Sarah Palin preocupada com a versão mais "soft" de Trump
Antiga candidata a vice-presidente dos EUA avisa que qualquer recuo na proposta de deportação de todos os imigrantes sem documentos seria "uma enorme desilusão".
A aparente mudança de rumo de Donald Trump sobre a deportação de imigrantes sem documentos continua a deixar muitos dos seus apoiantes sem saberem o que dizer e a tentarem perceber o que realmente vai na cabeça do candidato do Partido Republicano. Sarah Palin, uma das personalidades mais influentes da direita ultraconservadora norte-americana, entrou na discussão para avisar que qualquer tentativa de Trump para "aligeirar" a sua proposta será vista como "uma enorme desilusão".
"Se o sr. Trump enveredar por uma posição insípida em assuntos que são tão caros à sua base de apoio, relacionados com o respeito da nossa Constituição e da lei e da ordem na América, então sim, isso será uma enorme desilusão", disse Palin ao The Wall Street Journal.
"Partes da mensagem que ouvimos na última semana não são consistentes com as posições firmes que temos ouvido desde o início", disse Palin, candidata a vice-presidente do Partido Republicano em 2008 e apoiante de Donald Trump este ano. Em entrevista à Fox News, Sarah Palin tentou tirar o pé do acelerador nas críticas, dizendo que qualquer política de Donald Trump sobre a imigração será melhor do que qualquer proposta da candidata do Partido Democrata, Hillary Clinton.
Na última semana, Donald Trump começou a dar sinais de que vai deixar cair a promessa de deportar os mais de 11 milhões de imigrantes que entraram no país sem documentos, incluindo crianças que já nasceram nos Estados Unidos.
Para além de ser controversa, essa promessa é difícil de concretizar – encontrar, juntar, questionar e expulsar 11 milhões de pessoas, ainda por cima tendo de obter a aprovação do Congresso e uma mais do que certa avaliação pelo Supremo Tribunal, torna o plano se não impossível, pelo menos numa tarefa para mais anos do que Donald Trump poderá passar na Casa Branca se vencer as eleições e renovar o mandato.
Mas a verdade é que foi com essa promessa que Donald Trump conseguiu derrotar 17 adversários nas eleições primárias e garantir a nomeação como candidato do Partido Republicano à Presidência dos Estados Unidos. Mais do que qualquer outra proposta, foi o seu plano particularmente duro para resolver a imigração ilegal que o separou de todos os outros candidatos.
Mas na última semana, depois de uma reunião com líderes da comunidade hispânica na sua Trump Tower, em Manhattan, o candidato lançou-se numa série de comícios, entrevistas e conversas com apoiantes para testar as águas. Terça-feira, num evento em Austin, no Texas, moderado pelo ultraconservador Sean Hannity, da Fox News, Trump chegou a fazer sete mini-sondagens entre os seus apoiantes – ou melhor, uma mini-sondagem explicada de sete formas até que os seus apoiantes percebessem a verdadeira intenção da pergunta do candidato.
"Vou perguntar à audiência. Alguém que é fantástico e que está aqui há 20 anos tem um longo processo judicial pela frente. Por outras palavras, acham que devemos esperar pela conclusão desse processo, ou acham que essas pessoas devem sair imediatamente? Quer dizer, eu não sei. Digam-me vocês." A mistura de palmas e de vaias não foi conclusiva, por isso Donald Trump tentou ser mais específico: "Vamos fazer isto outra vez, esta sala está cheia."
Na segunda tentativa, Trump já foi mais específico – ele queria mesmo saber quem achava justo expulsar um imigrante sem documentos trabalhador e cumpridor das regras. "Então, temos uma pessoa que está no país há 20 anos, que sempre se portou bem, que tem emprego. Pegamos nele, ou nela, e na sua família e atiramos com eles daqui para fora? (…) Dizemos a estas pessoas para sair daqui, opção 1, ou trabalhamos com elas e deixamo-las ficar em alguns casos?"
E assim sucessivamente, até que ficasse claro que Donald Trump está, na realidade, a aproximar-se das propostas sobre imigração feitas por candidatos como Jeb Bush ou Marco Rubio, a quem o nomeado pelo Partido Republicano chamou "moles" durante a fase das primárias.
Apoiantes e opositores de Donald Trump aguardam agora pelo discurso oficial do candidato sobre a questão da imigração, que já esteve marcado duas vezes e foi adiado. Personalidades da direita ultraconservadora, como a colunista Ann Coulter (que acabou de lançar um livro com o título "In Trump We Trust", onde escreve que o candidato pode ser perdoado por tudo menos por uma mudança na questão da imigração) e o apresentador de rádio Rush Limbaugh, ficaram incomodados com a aparente viragem do candidato sobre a deportação de imigrantes sem documentos.
Até ao momento, a mudança de Trump em relação à imigração apenas diz respeito à deportação – o candidato mantém que vai construir um muro na fronteira com o México e que os mexicanos vão pagar por ele, nem que seja através do aumento das taxas de importação, por exemplo.
Mas a deportação de todos os imigrantes sem documentos foi fundamental para conquistar o apoio durante as eleições primárias no Partido Republicano. Agora que se aproximam as eleições gerais, com um eleitorado muito mais diversificado, Trump tem de aligeirar o discurso se quiser alargar a sua base de apoio. O problema de Trump é que pode ser tarde demais – os seus apoiantes podem continuar a defendê-lo até ao fim, com ou sem recuos na imigração, mas é difícil roubar eleitorado em número suficiente a Hillary Clinton entre as minorias e as mulheres nos estados que vão decidir as eleições gerais.
Segundo a análise diária feita pelo jornal The New York Times, Hillary Clinton tem 90% de hipóteses de vencer as eleições e Trump apenas 10%. No site FiveThirtyEight, Clinton tem 81,1% e Trump tem 18,9%.
Neste momento da campanha, de acordo com o The New York Times, as hipóteses de Hillary Clinton perder as eleições são semelhantes às hipóteses de um jogador de futebol americano falhar um pontapé da marca de 20 jardas (18 metros) – no campeonato do ano passado, as 32 equipas da liga principal nos EUA tiveram 236 remates dessa marca e só falharam seis vezes.