Rebelião anuncia ter quebrado cerco militar ao Leste de Alepo

Exército da Conquista diz ter tomado zona no sudoeste da cidade, um avanço que a consolidar-se poderia deixar sitiadas zonas controladas pelo Exército. Mais de 700 combatentes morreram na última semana, diz Observatório

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Combatentes da aliança rebelde entraram em duas bases militares no sudoeste da cidade Ammar Abdullah/Reuters

O rumo da guerra na Síria está em muito – ou quase tudo – dependente da batalha que se trava em Alepo e, por isso, nenhum dos dois lados poupará qualquer esforço, qualquer vida ou qualquer risco para evitar a derrota.

Neste sábado, seis dias depois de ter lançado uma violenta contra-ofensiva, a aliança que junta milícias islamistas e jihadistas anunciou ter rompido o cerco que o Exército de Bashar al-Assad impôs aos bairros sob controlo da oposição. Uma manobra que, a ser consolidada, poderia deixar isolada a metade Oeste de Alepo, nas mãos das forças leais ao Presidente sírio.

Os combates são ferozes, impedindo a confirmação independente das notícias que chegam da frente, na periferia a sudoeste do centro da cidade. Mas o Observatório Sírio dos Direitos Humanos, que conta com uma rede de activistas no país, adiantou que os combatentes do Exército da Conquista, que avançam vindos do Sul, tinham conseguido estabelecer “contacto directo” com os rebeldes sitiados na metade Leste da cidade.

A confirmar-se, trata-se da primeira brecha no cerco militar às zonas controladas pela oposição desde que, a 17 de Julho, o Exército sírio, com o apoio da aviação russa, se apoderou da estrada de Castello, a última via que ligava os bairros rebeldes ao resto da província e, daí, à fronteira com a Turquia.

Horas antes, quer a coligação que agrega os partidos da oposição no exílio, quer a Frente Fateh al-Sham (o nome adoptado pela Al-Nusra após se ter desligado oficialmente da Al-Qaeda) garantiam que o cerco tinha começado a esboroar-se. Os jihadistas asseguravam mesmo ter tomado parte do bairro de Ramoussa, na linha da frente da ofensiva que lançaram a 31 de Julho.

O Observatório é mais cauteloso, dizendo que os avanços das últimas horas não foram ainda suficientes para estabelecer um “corredor seguro” entre os dois territórios controlados pela oposição – os bairros do Leste de Alepo e o território a oeste da grande cidade. Por seu lado, a televisão estatal noticiou, ao início da noite, que o Exército reconquistara várias posições, incluindo a Academia de Artilharia e parte da Academia de Armamento, onde os jihadistas entraram na sexta-feira à noite, usando carros armadilhados e bombistas-suicidas para derrubar os muros – durante o dia, vários soldados fizeram-se fotografar dentro das duas bases, apesar dos combates violentos que decorriam em redor.

Garantir o controlo daquelas bases e do bairro de Ramoussa faria mais do que livrar as 250 mil pessoas que vivem nas zonas rebeldes da ameaça do cerco e da fome. Permitiria aos combatentes cortar as linhas de abastecimento do regime, cercando a metade ocidental da cidade, desde 2013 em poder dos militares sírios e onde, apesar do acosso dos rockets da rebelião, vive ainda um milhão de pessoas.

Festejos curtos

“É claro que tenho confiança no Exército, mas isso não me impede de ter medo. O preço dos alimentos já começou a subir e os próximos dias arriscam-se a ser difíceis. Começamos a perguntar como poderemos sair daqui”, disse à AFP um professor de 34 anos. Outro jornalista da mesma agência contou que, nos bairros do Leste, a notícia dos avanços foi celebrada do alto das mesquitas. Uma testemunha contou à Reuters, no entanto, que os festejos só duraram até que apareceram nos céus os primeiros aviões militares.

Nem o Exército nem os rebeldes se podem arriscar perder Alepo, que antes da guerra foi a capital económica da Síria e é, desde 2012, o palco da mais decisiva de todas as batalhas do conflito. Por isso, de cada vez que os rebeldes avançam, a aviação russa bombardeia-os sem piedade, abrindo caminho às forças que no terreno lutam por Assad.

Por isso, os 700 combatentes mortos que o Observatório contabilizou na batalha da última semana, 200 dos quais só neste sábado. Por isso, chovem rockets nas zonas controladas pelo Governo e bombas nos bairros do Leste – mais de 130 civis morreram desde 31 de Junho, a maioria na metade ocidental da cidade. “Já me comecei a preparar para o facto de a batalha de Alepo poder ser muito longa”, contou ao jornal francês Le Monde Hamza al-Khatib, director do hospital de Al-Quds, onde todos os dias são tratados “cerca de 50 pessoas feridas” nos ataques da aviação russa e síria.

Também na província de Alepo, mas na frente de um conflito diferente, as Forças Democráticas Sírias (SDF) – uma coligação de milícias curdas e árabes criada com o apoio dos Estados Unidos – anunciaram a tomada de Manbij aos jihadistas do Estado Islâmico, encerrando uma importante etapa da ofensiva desencadeada há dois meses.

Situada no corredor que liga Raqqa, no Leste da Síria, à fronteira com a Turquia, Manbij é um posto estratégico para o abastecimento da cidade que os jihadistas proclamaram como capital do seu "califado". Conquistá-la ajudará isolar Raqqa, há quase dois anos debaixo dos bombardeamentos dos aviões da coligação liderada pelos EUA.

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