Pela primeira vez, a Experimenta é uma bienal de três cidades – Lisboa, Porto e Matosinhos

As far as the mind can see, design português em destaque, um olhar sobre África e exposições exclusivas para cada cidade a partir de 12 de Novembro.

Fotogaleria
Trabalho comissionado para As Far As The Eye Can't See Alejandro Magallanes
Fotogaleria
From Hands To Mind é a exposição dedicada ao design made in África DR
Fotogaleria
Trabalho comissionado para As Far As The Mind Can See Milton Glaser
Fotogaleria
Trabalho comissionado para As Far As The Mind Can See Ricardo Leite
Fotogaleria
Trabalho comissionado para As Far As The Eye Can't See Jianping He
Fotogaleria
Um exemplar de Underground Images – School of Visual Arts Subway Posters, DR
Fotogaleria
Uma das peças em Desejo, Tensão, Transição DR

A 9.ª edição da Experimenta Design vai estar em Lisboa, mas também em Matosinhos e no Porto. Num movimento que a organização descreve como de “descentralização”, e apoiando-se em autarquias com forte concentração do tecido empresarial e do ensino de design, inaugura-se na Área Metropolitana do Porto a 12 de Novembro com foco nos designers portugueses. Depois, e sempre sob o tema As far as the mind can see, em Lisboa, olhará ainda para África e falará com designers que criam imagens com David Bowie, que apostam tudo no poster ou trabalham a tipografia persa moderna.

Depois de na edição de 2013 da bienal o foco estar no colectivo e nos territórios com o tema No Borders, a Experimenta quis “perceber como é que, no século XXI, na disciplina do design e nas disciplinas de projecto, cada um de nós pode contribuir para uma alteração dos paradigmas”, explicou na manhã de segunda-feira em Lisboa Guta Moura Guedes, presidente da ExperimentaDesign. São quatro grandes exposições entre as três cidades e conferencistas “com forte pendor político” no seu trabalho que viajam entre Lisboa e Porto.

Vêm às Conferências de Lisboa o iraniano Reza Abedini e a sua tipografia persa moderna usada no design gráfico, o croata-bósnio Mirko Ilic, ilustrador, autor de comics e designer com créditos na imprensa e nas identidades gráficas de várias marcas e o britânico Jonathan Barnbrook com colaboradores como a Adbusters, o artista plástico Damien Hirst e David Bowie (a campanha do último álbum é sua). Juntam-se-lhes o cipriota especializado em luz com uma perninha nas artes Michael Anastassiades (representado nas colecções do MoMA ou do Victoria Albert) e, last but not least, o bielorusso Peter Bankov, para quem os posters “são o género mais interessante no design gráfico moderno”. 

As conferências têm entrada livre, nas tardes dos dias 13 e 14 de Novembro em Lisboa entre o Museu Nacional dos Coches e a Faculdade de Belas-Artes, e depois, no encerramento do evento, a 12 de Dezembro, estarão no Porto. Um dos conferencistas, Mirko Ilic, é também comissário de uma das quatro principais mostras desta edição, a única que faz com que Norte e Centro se toquem na geografia desta Experimenta Design: As Far as the Mind Can See está desde dia 12 de Novembro no Palácio dos Correios do Porto e a sua irmã As Far as the Eye Can´t See assentará no Picadeiro Real do Museu Nacional dos Coches. Ambas até 20 de Dezembro, têm como fito mostrar mais de 60 trabalhos de 28 designers de comunicação de todo o mundo que respondem ao briefing dos comissários (Ilic e os portugueses Marco Balesteros e João Castro): ou produzem obras sobre a relação do indivíduo, da mente e da criatividade ou peças de comunicação sobre como transmitir o tema ao público.

