistia para imigrantes sem documentos, mas agora o nomeado do Partido Republicano enfrenta a mesma acusação.
O apresentador Joe Scarborough, que tem um programa matinal no canal MSNBC, é um eleitor do Partido Republicano e já foi próximo de Donald Trump, mas a campanha deste ano cavou um fosso entre os dois. Depois de Trump ter ameaçado revelar pormenores sobre a vida amorosa do apresentador (a quem acusa de ser parcial), Scarborough chamou a Donald Trump "Amnesty Don" (qualquer coisa como o "Donald da Amnistia"). Durante alguns minutos no seu programa, Scarborough tentou virar duas das principais estratégias de Donald Trump contra ele – criou uma alcunha para o candidato e repetiu várias vezes expressões como "há quem lhe chame Amnesty Don", algo que Trump repete várias vezes na sua conta no Twitter quando quer lançar alguma acusação.
Durante as eleições primárias, Donald Trump chamou "Little Marco" a Marco Rubio; "Lyin' Ted" a Ted Cruz; "Low Energy Jeb" a Jeb Bush; e "1 for 38" a John Kasich (o candidato que venceu apenas as eleições num estado). Também a sua adversária do Partido Democrata e a progressista Elizabeth Warren mereceram alcunhas: "Crooked Hillary" e "Goofy Elizabeth Warren".