Entre nós e os exames há tudo menos empatia

São interessantes os momentos em que se apresentam os resultados de qualquer coisa, seja a mostra de uma escultura, fruto do trabalho do escultor, seja o restabelecimento de um doente, graças ao efeito de medicamentos ou aos cuidados de um médico diligente. Em ambos os casos, houve um produto final.

Da mesma forma, a realização de qualquer exame nacional leva a vários resultados, tais como uma folha de prova preenchida ou um exame anulado. São raros, porém, os alunos que fazem o exame nacional e têm consciência do produto final da sua acção, isto é, poucos são os alunos que se lembram das próprias respostas na íntegra. Umas semanas depois da prova, há para cada examinando um número que substitui de forma magicamente sintética o resultado da sua acção. 

Quando uma obra de um escultor é avaliada – e o autor recebe a nota concedida à sua escultura – este sabe como é a sua escultura. E quando um medicamento é avaliado, os farmacêuticos sabem como é o tal medicamento. Ora, quando se lançam as notas dos exames nacionais, poucos sabem concretamente a que é que as notas se referem. O mais que se pode fazer é entrar na burocracia e pedir uma cópia da prova.

Na verdade, os alunos são incentivados a formular uma ideia, ainda que vaga, do que escreveram para que depois confrontem as próprias respostas com os critérios lançados pela autoridade avaliativa. O que se evidenciar deste confronto poderá ser semelhante à nota afixada em pauta. É quase como que um acto de adivinhação: não se sabe bem o que se fez, não se compreende exactamente os critérios de avaliação para o que se fez, mas ainda assim concebe-se uma estimativa de nota, que depois poderá ou não ser correspondida pelas notas reais.

Intensidade, entusiasmo e convicção são atributos que faltam à nossa espera pelo lançamento das notas dos exames nacionais. Para quem não se identifica com o modelo de avaliação proposto, para quem crê na integração do conhecimento na própria identidade, aguardar pelo lançamento das notas surge como um compasso dissonante, que não deveria estar ali.

Está-se então perante um produto final relativamente desconhecido, um número entre números numa pauta, uma memória vaga do que se escreveu. A nota é clara, mas o porquê da nota permanece uma incógnita. Assim, a apresentação dos resultados de qualquer coisa perde algum sentido, pois que ninguém sabe muito bem de que coisa se está a apresentar resulados.

Depois deste ritual dos exames, entendemos que a relação com aquilo a que damos atenção precisa de ser repensada. É necessário criar uma ligação de empatia com o objecto em que estamos concentrados, para que nos enriqueçamos graças e essa relação. Assim, no quotidiano retornamos ao livro da estante por que ansiávamos ler; o Natal em cuja véspera estivemos nervosos faz parte dos natais da nossa vida, a irmã por que esperávamos no hospital trouxe-nos algo surpreendente e indescritível.

Concluiu o 12.º ano na Escola Secundária Camões, em Lisboa

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