Luciana Diniz no país onde nasceu para saltar pelo país do seu avô

A cavaleira luso-brasileira é a única representante portuguesa no programa equestre dos Jogos Olímpicos e assume a luta por uma medalha.

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Luciana Diniz em acção nos Jogos de Londres MIKE HUTCHINGS/Reuters

Portugal tem tradição olímpica no desporto equestre. Depois do atletismo e da vela, é a terceira modalidade que mais contribuiu para o medalheiro lusitano - três medalhas de bronze, todas por equipas, em Paris 1924 (a primeira medalha portuguesa nos Jogos), Berlim 1936 (a segunda) e Londres 1948. E mais nenhuma nas décadas que se seguiram. Sessenta e oito anos depois, Luciana Diniz vai tentar mudar a história no Rio de Janeiro. Os lugares do topo não ficaram longe em Londres 2012 e a cavaleira luso-brasileira volta a assumir a luta pelas medalhas. Não com o “Lennox”, que a acompanhou na capital britânica, mas com a “Fit for Fun”, a égua com quem tem formado uma das melhores duplas do circuito nos últimos anos.

“É um sonho que eu tenho desde criança. É para isso que eu tenho trabalhado todos estes anos. Estou numa excelente fase desportiva da minha vida”, diz ao PÚBLICO por telefone a cavaleira de 45 anos que compete por Portugal desde 2006. Os Jogos do Rio serão os seus terceiros, depois de 2004, pelo país onde nasceu, e de 2012, pelo país do seu avô. Em Atenas, não passou à final na prova individual de saltos e integrou a equipa brasileira que ficou em 9.º na prova colectiva.

Em Londres, foi a única portuguesa na prova de saltos, chegou à final e ficou num 17.º lugar de sabor muito amargo. O pé de Luciana saltou do estribo na parte final da prova e a dupla acabou por derrubar dois dos três últimos obstáculos. Não tivesse acontecido este percalço e Luciana provavelmente estaria no Rio a defender uma medalha olímpica. “Naquele ano estava numa fase boa, o cavalo estava bem, mas depois perdi o pé no estribo. É uma coisa que nunca tinha acontecido. É difícil de explicar”, recorda a cavaleira, que, na altura, assumiu o erro e não culpou o Lennox.

Quatro anos depois, Luciana vai estar no Rio com a “Fit for Fun”, uma égua de 12 anos, que a cavaleira diz ser a sua “menina bonita”. “É um cavalo muito forte, tenho muito amor por ela. Somos uma equipa muito forte e temos energia para saltar o mundo inteiro”, diz Luciana. No desporto equestre, a simbiose entre cavaleiro e cavalo é tudo e percebe-se que Luciana tem uma relação especial com a “Fitty” e com todos os outros cavalos com quem tem competido. Não é por acaso que no seu site oficial a “Fitty”, o “Lennox”, o “Winningmood” e outros aparecem numa secção a que chama “Os meus amigos”.

Portuguesa na altura certa

Luciana Diniz é de São Paulo, mas esta ida ao Rio também tem sabor de regresso a casa. “Ganhei muitas provas no Rio enquanto era júnior. E vou ter lá a família toda a assistir”, conta Luciana, que está no desporto equestre por influência familiar. O pai era jogador de polo, a mãe competia na disciplina de ensino (oito vezes campeã brasileira), dois dos irmãos também jogam polo e o outro faz corridas. Tudo começou, no entanto, com o avô português, também ele um apaixonado por cavalos, que deixou uma aldeia de Trás-os-Montes aos 16 anos para tentar uma vida no Brasil.

É pelo avô transmontano que Luciana Diniz compete por Portugal. Pouco antes dos Jogos Olímpicos, foi mesmo à aldeia de origem do avô, com os seus pais, e até falou com alguns primos distantes que o conheceram. Já em Atenas 2004 tinha pensado em mudar de nacionalidade desportiva, mas essa ainda não era a altura certa. “Tenho dois países. O Brasil foi onde nasci, e Portugal é o país da minha família, considero-me mais portuguesa que brasileira. Em 2006 houve a possibilidade de mudar e aconteceu no momento certo. Nunca deixei de ser brasileira, mas sou portuguesa e isso é muito importante para mim. Fui sempre eu que quis mudar. Já em 2004, um treinador suíço, que treinava portugueses, tinha-me perguntado se eu queria mudar”, recorda.

Apesar de não viver no Brasil, a cavaleira sabe bem o que se passa no seu país de origem, entro os tumultos políticos, a crise económica e os problemas em redor da organização dos Jogos. “É triste para todos nós, mesmo para quem não é brasileiro”, lamenta Luciana Diniz, acreditando, no entanto, que os primeiros Jogos na América do Sul irão correr bem: “É como se costuma dizer, o brasileiro dá sempre um jeitinho. Temos de ser positivos.”

Numa modalidade de grande longevidade – o mais velho atleta nos jogos de Londres 2012 era um japonês de 72 anos -, Luciana Diniz, com 45 anos, ainda tem uma história olímpica muito longa pela frente. “Não penso muito nisso. Vou a estes Jogos e aos próximos, em Tóquio. Depois, logo se vê.”

Atleta

Luciana Diniz (3.ª participação), equestre (saltos)

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