No Rio de Janeiro para os Jogos Olímpicos, é como se Marcelo jogasse em casa

Marcelo Rebelo de Sousa dá sorte? No Brasil, ele lembrou que a sua Presidência tem sido marcada por sucessos desportivos portugueses. Razão para esperar medalhas olímpicas - sem querer pressionar ninguém.

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Marcelo esteve no navio-escola Sagres, no Rio de Janeiro Rui Ochôa/Presidência da República

Uma jornalista brasileira pergunta como se diz em Portugal quando uma pessoa dá sorte. “Aqui é pé quente”, informou. Na verdade, a pergunta que ela queria mesmo fazer veio a seguir: “O Presidente Marcelo é pé quente?” O velejador João Rodrigues, o atleta português com mais participações olímpicas, ri-se. “Ele é tão carismático e tão querido do povo português que a sua presença aqui só torna isto tudo mais feliz e faz-nos sentir que Portugal está connosco.”

Na zona portuária do Rio de Janeiro, a manhã estava cinzenta e ameaçou chuva, mas o Presidente Marcelo deve ter dado sorte mesmo, porque o céu segurou.

Na sua primeira visita ao Brasil enquanto chefe de Estado português, Marcelo Rebelo de Sousa irá assistir à cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos no estádio do Maracanã, na sexta-feira à noite, e ao jogo entre Portugal e Argentina um dia antes. Ninguém lhe perguntou se era pé quente, mas um jornalista desportivo apontou a coincidência de o início da Presidência de Marcelo ter sido marcado por tantos sucessos de atletas e equipas portuguesas. “Eu devo dizer que me considero um Presidente feliz em vários aspectos, um deles é o desportivo”, disse Marcelo, que alguns jornalistas continuam a tratar como “professor”. “É uma razão mais para esperar – sem com isso estar a fazer pressão muito elevada sobre os atletas – que estas Olimpíadas possam também confirmar sucessos desportivos portugueses em terras do Brasil.”

Marcelo falou num convés português. O navio-escola Sagres, fragata da Marinha, chegou ao Rio de Janeiro na quarta-feira de manhã, pontualmente, depois de 39 dias de viagem, trazendo a bordo a bandeira nacional que será usada pela delegação olímpica portuguesa na cerimónia inaugural dos Jogos. A bandeira, dobrada, foi entregue de bandeja a Marcelo Rebelo de Sousa por um oficial da Marinha e por Joana Pratas, a primeira e mais jovem velejadora feminina portuguesa a participar nos Jogos Olímpicos (Atlanta, Sydney e Atenas). Joana Pratas também foi a única mulher civil a fazer a travessia atlântica a bordo do navio Sagres, o que não é o mesmo que velejar. “Eu estava habituada a ver terra. Aqui passei vários dias sem ver terra”, diz.

Marcelo recebeu a bandeira e encostou-a ao peito, junto do coração, antes de entregá-la ao velejador João Rodrigues, porta-estandarte de Portugal nos Jogos Olímpicos. Houve palmas tímidas, e ouviu-se o hino de Portugal.

O navio-escola Sagres ancorou no cais da Ilha das Cobras, cortesia da Marinha brasileira, que ali tem o seu maior estaleiro naval. “Estamos aqui para isso, nós somos irmãos”, disse ao PÚBLICO Ronito Flores, chefe do departamento de segurança do arsenal da Marinha do Rio de Janeiro e capitão-de-mar-e-guerra na reserva. “A gente fica meio longe, mas não faz mal.”

Marcelo Rebelo de Sousa não poupou elogios ao Brasil, apesar de uma turbulenta contagem decrescente para os Jogos Olímpicos ter transmitido a imagem de um país com múltiplas crises, mergulhado no caos. “O Brasil superou as expectativas, ultrapassou as dúvidas e está a transformar estas Olimpíadas num momento inesquecível”, disse aos jornalistas. É uma felicidade para mim poder testemunhar um momento como este. Há muitas Olimpíadas, mas há só uma Olimpíada no Brasil.” Milhões de portugueses e brasileiros e luso-brasileiros e brasileiros irão vibrar a uma só voz, garantiu.

O Presidente da República sentia-se em casa, até por motivos pessoais. “Não há uma geração na minha família que não tenha vivido no Brasil. Meu avô, meus pais e meu irmão viveram no Brasil. O meu filho vive no Brasil, todos os meus netos vivem no Brasil. Por um lado tenho quatro netos portugueses que são descendentes em linha directa do rei D. João VI, que foi tão importante na construção do Brasil [D. João VI refugiou-se no Brasil devido às invasões napoleónicas e transformou o Rio na capital do reino português]. E tenho uma neta brasileira. Não é possível ser-se mais luso-brasileiro.”

Sem comentários

Questionado sobre a crise política no Brasil, onde a Presidente Dilma Rousseff foi afastada pelo Congresso num polémico processo de impeachment e a legitimidade do governo interino que tomou o seu lugar é posta em causa, Marcelo respondeu diplomaticamente. “Um chefe de Estado português não formula juízos sobre a política interna de outros Estados, menos ainda um Estado-irmão. Aquilo que deseja permanentemente é que esse Estado-irmão seja feliz na sua democracia, como Portugal quer ser feliz na sua democracia.” O Presidente português participará numa recepção oficial na sexta-feira oferecida pelo Presidente interino brasileiro, Michel Temer – ex-professor de direito constitucional, como Marcelo – a chefes de Estados estrangeiros que vieram para a cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos. A assessoria de imprensa da Presidência da República garante que a visita oficial de Marcelo ao Brasil não tem qualquer carácter político e que se limita aos Jogos Olímpicos, ao contacto com a comunidade portuguesa e a encontros com empresários portugueses baseados no Brasil.

O navio-escola Sagres permanecerá no Rio, próximo da renovada Praça Mauá, até ao final dos Jogos Olímpicos, a 21 de Agosto. Durante este período ele servirá como a Casa de Portugal, uma espécie de embaixada aberta ao público com a missão de promover a cultura, gastronomia e produtos nacionais durante as Olimpíadas. Estão previstas actividades diárias e visitas regulares de atletas da delegação portuguesa, segundo o Comité Olímpico de Portugal.

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