Realizados mais de dez mil testes a VIH e sífilis junto de população vulnerável
Esmagadora maioria nunca tinha feito testes para detectar hepatites B e C e sífilis. A Rede de Rastreio Comunitário pretende aumentar o número de rastreios em todo o país.
Mais de 6000 testes ao VIH/sida e mais de 4400 à sífilis foram realizados gratuitamente entre agosto do ano passado e Março deste ano ao abrigo do projecto "Rede de Rastreio Comunitário" junto de populações potencialmente mais afectadas.
Promovida pelo Grupo de Activistas sobre Tratamentos VIH/sida (GAT), a Rede de Rastreio Comunitário pretende promover o diagnóstico precoce do VIH/sida, hepatites virais e outras doenças sexualmente transmissíveis junto de populações mais afectadas (prostitutas, consumidores de droga, migrantes) e dá a conhecer esta sexta-feira os resultados finais do projecto.
Os diagnósticos são conseguidos através de um sistema de rastreio em contextos não formais de saúde, assegurando a referenciação para o Serviço Nacional de Saúde (SNS) de todas as pessoas com resultados reactivos.
De acordo com os resultados dos rastreios, a que a Lusa teve acesso, no total, entre agosto de 2015 e Abril deste ano foram feitos 6.046 testes ao VIH, dos quais 118 (2,2%) tiveram resultado reactivo. Destes, 79,7% aceitaram a referenciação proposta pela organização.
Na sífilis foram feitos 4.416 testes, 4,2% (160) deles deram resultado reactivo, tendo sido encaminhados para referenciação 76,3%.
No caso das hepatites, realizaram-se mais de 5.255 testes, 2.951 para o vírus da hepatite C e 2129 para a hepatite B, dos quais foram reactivos 1,9% e 2,1%, e referenciados 80,8% e 84,1%, respectivamente.
No âmbito da realização dos testes, todos os utentes com mais de 18 anos foram convidados a responder a um questionário com informação sociodemográfica e comportamental, tendo respondido 2766 utentes (1699 homens 1044 mulheres e 23 mulheres transgénero, sendo a faixa dos 24 aos 35 anos a mais representada.
No que respeita às habilitações literárias, 22,8% tinham o 2.º ciclo do ensino básico ou menos, 29,1% completaram o ensino secundário e pouco menos de 30% tinham o ensino superior.
Quase dois terços nasceram em Portugal, sendo que dos restantes, 14,7% tinham nascido num país africano, maioritariamente de língua oficial portuguesa, 8,9% no Brasil e 6% em países europeus.
Quanto ao uso de preservativo nos 12 meses anteriores e na última relação sexual, 58% referiram terem usado este contraceptivo (19,1% e 38,9%, respectivamente).
Dos 315 (13,8%) inquiridos que tiveram relações sexuais a troco de dinheiro ou bens, 49 (19%) admitiram não ter usado sempre preservativo.
Quanto a testes anteriores realizados para detectar a presença de infecções, 42,7% dos inquiridos disseram nunca ter feito um teste ao VIH e entre os que o realizaram, 28,6% fizeram-no antes de 2015.
No que respeita às hepatites B e C, 75,4% e 78,4%, respectivamente, nunca tinham realizado testes de detecção da doença. Dos que tinham realizado, 12% e 13,5% tinham-no feito antes de 2015.
Relativamente à Sífilis, os números são ainda mais gritantes, com 88,6% dos inquiridos a assumir nunca ter feito este teste e entre aqueles que referiram já ter realizado o rastreio, 3,7% fizeram-no antes de 2015.
Este projecto pretende manter e expandir a Rede até Julho deste ano, tendo actualmente mais de 20 pontos de rastreio em todo o país para a hepatite C, B e sífilis, e testes rápidos do VIH/sida (com resultados em um minuto) disponíveis em todas as organizações que aderiram à Rede.
No final do mês de Abril, a rede contava com a participação de 16 organizações com actuação de Norte a Sul do litoral do país, tendo sido formados para a realização do rastreio 65 técnicos.