Casa do Design abre em Matosinhos para preservar a tradição – e reinventá-la

Inauguração esta quinta-feira com a exposição BURILADA | Arte-factos para a sobrevivência.

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ADRIANO MIRANDA
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Não é a primeira vez que se reconhece à antiga garagem de automóveis do edifício da Câmara de Matosinhos o propósito de equipamento dedicado às artes. Intermitentemente acolheu uma série de exposições das mais diversas áreas. Em 2015, com a descentralização da Experimenta Design, que saltou as fronteiras da capital para se alargar até ao Grande Porto, serviu de base para a exposição Desejo, Tensão, Transição – Percursos do Design Português, uma espécie de preliminar para a etapa que agora se inicia. Esta quinta-feira abre portas como sede da Casa do Design, uma vontade antiga da autarquia que, em parceria com a Escola Superior de Artes e Design (ESAD), vai gerir o espaço. A abertura faz-se com a exposição BURILADA

Arte-factos para a sobrevivência, apresentada esta terça-feira à imprensa.

O processo de criação da Casa do Design terá como ponto de partida a fundação da ESAD. Não como ideia pensada há cerca de duas décadas, quando a escola abriu, mas como consequência colateral do seu funcionamento. De acordo com o vereador da cultura, Fernando Rocha, a “projecção” que esta faculdade “foi ganhando” reforça a ideia de que “este não é um projecto que nasce de geração espontânea”. A vinculação ao espaço geográfico onde a escola se insere deu origem a outros projectos, como A QUADRA - Incubadora de Design, que em 2014 ocupou o mercado de Matosinhos e que se estenderá até Brito Capelo, ao antigo edifício da Caixa Geral de Depósitos, recentemente recuperado para albergar a sede da ESAD IDEA – Investigação em Design e Arte. É através deste ramo, direccionado para a investigação, que a ESAD dividirá, com a Câmara, a gestão da Casa do Design. Todo este percurso, “que foi sendo traçado”, culmina, diz Fernando Rocha, na materialização de um “todo consolidado” em torno do design, que agora, com a abertura deste equipamento, constitui um dos argumentos de peso para o já anunciado processo de candidatura de Matosinhos à Rede de Cidades Criativas da UNESCO, apresentada recentemente na Trienal de Milão.

Para o director científico da ESAD IDEA, José Bártolo, também responsável pela programação da Casa do Design, este espaço tem de ser pensado além da sua esperada funcionalidade enquanto museu: “Este não é apenas um espaço de exposições nem é um espaço isolado." Paralelamente às exposições mais longas, define como meta a criação de uma plataforma capaz de responder às necessidades das marcas, sobretudo as tradicionais, no sentido da sua “actualização”, nomeadamente conjugando a modernidade com produtos do artesanato nacional. A Casa do Design terá também a sua própria colecção e o seu catálogo, sendo que os artigos estarão disponíveis num espaço-loja a ser criado. Para que esta linha de montagem possa funcionar, considera essencial “criar ligações com outras instituições de ensino" no sentido de trabalhar "os espólios”.

Maria Milano, também da ESAD IDEA, reforça a ideia de que este será “um espaço dinâmico”, que terá como matriz “a cultura do projecto” e reflectirá o design nacional de uma forma “não auto-centrada”. Sublinha a “dimensão humanista” da conjugação do design com outras áreas artísticas, não esquecendo a sua relação com os artesãos e criadores. De resto, a programação da Casa do Design passará, sobretudo, por exposições que suscitem reflexão e debate sobre a cultura do design contemporâneo, tendo em conta a “recolha e preservação do legado histórico”.

E é justamente nessa base de preservação e reinvenção do legado histórico que a primeira exposição,

BURILADA

Arte-factos para a sobrevivência, assenta. Com curadoria de Francisco Providência  e Helena Sofia Silva, apresenta, até 30 de Novembro, um conjunto de objectos de design (do mobiliário ao vestuário, dos acessórios à decoração) que se constituem como agentes de reconfiguração de cultura material no Portugal contemporâneo. Ainda em processo de montagem, não foi possível ter uma percepção geral dos seis núcleos que a compõem, e que se dividem por seis pontos-guia: gestão, produção, investigação, conservação, reinvenção e demonstração. As peças expostas, organizadas segundo geometrias e geografias, dar-se-ão a ver acompanhadas de murais com imagens que ilustram a sua manufactura. De acordo com a descrição dos curadores, “resgatam saberes e identidades, reanimam economias, revalidam materiais e repensam funções”. Como exemplo, há o caso da lã de Bucos, de Cabeceiras de Basto, reinterpretada por Helena Cardoso em peças contemporâneas. Ou a filigrana da Póvoa do Lanhoso, o burel de Manteigas, a cortiça, os bordados do Minho e a olaria de São Pedro do Corval, em versões alternativas propostas pelos designers representados, e entre os quais estão Gonçalo Prudêncio, André da Loba, Madalena Martins, Filipe Faísca, Estelita Mendonça ou Maria Gambina.

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