Brincar aos espiões
Uma nova adaptação de John Le Carré onde são os actores e a história que salvam o filme do decorativismo.
Um Traidor dos Nossos é o mais recente exemplo da “linha de montagem” da “qualidade britânica” em que se tornaram as adaptações dos romances de John le Carré: bons actores e uma boa história entregues a tarefeiros de segunda linha ou veteranos da televisão. Resulta melhor em alguns casos do que noutros, no do filme de Susanna White nem por isso; a história de um casal londrino que numas férias em Marrocos se vê inesperadamente metido num affaire internacional que envolve um mafioso russo e um espião britânico é muito boa, sobretudo graças à ideia de olhar para os mecanismos cínicos e impessoais da espionagem através dos olhos de gente “normal” que responde à dimensão moral e pessoal de modos muito mais alerta do que os “profissionais”. Mas se era por causa dessa desorientação que Susanna White escolheu filmar com esta profusão de ângulos estranhos e planos esquinados e com a fotografia super-trabalhada de Anthony Dod Mantle, a metáfora torna-se muito patuda muito depressa e fica a sensação de que a realizadora andou a brincar ao modernismo com uma história que precisava de outra secura, mais directa e menos barroca. O que vale é que nem isso dá cabo de uma boa história a que os actores – e sobretudo Damian Lewis e Stellan Skarsgård - fazem inteira justiça.