No Uzbequistão até a morte (ou não) do Presidente é um mistério
Os rumores da morte do Presidente do Uzbequistão, Islam Karimov, começaram a surgir no início desta semana, mas as informações são contraditórias, não havendo uma confirmação oficial.
Tal como o regime autoritário que governa no Uzbequistão, a possível morte do Presidente, Islam Karimov, está envolta em mistério. Os rumores que apontam para a morte do ditador surgiram na segunda-feira, mas não foram confirmados por fontes oficiais. Pouco se sabe sobre o que vai dentro das fronteiras do Uzbequistão e agora as notícias sobre o estado de saúde do Presidente são também contraditórias.
Uma coisa é certa: caso se confirme a morte do Presidente uzbeque, o futuro é uma incógnita. O país nunca conheceu outra figura de liderança. Karimov estava lá quando o Uzbequistão ainda fazia parte da União Soviética, como líder do Partido Comunista no território em 1989. No ano seguinte tornou-se Presidente, cargo que continuou a desempenhar a partir de 1991, já proclamada a independência. Os 25 anos de independência do Uzbequistão comemoram-se esta quinta-feira, mas as celebrações foram canceladas, segundo a BBC.
No passado sábado, Karimov, de 78 anos, foi hospitalizado numa unidade de cuidados intensivos depois de ter sofrido um AVC, uma notícia avançada pela agência de notícias Fergana, com sede na Rússia. A filha mais nova do Presidente uzbeque, Lola Karimova-Tillyaeva, confirmou na segunda-feira, através da sua conta na rede social Instagram, que o estado de saúde do seu pai se tinha agravado, mas que se encontrava estável.
“Ainda é cedo para fazer previsões sobre a sua saúde futura”, acrescentou Karmova-Tillyaeva. Enquanto a Fergana já anunciava a morte de Karimov na tarde de segunda-feira, a televisão estatal não fazia qualquer menção ao estado de saúde do Presidente. Nesta quarta-feira, a filha do Presidente deu a entender que o pai estava vivo e agradeceu as mensagens que tem recebido, publicando uma fotografia para marcar o aniversário da independência.
Daniil Kislov, da Fergana, assegurou ter “99%” de certezas de que Islam Karimov está morto. Kislov avançou ainda que tinha recebido informações que revelavam que figuras do Governo teriam os telefones bloqueados desde terça-feira, especulando-se que seria para os impedir de organizarem ou discutirem planos, citou The Guardian. Mas vários analistas suspeitam da possibilidade de já terem havido negociações, devido ao deterioramento na saúde de Karimov nos últimos anos.
Caso se confirme a morte de Karimov, coloca-se o problema da sucessão deste Presidente, conhecido pelos abusos dos direitos humanos – o caso do massacre na cidade de Andijan, em Maio de 2005, pelas forças de segurança do Presidente nunca foi investigado – e por estar envolvido no desaparecimento da sua filha mais velha, Gulnara Karimova, que muitos teriam indicado como possível sucessora.
Agora, os candidatos mais óbvios são o primeiro-ministro desde 2003, Shavkat Mirziyayev, e o director dos serviços de segurança desde 1995, Rustem Inoyatov. “Se houver um desentendimento ou conflito entre diferentes pessoas em jogo, eles vão tentar manter tudo atrás de portas fechadas. Os riscos multiplicam-se se não forem capazes de passar para fora uma máscara de unidade”, declarou Deidre Tynan, director da organização não-governamental International Crisis Group na Ásia Central.