Mas é Desejo, Tensão, Transição – Percursos do Design Português, na Galeria Nave, na Câmara Municipal de Matosinhos a exposição “com carácter mais ambicioso” por reunir “tantos protagonistas nacionais” num olhar ao longo de cem anos sobre o design português, categoriza Guta Moura Guedes. Dos 268 participantes da bienal em 2015, 218 são portugueses, espalhando-se os restantes por 21 países. José Bártolo, professor e investigador da Escola Superior de Artes e Design de Matosinhos, é o curador geral da mostra que quer contar uma ou as muitas histórias do design português através de 16 módulos ou momentos – mostrar projectos contemporâneos ou geometrias das cores, usando trabalhos de vários designers, produtos recentes da Vista Alegre ou exemplares que contam a evolução da cerâmica portuguesa, peças de mobiliário da Fábrica Olaio, cadeiras e assentos vários, relações entre design e o Estado Novo, logotipos, tipos de letra ou mesmo o desenho humorístico. Está no novo espaço de Matosinhos até 12 de Março de 2016.

Em Lisboa, a Experimenta terá novamente como centro a zona de Belém e é de lá, e do Torreão Poente da Cordoaria, que se vai começar, porque o projecto de investigação está apenas no início, a perguntar e a experienciar “o que é o design em África?”. From Hands to Mind está desde 14 de Novembro até Dezembro num formato que não é a exposição convencional, diz Guta Moura Guedes, mas sim o que os comissários chamam “espaço vivencial de passagem de informação”. Haverá designers presentes e reflexão sobre a artesania nos primeiros três países do projecto da angolana Paula Nascimento e do italiano Stefano Rabolli Pansera (os Beyond Entropy) – São Tomé e Príncipe, Angola e Moçambique.

1,8 milhões para a bienal

“Pela primeira vez”, a bienal está “não só em Lisboa mas em três cidades”, sublinhou Guta Moura Guedes, ladeada pelos vereadores da Cultura das câmaras de Lisboa, Porto e Matosinhos – Catarina Vaz Pinto (o Norte “tem muitas fábricas, muita produção”), Paulo Cunha e Silva (“um projecto triangular bastante interessante”) e Fernando Rocha (para cuja autarquia o design “é uma área estratégica”). A expansão geográfica alterou os protocolos sobre os quais, entre 2009 e 2013, operava a organização da bienal. De uma articulação com as tutelas da Cultura e da Economia e Câmara de Lisboa, passou-se para protocolos individuais com as três autarquias e intervenientes governamentais, e, diz Guta Moura Guedes, para um orçamento em que o financiamento público era “de 35%” para uma “redução da ligação da bienal ao investimento público, que agora é de cerca de 30%”.

O orçamento, que categoriza como de “contenção”, é de 1,8 milhões de euros para edição bienal, em contraste com os 2,6 milhões de 2009, mas em ligeira subida em relação aos 1,6 milhões da última edição, em 2013. A Associação ExperimentaDesign organiza a bienal e em 2013 foi publicamente questionada a sua sustentabilidade e dívidas a funcionários. Na altura, segundo disse Guta Moura Guedes à revista Visão o seu passivo era de 350 mil euros. No momento há “uma recuperação muito boa do passivo”, disse ao PÚBLICO. Mas não precisa números, exemplificando que a “prestação de serviços de consultoria” e o reforço da “componente mais empresarial” da associação estará a contribuir para o seu equilíbrio.

Entre os 45 eventos, dos quais 27 exposições “Tangenciais”, há ainda as Open Talks, que passam a ser focadas nos temas das exposições e com os seus comissários como interlocutores do público que acorrer ao Teatro Nacional São Carlos, em Lisboa, e o Serviço Educativo terá cursos, laboratórios e workshops para “jovens adultos ou agentes no terreno”, diz Moura Guedes, sobre áreas do design - gratuitos ou pagos.

Na Experimenta e em Lisboa, mostram-se ainda Underground Images – School of Visual Arts Subway Posters, 1847 to the Present, integrada nos Projectos Especiais da bienal. Com base no Lounging Space do evento – no Palácio do Príncipe Real -, a exposição tem cerca de 50 cartazes da autoria de 29 professores da conceituada School of Visual Arts de Nova Iorque. São posters que integram colecções de importantes museus como o Metropolitan ou o MoMA e que há 60 fazem a publicidade da escola no metro de Nova Iorque, mas que também passaram a ser uma tentativa de iluminar as viagens rotineiras para o trabalho de milhões de pessoas.

Sugerir correcção
Comentar