Sala principal do São Luiz passa a chamar-se Luís Miguel Cintra
O encenador será homenageado esta tarde naquele teatro pela Câmara Municipal de Lisboa.
O actor e encenador Luís Miguel Cintra é homenageado esta tarde, no São Luiz Teatro Municipal, em Lisboa, com a atribuição do seu nome à sala principal desta casa de espectáculos.
A homenagem conta com a presença do presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Fernando Medina, do ministro da Cultura, Luís Castro Mendes, e coincide com a apresentação, naquele teatro, da mais recente encenação de Luís Miguel Cintra, Música, do dramaturgo alemão Frank Wedekind, que se estreou no passado dia 30 e se mantém em cartaz até ao próximo domingo.
A sessão é seguida da conversa A construção de um espectáculo, entre Luís Miguel Cintra e a figurinista e cenógrafa Cristina Guerra, do Teatro da Cornucópia, a professora Maria João Brilhante e José Capela, da companhia mala voadora.
Luís Miguel Cintra nasceu em Madrid, em 1949. Iniciou a sua carreira de actor e encenador de teatro no Grupo de Teatro da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, frequentou a Bristol Old Vic Theatre School, no Reino Unido, e, em 1973, fundou, com o actor, encenador, escritor e cineasta Jorge Silva Melo, o Teatro da Cornucópia, que desde então dirige (agora em parceria com Cristina Reis). Em Outubro do ano passado, invocando razões de saúde (sofre da mesma doença de Parkinson que afectou o seu pai, o filólogo e linguista Lindley Cintra), anunciou o fim da sua carreira de actor após uma representação de Hamlet, peça em que desempenhava um pequeno papel. Dias depois, a Cornucópia esclarecia que a então anunciada despedida dos palcos não punha em causa o trabalho como encenador ou como director da companhia.
A ópera, o cinema e a tradução também fazem parte do "riquíssimo trabalho com que tem contribuído para a cultura da cidade e do país", afirma a Câmara de Lisboa, mentora da homenagem. Luís Miguel Cintra foi um dos mais fiéis e regulares actores de Manoel de Oliveira, mas também filmou com João César Monteiro, Paulo Rocha, João Botelho, Jorge Silva Melo, Christine Laurent, John Malkovitch ou Pedro Costa.
Música, de Frank Wedekind, que o próprio autor definiu como "um estudo de costumes em quatro quadros", data de 1906, e constitui um dos textos "mais violentos", em termos de crítica social, "apesar da sua aparência cómica, ou pelo menos caricatural", como se lê no texto de apresentação, assinado por Luís Miguel Cintra.
Wedekind, "escritor, actor, cantor, anarquista, alcoólico, artista de cabaret", como Cintra o define, autor de Lulu e de O Despertar da Primavera, situa a acção em Munique, a partir do caso verdadeiro de um professor de música que engravidou a sua aluna e a levou a abortar.
"O tema é tratado da forma mais cruel. Por isso a peça foi sempre muito perseguida pela censura", escreve Cintra. Trata da "lei feita por homens, que prendem moral e fisicamente a mulher e para quem as entranhas da mulher são campo aberto para o espírito de iniciativa do sexo masculino", prossegue o encenador. "Como agora sabemos, o problema não é só um problema jurídico", acrescenta. Por isso, a encenação é, sobretudo, "sobre a reinante e assassina hipocrisia".
Traduzida e encenada por Luís Miguel Cintra, Música tem cenário e figurinos de Cristina Reis, e interpretação de Dinis Gomes (professor), Sofia Marques (sua mulher), Rita Cabaço (Klara, estudante de música), Duarte Guimarães (director da prisão), Luísa Cruz (vigilante).