MNE iraquiano diz que filhos do embaixador agiram em legítima defesa
Comunicado apenas disponível em árabe na página da embaixada informa que o embaixador apresentou queixa junto das autoridades portuguesas contra um grupo de jovens. PGR ainda não confirmou.
Ao mesmo tempo que manifestou preocupação com o caso e garantiu colaborar com as autoridades portuguesas para “tomar medidas necessárias em relação à acusação”, numa declaração em inglês publicada no site oficial, a embaixada do Iraque divulgou também um comunicado em árabe, não traduzido, no qual diz que o seu embaixador, Saad Mohammed Ridha, apresentou uma queixa às autoridades portuguesas e expõe de forma totalmente diferente os acontecimentos da madrugada de quarta-feira em Ponte de Sor, nos quais um rapaz de 15 anos foi gravemente espancado, encontrando-se em estado muito crítico nos cuidados intensivos do Hospital Santa Maria.
O PÚBLICO ainda não conseguiu confirmar junto da Procuradoria-Geral da República, até meio da tarde desta segunda-feira, se existe uma queixa do embaixador iraquiano. Nesta declaração, a embaixada responsabiliza seis rapazes desta pequena cidade do distrito de Portalegre de agredirem e insultarem os dois filhos do embaixador, um dos quais frequentava o curso de piloto na GAir, uma empresa que dá formação nos aeródromos de Ponte de Sor e de Tires.
Desde sábado, também disponível no site do Ministério dos Negócios Estrangeiros do Iraque, mas traduzida para inglês, está uma mensagem na qual se lê: “O Ministério dos Negócios Estrangeiros segue de perto, com preocupação, o que surgiu na sequência da acusação aos dois filhos do seu embaixador em Portugal. Iniciou uma investigação para conhecer mais detalhes deste incidente e juntar informação veiculada pelos meios de comunicação social.”
Na mesma declaração pública, o ministério iraquiano "reitera a sua vontade de manter a eficiência das suas missões diplomáticas, a sua boa reputação e solidez das suas relações com todos os Estados, incluindo Portugal", e "confirma a colaboração com as autoridades portuguesas e com a equipa da embaixada do Iraque em Lisboa para tomar as medidas necessárias em relação à acusação".
A Procuradoria-Geral da República anunciou na quinta-feira a abertura de um inquérito do Ministério Público ao caso do rapaz português de 15 anos gravemente espancado na madrugada da véspera. O jovem foi abalroado pelo carro dos dois suspeitos e depois agredido. Tudo terá começado com uma rixa à porta de um bar, duas horas antes. A GNR foi chamada nessa altura, mas tudo teria ficado resolvido, ainda à porta do bar, segundo disse ao PÚBLICO na semana passada o major Marco Cruz.
O rapaz ficou desfigurado e com um traumatismo crânio-encefálico, como informou ao PÚBLICO o comandante dos Bombeiros Voluntários de Ponte de Sor, Simão Velez, tendo sido transportado de urgência num helicóptero do INEM para o Hospital Santa Maria, onde permanece em coma induzido. O traumatismo crânio-encefálico é descrito como uma agressão ao cérebro causada por agressão física externa.
O Ministério dos Negócios Estrangeiros português aguarda a conclusão do inquérito e entrega do relatório para iniciar diligências formais junto das autoridades iraquianas, o que poderá acontecer em breve. O ministro Augusto Santos Silva considerou, numa entrevista ao PÚBLICO, a hipótese de pedir ao Iraque o levantamento da imunidade diplomática dos dois suspeitos. Outro cenário não excluído é o de o Estado português declarar o embaixador persona non grata, o que levaria à sua substituição na missão diplomática do Iraque em Lisboa.