Goldman Sachs: Durão regressa a casa

Durão regressa a casa e recebe o magnífico anel de Goldmanista, aprende o passoubem secreto de quem manda no mundo

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Hugo Correia/Reuters

Finalmente a grande notícia: Durão Barroso, ex-líder da oposição, ex-primeiro-ministro português, ex-Cimeirista das Lajes, ex-presidente da Comissão Europeia, foi nomeado Chairman da Goldman Sachs.

Embora se tenha levantado o usual coro de maledicência contra a notícia, invocando potencial conflito de interesses entre a nomeação de Durão e os anteriores cargos e performances desempenhadas ao mais alto nível, com elevado grau de sucesso, a verdade é que, ao contrário do argumento mesquinho de que o desempenho de cargos públicos ao mais alto nível é uma porta-giratória para as grandes empresas privadas, Durão é e sempre foi um homem da Goldman Sachs, que esteve meramente uns anos em comissão de serviço, destacado, vá, em diversas posições públicas de poder (umas mais democraticamente escolhidas do que outras). Pode demonstrar todas as suas qualidades e ainda passar incólume, como ficou patente agora com o relatório sobre a Guerra do Iraque.

Durão regressa a casa e recebe o magnífico anel de Goldmanista, aprende o passoubem secreto de quem manda no mundo. Revê velhos irmãos e conhece novos, porque há mais pessoas que, como Zé Manel Durão, estão ou estiveram em comissão de serviço pela Goldman Sachs por esse mundo fora:

- Mario Draghi, presidente do Banco Central Europeu, ex-Governador do Banco Central de Itália

- Romano Prodi, ex-líder da oposição italiana, ex-primeiro-ministro italiano e ex-Presidente da Comissão Europeia

- Peter Sutherland, ex-Comissário Europeu, Presidente da Organização Mundial do Comércio, “Pai da Globalização”

- Robert Zoellick, ex-presidente do Banco Mundial

- Mark Carney, governador do Banco Central de Inglaterra, ex-Governador do Banco Central do Canadá

- Mario Monti, ex-primeiro-ministro italiano, ex-Comissário Europeu e ex-ministro das Finanças

- Lucas Papademos, ex-primeiro-ministro grego, ex-Governador do Banco Central Grego, actualmente no Banco Central Europeu

- Petros Christodoulos, ex-administrador da Dívida Pública da Grécia

- Carlos Moedas, Comissário Europeu e ex-secretário de Estado responsável pela implementação do programa da troika - João Moreira Rato, ex-administrador da Dívida Pública de Portugal

- Malcolm Turnbull, primeiro-ministro da Austrália

- Ian MacFarlane, ex-governador do Banco Central da Austrália

- Larry Summers, secretário do Tesouro de Bill Clinton

- Robert Rubin, Segundo secretário do Tesouro de Bill Clinton e presidente do Citigroup

- Hank Paulson, secretário do Tesouro de George W. Bush

- Mark Patterson, Chefe de Gabinete do secretário do Tesouro de Obama

- Gary Gensler, administração Obama e actual director financeiro de Hillary Clinton

- Bill Dudley, presidente da Reserva Federal de Nova Iorque

- Duncan Niederauer, presidente da Bolsa de Nova Iorque

- Lord Browne, ex-presidente da BP

- Tito Mboweni, presidente da Reserva Federal da África do Sul

- Ottmar Issing, Banco Central Alemão e Banco Central Europeu

- Olusegun Aganga, ministro do Comércio da Nigéria, ex-ministro das Finanças

Depois de uma juventude conturbada, por entre revolução e revolucionários que lhe não deram o que precisava, a Goldman Sachs oferece-lhe uma mundivisão clara, já longe de utopias igualitárias mas pragmática como pragmático é sempre o saque, especialmente quando bem planeado.

Durão regressa a casa, à Goldman Sachs, na certeza de que vai encontrar muitos amigos de longa data, regressa a casa com um sentimento de dever cumprido: a banca privada está mais desregulada, os produtos financeiros estão mais tóxicos, as dívidas públicas e privadas estão maiores, mais insustentáveis, as privatizações a preços de saldo estão na ordem do dia e o trabalho vale menos, que é a única maneira do capital valer mais. Agora é sentar-se com a sua família e decidir como se dividem os despojos.

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